1. Segundo um conto judaico, um
rabino fez a Deus o seguinte pedido: ”Deixa-me ir dar uma vista de
olhos pelo céu e pelo inferno”. O pedido foi aceite e Deus
enviou-lhe o profeta Elias, como guia.
O profeta levou o rabino a uma
grande sala. No centro ardia um fogo que aquecia uma panela enorme,
com um guisado que enchia o espaço com o seu aroma.
À volta deste apetitoso manjar
estava reunida uma multidão com uma grande colher na mão. Apesar
disso, viam-se as pessoas esfomeadas, macilentas, sem forças, a
cair.
As colheres eram mais compridas do
que os seus braços, de tal modo que não as conseguiam levar à boca.
Tristes, desejosas e em silêncio, de olhar perdido.
O rabino, espantado e comovido,
pediu para sair desse lugar espectral. De inferno já tinha visto o
suficiente.
O profeta levou-o então a outra
sala. Ou talvez fosse a mesma. Tudo parecia exactamente igual: a
panela ao lume, com apetitosas iguarias, a gente à volta com grandes
colheres na mão. Via-se que estavam todas a comer com gosto,
alegres, com saúde, cheias de vida. A conversa e as gargalhadas
enchiam a sala. Isto tinha que ser o paraíso! Mas, como é que tinham
conseguido uma tal transformação?
As pessoas tinham-se voltado
umas para as outras e usavam a enorme colher para levar comida a
quem estava à sua frente, procurando que a outra ficasse satisfeita
e assim acabavam por ficar todas bem!
2. Foi notícia a festa de arromba
que um empresário ofereceu, em Loures, para celebrar os 15 anos da
sua filha. Transportada antes em limousine e depois, em helicóptero,
a partir de Algés. A brincadeira terá ultrapassado os duzentos mil
euros. Apesar de tudo muito mais barata do que o jacto de Ronaldo.
Não se pode dizer que vivem acima das suas possibilidades. A
propriedade privada é sagrada.
John Magufuli, de 56 anos,
Presidente da Tanzânia desde 5 de Novembro, já anda na boca das
pessoas. É conhecido por Bulldozer pelas mudanças radicais
que introduziu no país.
Pela primeira vez em 54 anos, a
Tanzânia não vai celebrar oficialmente o dia da Independência,
porque Magufuli defende ser “vergonhoso” gastar rios de dinheiro nas
celebrações quando o nosso povo está a morrer de cólera. Só
nos últimos três meses vitimou, pelo menos, 60 pessoas. Acabaram-se
as viagens dos governantes ao estrageiro. As embaixadas deverão
tratar dos assuntos que lhes competem. Se for necessário viajar,
terá de pedir uma licença especial ao Presidente ou ao seu Chefe de
Gabinete. Em 1ª classe e executiva só o Presidente, o
Vice-Presidente e o Primeiro-Ministro. Acabaram-se os workshops e
seminários em hotéis caros, quando há tantas salas de ministérios
vazias.
O Presidente Magufuli perguntou por
que motivo os engenheiros recebem modelos de carro topo de gama, se
as carrinhas são mais práticas para o seu trabalho. Acabaram-se os
subsídios. Por que motivo são pagos subsídios se vocês recebem
salários; aplicável também aos parlamentares. Todos os indivíduos,
ou empresas, que tenham comprado empresas do Estado, que foram
privatizadas, mas não fizeram nada com elas, passados 20 anos, ou as
fazem recuperar imediatamente ou devem-nas devolver.
John Magufuli cortou o orçamento da
inauguração do novo Parlamento. De 100 mil dólares passou para 7
mil.
3. Tem um precedente na América
Latina, José Mujica. O ex-guerrilheiro, conhecido como o presidente
mais pobre do mundo devido ao seu estilo de vida, deixou o poder a 1
de Março.
Uma chácara, nos arredores de
Montevideu, um VW Carocha de 1987 e três tractores. Esta é toda a
riqueza do presidente do Uruguai, avaliada em menos de 170 mil
euros. Pode parecer pouco para um chefe de Estado, mas para Pepe,
que doa 90% do seu salário anual, dez mil euros, para caridade, é
mais do que suficiente. É por isso que ficou conhecido como o
presidente mais pobre do mundo.
Mujica continua como sempre. Em
algumas entrevistas, declarou: "não sou pobre, sou sóbrio, com pouca
bagagem, vivo com o suficiente para que as coisas não me roubem a
liberdade"; por outro lado, "tu, com o teu dinheiro, não podes ir a
um supermercado e dizer: venda-me mais cinco anos de vida. Não
podes. Não é uma mercadoria, então não a devemos gastar mal. Temos
de a usar e gastar com as coisas que nos motivam a viver." À CNN
disse: "temos de viver como vive a maioria, não como vive a
minoria", lembrando que "o presidente é um funcionário que foi
eleito pelas pessoas para um momento e uma etapa" e que "ninguém é
melhor do que ninguém". “A política é a luta pela felicidade de
todos".
Entre estas palavras e a sua
existência quotidiana não há distâncias.
Vive com a mulher de há 40 anos, a
senadora Lucía Topolansky, na casa de uma assoalhada, onde também
costuma receber os jornalistas. Ao lado da roupa estendida e da
horta que cultiva, é vegetariano, no meio das galinhas e junto à
cadela Manuela, que só tem três patas. Não é esquisito no vestir e
nem para ir à Casa Branca usou gravata, que considera "um trapo
inútil".
Estamos no Advento. Uns dizem que o
melhor está para vir, mas adiam a felicidade para o fim dos tempos.
Outros repetem as figuras que anunciaram a vinda do Messias. Porque
não abrir os olhos para as figuras que vivem hoje e abrem
novos caminhos de Esperança?
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