REFLEXÕES EM TORNO DE UM BLOCO DE COBRE*
Isabel Cruz

Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa
 
5. Uma questão

A questão centra-se no enquadramento do experimental no ensino das Ciências Físico-Químicas. Os novos currículos flexibilizaram a ortodoxia dos conteúdos programáticos, criando as vertentes tecnológica e social, de acordo com uma concepção CTS de Ensino da Ciência actualmente dominante neste âmbito. Os conhecimentos e competências a adquirir, abarcam por isso, não só o domínio da Ciência, como também o da Tecnologia e o da Sociedade.

Assumindo, fundamentalmente por experiência e constatação pessoal, que o «chamamento» para a Ciência atravessa um período difícil, que se reflecte necessariamente na área do seu ensino, perturbando o processo de ensino/aprendizagem das mais variadas formas, das quais a propensão para se reduzir o papel do experimental ao seu aspecto lúdico é apenas um exemplo, pergunto se precisamente as vertentes tecnológica e social não poderão contribuir para se recuperar a mensagem científica de volta ao seu lugar formativo.

Uma simples experiência de oxidação-redução como a anteriormente descrita, aplicada normalmente num contexto de aprendizagem das transformações químicas, tem, por outro lado, possíveis cenários e enquadramentos tecnológico-sociais, dos quais apenas o processamento mineiro foi um exemplo. Se uma das grandes orientações curriculares é a formação para a cidadania, então estes enquadramentos assumem sem dúvida papéis de relevo. Eventualmente até se poderá objectar que não são enquadramentos mas realidades em si mesmas, abarcando isso sim, por serem mais abrangentes, a própria actividade científica.  

Nesta perspectiva, deverá esperar-se que o ensino de conteúdos científicos solicite sempre o acompanhamento de uma envolvência cultural, que o enriquece e legitima, revelando o que eles têm de carácter humano. Sucessos e insucessos, tentativas e erros, interesses e aspirações, crenças, políticas e ideologias, altruísmos, virtuosidades e sacrifícios, e tudo o que o Homem é capaz de projectar nas suas realizações, passam a constituir assim uma parte importante do ensino da Ciência.

Neste sentido, a História e a Ciência tornam-se intimas colaboradoras, porque só com uma indagação histórica se torna perceptível a dimensão do social na actividade científica. Desta maneira, poder-se-á esperar, que tal como a experiência do prego de ferro em sulfato de cobre aquoso, serviu para uma melhor compreensão de factos históricos ligados à origem de um bloco de cobre, ou seja, a Ciência apoiou a História, também a História possa apoiar a Ciência ?