REFLEXÕES EM TORNO DE UM BLOCO DE COBRE
Isabel Cruz

Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa
 
Epílogo

A intenção foi apenas lançar no papel temas da Cultura, da Natura, da Experiência e do Ensino. Utilizando cenários muito pessoais, o texto que a partir daqui se desenvolveu, procurou discutir questões a eles associadas e interceptá-las numa perspectiva educativa.

Em primeiro lugar, abordou-se a antonímia Cultura - Natura (assim mesmo, como oponentes irremediavelmente ligados pelo Homem no esforço de apreender o Real): um «curioso» visita um museu, para observar um artefacto, detendo já, no seu imaginário, a história dele (ou pelo menos, alguns factos e aspectos históricos com ele relacionados).

Fez, por isso, o oposto ao que sucede à maioria dos «curiosos» - primeiro soube e depois viu – que primeiro vão ver, para depois também saber. O efeito foi de impressionar e deixou o visitante a meditar sobre o alcance da comunicação dos objectos expostos - os objectos também têm uma linguagem, e «falam-nos» tanto mais quanto mais sobre eles sabemos.

Um objecto natural, para o qual a Criação não foi generosa, transfigurou-se, ganhou brilho próprio, como estrela de cinema que dita o seu próprio padrão de beleza, expoente máximo de sedução. Aqui, onde a Cultura fez a diferença, uma questão se coloca, deixando em aberto todo um mundo possível de relacionamento entre agentes educativos, como escolas e museus: - Quando se estudava a Natureza pretendia atingir-se o cultural; conhecendo o cultural. não poderemos atingir a Natureza?

Em segundo lugar, a Experiência: introduzida como «coisa que se vive» - algo que se encontra na esfera do individual –  passou por um estado intermédio de «coisa que se utiliza», para finalmente se estabilizar em «coisa que se comunga», ficando deste modo a incorporar a esfera do colectivo. Permaneceu a dúvida, em relação à actualidade, sobre o verdadeiro impacto educacional da mensagem científica. 

Reuna-se agora estes temas em torno do acto de Educar. Quem educa? – um Mestre. Com base em quê? – Experiência. O que resulta? – saber comungado, socialização, ascese. Educar é cultivar. Revelar o mundo natural , assim como o civilizacional já foi modo de cultivar. 

Comungar com o Natural deixou de ser modelo. Comungar com o Cultural também, onde a cultura foi civilização, e o civilizar se revelou em domínio e imposição. Ninguém comunga com base numa imposição. Esta inibe os afectos, elimina a ascese, impede a valorização.

Refaça-se o exercício em torno do acto de Ensinar. Quem ensina? – professores. Com base em quê? – experiências. O que resulta? – saberes comunicados, apreensão, conhecimento. Ensinar é cultivar? 

O problema do Ensino da Ciência é um problema de Sociedade. Já não somos mestres, mas ainda queremos educar. Em cada professor persiste o desejo de marcar, transformar, influenciar, mas passamos a maior parte do tempo a tentar convencer. A experiência pessoal de alguns anos de docência permitiu constatar a falta de adesão a um «ideal científico». Já não se comunga com a Ciência. Como vamos resolver este problema?