Elisa Scarpa, a rebelde

 

MARIA ESTELA GUEDES


Retrato de Elisa Scarpa quando jovem.

Rebelde e muito tímida, a Elisa Scarpa. Como se os dois descritivos fossem a sua coluna vertebral. Logo no nome, logo na imagem: o nome dela não é Elisa Scarpa, a imagem dela, agora, é sofisticada, em nada se relaciona com a foto de provável menina de colégio que escolheu para a identificar, na badana do livro. Ficam as imagens para comprovativo do que se diz em relação às aparências.

Quanto ao livro, de estreia, como poeta, tanto quanto sei, provém da Editora Urutau, sob o título Elogio da divergência. Entendamo-nos: a autora pode elogiar a divergência e exprobar o seu contrário, eliminá-lo, apagá-lo com o rato ou com a borracha, mas nós, deste lado, estimamos ambos, estimamos os dois lados de uma personalidade que se define, conforme abertura, por rebeldia de um lado e de outro a timidez.

Provavelmente o retrato antigo, Retrato do artista quando jovem, diria James Joyce, ou diria, mais rebelde ainda, Dylan Thomas, ao roubar o título, Retrato do artista quando jovem cão – provavelmente, dizia eu, o retrato antigo, híbrido de timidez e rebeldia, concorda com a essência dos poemas que nos lega, todos eles mais juvenis do que próprios de uma já instalada maturidade. Isto, claro, se a fotografia não for da sua mãe, o que nos poria face a um ato de maior rebeldia ainda.

Elisa Scarpa tem alma de artista, se isto posso dizer de uma autora que se arma com a espada do anjo luciferino para combater também a religião, todas as religiões. Vejamos então a primeira parte do que ela escreve, a favor de e contra Alá, Deus e todos os santos e santinhos, nós incluídos, pois, está visto, o “Todos” do seu título é a mais holística forma de saudar com um “Olá”, que ao mesmo tempo é uma divergência de “Vade retro” ou vice-versa, todos nós, terráqueos.

 

 

As raízes deste livro originam-se nos Encontros Triplov, que regularmente organizámos, nos últimos tempos com Elisa Scarpa. Daí que o poema-matriz esteja em linha no Triplov, onde o podem apreciar, decerto numa versão menos depurada, em https://triplov.com/letras/elisa-scarpa/elogio-da-divergencia.htm .

Elisa Scarpa, como dizia, tem alma de artista, o que se manifesta também numa outra prática dela, a colagem. Algumas imagens têm sido publicadas no FaceBook e também no livro de Maria Giulia Pinheiro, (Poemas de amor) para (os) 30 (anos de alguém que nunca amei tanto assim), igualmente saído na Urutau em 2020. Quer como poeta quer como artista plástica, Elisa Scarpa é uma caixinha de surpresas que tem muito ainda para nos mostrar.

 

ELISA SCARPA
Elogio da divergência
Editora Urutau
Pontevedra/São Paulo, 2020