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Mário Fortes tem colaborado com o TriploV na área da sua formação - arquitectura paisagistíca. Interessa-se especialmente pela dos jardins e pela sua flora habitual, exótica, com privilégio para o período Iluminista. É o caso do artigo publicado em parceria com Ana Luísa Janeira : "Floras do Novo Mundo", e de "A paisagem das Luzes em Portugal", com colaboração de Cláudia Ávila Gomes e Teresa Andresen. Estes trabalhos têm sido muito consultados no TriploV, e não é por causa das belas imagens. |
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MÁRIO - Primeiro: Sou adepto do "BRITES DE ALMEIDA FOREVER" - Nunca trocaria Portugal por Espanha e muito menos portugueses(as) por espanhóis(las). Já pensou nas surpresas desagradáveis que podemos encontrar dentro do "pacote do espanholismo", onde coexistem povos díspares unidos por motivos meramente políticos? Até arrepia pensar que a designação extremamente artificial de espanhol pode encobrir tanto a figura familiar de um dos nossos irmãos galegos como o individualismo agressivo de um dos "nossos tradicionais inimigos" - um castelhano! E pense em Espanha como uma entidade onde há filhos e enteados...Uma reflexão sobre a actual crise do derrame de crude na costa galega poderá levantar dúvidas quanto à correcção da postura que o governo de Madrid mantém em relação às comunidades autónomas. Prefiro Portugal com todos os defeitos. ESTELA - Só queria saber o que tem andado a fazer pela Galiza... MÁRIO - Segundo: Tenho andado a surfar pela Galiza - Praias até há pouco limpas e ondas excelentes. Além disso frequento desde 2000 o programa de doutoramento em arqueologia promovido pela Universidade de Santiago de Compostela, estando neste momento a desenvolver a tese sob a orientação do professor Fernando Acuña Castroviejo. Optei por realizá-lo na Galiza pela qualidade dos programas de doutoramento, pelos reduzidos encargos financeiros que importam e, como é óbvio, pelas afinidades existentes entre galegos e portugueses... Além disso tenho umas quantas costelas galegas. Os contactos prévios com os professores desta universidade foram excelentes, fiquei muito bem impressionado logo de início. Estou satisfeitíssimo. Lamento que em Portugal não se promovam programas afins. ESTELA - Mário, a arquitectura é um dos grandes sucessos do TriploV, só não sei qual delas atrai mais os cibernautas: se a paisagística, se a maçónica... MÁRIO - Também não sei... E evito pensar que esta atracção se deva exclusivamente às fotografias que acompanham os textos. Até pode ser a única explicação, mas prefiro supor que o interesse pela vertente filosófica que orientou a construção de algumas paisagens seja relevante. Na restante Europa, cada vez mais se reconhece a importância histórica de determinadas correntes - não só da Maçonaria - na concepção de parques e jardins e se destaca a necessidade da sua compreensão aquando da realização de estudos, planos e projectos de recuperação e gestão dos mesmos. Por cá, pouco se tem investigado e muito menos escrito sobre a participação dos Pedreiros Livres na criação de algumas destas obras. E não é por falta de casos passíveis de estudo! Talvez esta lacuna no conhecimento favoreça a sua constatação a nível do comportamento dos cibernautas. Além disso basta relembrar que tudo o que "cheira" a ocultismo, criminalidade e sexo desperta o interesse de multidões. ESTELA - Os trabalhos do Manuel Ángel Seoane sobre a Ilustração Galega também cativam imenso os cibernautas... Mas continuo sem saber se o interesse é pelo Iluminismo em sentido lato ou se pelas Luzes maçónicas em sentido estrito... |
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que queira ocupar-se dele? É dos espaços mais acolhedores de Lisboa, e não conheço nenhum trabalho interessante sobre ele na sua área... MÁRIO - O Jardim Botânico da Faculdade de Ciências é sem dúvida um dos espaços notáveis da cidade de Lisboa, mesmo sem ser iluminado. Resulta de uma necessidade premente, a nível de investigação e da acção de vários interventores, que o moldaram e renovaram desde o séc. XIX ao XX, daí o seu eclectismo e a multiplicidade de cenários românticos que integra. O facto de não ser uma obra específica de um momento ou de um autor pode torná-lo menos apetecível para alguns investigadores. Geralmente os historiadores e arquitectos paisagistas que estudam jardins do passado dedicam-se apenas àqueles que estão associados a palácios reais, quintas aristocráticas e cercas conventuais, atitude que pode ser consequente a problemas de afirmação pessoal. Assim, jardins públicos e jardins botânicos oitocentistas de evidente interesse histórico são relegados para um último plano. Também há que ponderar quanto à inércia de algumas das instituições de ensino, e quanto à estagnação dos seus dirigentes, que se opõem a colaborações externas e à participação de determinadas profissões: Num jardim dirigido por biólogos raramente - para evitar dizer "nunca" - trabalham arquitectos paisagistas... Considero o Jardim Botânico da Faculdade de Ciências um excelente objecto de estudo, não só a nível botânico, mas também a nível de história de arte e das técnicas adoptadas na construção e manutenção. ESTELA - Para mim há dois tipos de cidade, quanto à beleza: as que vivem da arquitectura, como Paris, e as que vivem do enquadramento na paisagem, como Lisboa. Lisboa é das cidades mais encantadoras que conheço, juntamente com Istambul e o Rio de Janeiro. A beleza delas tem a mesma origem: a água. Como reage a sua sensibilidade a estas questões? MÁRIO - Sou um pouco bronco e tenho terror de viajar de avião - Só viajo de avião quando obrigado por motivos profissionais. Apenas retenho imagens fotográficas ou cinematográficas das cidades de Paris, de Istambul e do Rio de Janeiro. Sem dúvida que estas imagens são fantásticas, mas podem não corresponder na íntegra à realidade. São tão distintas que não me permitem uma comparação imediata, embora participem da água como elemento comum. ESTELA - As pessoas queixam-se tanto do estado de degradação em Lisboa, e realmente há cenas lamentáveis, tal como há por vezes exibicionismo na arquitectura contemporânea. Mas de um modo geral Lisboa é uma cidade lindíssima. Acho é que tem poucas zonas verdes, e os parques mais belos ficam longe... MÁRIO - As intervenções arquitectónicas realizadas em Lisboa traduzem não só determinadas opções estéticas em voga, mas essencialmente as restrições culturais de projectistas e as pretensões de determinados grupos sociais em ascensão. Serão testemunho desta época tal como determinadas tipologias arquitectónicas do passado. Relembre-se das críticas oitocentistas a tantos chalés de novos ricos, "as casas de brasileiros", que na actualidade são considerados como uma das mais valias da cidade. Infelizmente constato que as restrições de espaço e a especulação imobiliária interferem com a preservação dos valores arquitectónicos do passado e condicionam a manutenção dos poucos espaços verdes subsistentes. E da mesma forma lamento que os mecanismos legais de salvaguarda destes valores nem sempre sejam eficazes. ESTELA - Ouvi dizer que há por aí um movimento a favor da ornamentação das ruas com árvores indígenas, como os pinheiros... Lá se vão os jacarandás, as Tipuana tipu, os dragoeiros, etc., para voltarmos ao tempo de D. Dinis, que mandou vir os pinheiros indígenas dos países nórdicos... Vai ser um dia de Natal eterno... O Mário, que tem estudado a flora exótica, é a favor ou contra esta revolução cultural? MÁRIO - Temos que organizar um movimento de oposição a favor da preservação das exóticas! Não tem pés nem cabeça! Quem ousaria acabar com as espécies exóticas tradicionais de Lisboa? Há que ter a noção da importância cultural destas árvores de alinhamento, enquanto testemunho vivo do passado de Lisboa, ponto de convergência de rotas marítimas e capital de um império ultramarino. E mais, muitas destas espécies exóticas são extremamente rústicas, conseguindo sobreviver em condições desfavoráveis de poluição e défice hídrico prolongado. Por vezes as espécies indígenas não conseguem sobreviver nestas condições ou subsistem de forma condicionada, e além disso podem dispor de alguns inconvenientes a nível do cumprimento de determinadas funções: Imagine um alinhamento de pinheiros mansos, sobreiros ou oliveiras na faixa central da avenida de Roma. As árvores adultas estão carregadas de pinhas, bolotas ou azeitonas. Por falta de mão de obra ninguém as limpa. Depois pense num dos temporais típicos...muita coisa rola nas faixas...os veículos têm dificuldade em manobrar e travar...CRIANÇA ATROPELADA! CHOQUE EM CADEIA! Posso estar a exagerar, mas há muitas situações gravosas e inesperadas que são consequência de uma má solução projectual... neste caso a selecção de uma espécie arbórea. Sou contra tudo o que se manifesta como restritivo e imbecil. Por favor, diga-me que ouviu mal. |
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