NATURAL?! O QUE É ISSO?
ABERTO O COLÓQUIO
De 2.11.2003 a 21.05 2004
INICIATIVA DO PROJECTO LUSO-ESPANHOL
"NATURALISMO E CONHECIMENTO
DA HERPETOLOGIA INSULAR"
Subsidiado pelo CSIC (Madrid) e ICCTI (Lisboa)


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Sobre espécies endémicas
e outras introduzidas nos Açores (3)
LUÍS M. ARRUDA
Origem das espécies açorianas

Em resultado de observações zoológicas e botânicas, Fouqué (1873) discute as teorias que, à época, eram propostas para explicar a origem dos seres vivos endémicos dos Açores. Estas teorias, diversas sob muitos pontos de vista, podem, contudo, ser agrupadas em duas classes. Numa delas é admitido que todas as espécies açorianas provêm de uma introdução estranha; na outra é suposto que as espécies são, pelo menos na maior parte, nascidas no local e que o seu estado não é senão a consequência de um desenvolvimento natural e espontâneo. O autor conclui: «Si nous rejectons les théories fondées sur la propagation lontaine des espèces, il ne nous reste plus d'autre alternative que l'adoption de l'un des systèmes basés sur l'origine locale et le dévelopment indigène des espèces; nous nous trouvons en face du grand problème de la création avec toutes les difficultés qui l'entourent. De notre temps plus que jamais, cette redoutable question est à l'ordre du jour et soulève bien des luttes. Ce n'est pas ici le lieu d'entrer dans la lice et de prendre part à la discussion qui s'agite entre les darwinistes et les partisans de la théorie des créations successives. J'insiste seulement sur cette considération: quelle que soit la bannière que l'on arbore, on devra, dans la question spéciale de l'origine des espèces aux Açores, s'attacher à donner la raison du caractère européen de la flore et de la faune de cet archipel».

Não obstante essas previsões, do estudo comparativo que faz com outras faunas Barrois (1888) conclui que os povoamentos carcinológicos dos Açores não têm relações com os americanos mas, pelo contrário, tem afinidades estreitas com os do Mediterrâneo e das costas da Europa. Anos mais tarde, Barrois (1896) na sequência da reflexão sobre estes resultados e ainda sobre a circulação da atmosfera e das correntes marítimas superficiais na região dos Açores, considera que « Les vents dominants sont ceux du Nord-Est, soufflant par conséquent d'Europe, et il est probable que ce facteur doit entrer en ligne de compte pour expliquer, du moins en partie, le cachet européen de la faune et de la flore açoréennes », uma influência igualmente considerada por Guerne (1889) a propósito da colonização das lagoas do arquipélago.

Barrois (1888, 1896) discute a teoria de Hartung sobre a existência de vestígios do período glaciar, nalgumas ilhas do arquipélago, sob a forma de numerosos fragmentos, arredondados e polidos, de gneiss , grés vermelho, calcário, granito e outros entre os seixos das rochas ígneas. Este geólogo prussiano refere mesmo a existência de blocos destas rochas não apenas sobre o litoral mas também para o interior até cerca de um quilómetro da costa. Segundo o geólogo, é racional pensar que esses blocos de origem exterior tenham sido carreados pelos glaciares flutuantes que vinham encalhar e desfazer-se ao longo das costas, abandonando-os aí. Um levantamento topográfico ligeiro, como aquele que certamente aconteceu em Santa Maria, teria elevado os fundos vizinhos da costa e posto a seco os blocos encontrados pelo geólogo alemão.

Hartung seguiu para os Açores, em 1857, com a ideia que lhe foi sugerida por Lyell, a pedido de Darwin, de que deveria encontrar vestígios do período glaciar. Esta opinião preconcebida poderá ter levado o geólogo a exagerar as dimensões reais desses blocos que, na água do mar, perdem uma parte do seu peso. Hartung refere que alguns dos blocos supostamente erráticos, que observou sobre a costa da Praia da Vitória, mediam vários pés de diâmetro.

Esta teoria de Hartung foi inteiramente aceite por Darwin que dela tirou argumentos para explicar o carácter setentrional das espécies vegetais açorianas com que havia contactado, em 1836, quando realizou algumas excursões na ilha Terceira que escalou durante a sua viagem à volta do mundo a bordo do iate Beagle. Porém, a teoria foi contestada por aqueles que defenderam terem os blocos erráticos em questão sido trazidos como lastro pelas embarcações que deles se haviam libertado após a chegada ao ancoradouro.

A existência de fragmentos rolados de rochas estranhas às ilhas dos Açores, relacionados com a ocorrência de glaciares no arquipélago, foi confirmada, recentemente, por A. Serralheiro e J. Madeira, em plataformas quaternárias levantadas, entre 80 m e 200 m de altitude, na ilha de Santa Maria (Madeira, com. pess.).

Trelease (1897), manifesta compreender a importância do isolamento destas ilhas relativamente aos continentes europeu e americano, na formação das espécies endémicas, quando afirma que os ancestrais das espécies estritamente açorianas, tanto quanto pode ser julgado pela sua distribuição e afinidades « seem to have been introduced by drift, migratory birds, etc., so long ago as to have allowed descendants in the original habitat and the new home to depart enough from the original type to become clearly separable as species ». Relativamente às plantas introduzidas, Trelease (1897) explica que isso acontece desde a descoberta das ilhas « for they are so precisely comparable with similarly named species from other parts of the world as to suggest the lapse of a very short time, as time is measured by the evolutionist, since their separation from the parent stock».

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