Seguindo o ponto anterior, que nos leva à proximidade ao local da morte de Jesus, verificamos que outros dos símbolos mais presentes a imagética em torno de Maria madalena é o crucifixo. E estamos a falar, quer dos pequenos e portáteis crucifixos, quer da cruz onde Jesus foi crucificado.
De facto, este signo transporta-nos para uma complexa forma de compreensão do tempo. Se, por um lado, a imagem da santa a contemplar ou a orar junto a um crucifixo, nos remete para a sua fase de recolhimento, de busca das tais lágrimas, de arrependimento após a morte do seu Cristo, por outro, a representação da própria cena da morte de Jesus leva-nos para uma dimensão muito mais próxima dos Evangelhos, muito ligada ao próprio Jesus.
Mas, aprofundemos esta ligeira diferença. Se a Maria Madalena retractada junto a um normal crucifixo nos mostra aquela que poderia ser uma normal mulher numa corrente e em nada excepcional atitude de piedade, a visualização junto do Jesus moribundo remete-nos para o peso incontornável da santa na narrativa da morte e ressurreição de Cristo. São duas as Marias Madalenas em causa: uma é a normal mulher arrependida (simplesmente arrependida porque é mulher, uma contínua continuidade de Eva), a outra é a excepcionalmente próxima de Jesus. Num mesmo símbolo duas leituras radicalmente diferentes, mas ambas válidas e integradas nas tradições cristãs.
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