CABO VERDE / Macaronésia
Germano Almeida (textos) e José António Salvador (fotos)
03-01-2004
Ilhéu Editora, Cabo Verde e Editorial Caminho, Lisboa
www.triplov.com

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santa_luzia

Foto: Santa Luzia
Macaronésia


Não vale a pena alongar muito o particular da nossa localização. Basta dizer que em termos geográficos Cabo Verde é tido como fazendo parte de um conjunto denominado Macaronésia e que engloba os arquipélagos dos Açores e da Madeira, as ilhas Selvagens e as Canárias; todo o arquipélago é de origem vulcânica e dispõe-se no espaço do mar em forma de uma ferradura com a abertura virada para o ocidente, como se propositadamente tivesse sido feito de costas voltadas para uma África com a qual até hoje não aprendeu a conviver; as ilhas do Sal, Boa Vista e Maio são mais antigas que as restantes, sendo Maio a mais velha de todas. O Fogo é a mais nova em idade, ninguém estranha depois de conhecer aqueles enormes dentes de serra aguçados contra o céu.

Macaronésia significa afortunada. Portanto, mais uma acerba ironia a nosso respeito, porque na verdade não se entende que as nossas ilhas possam ser assim chamadas. Para começar, é um dado seguro que quando foram achadas não tinham nada, absolutamente nada, nenhuma vivalma, excepção feita a uma enorme passarada que Cadamosto pretende ter encontrado na Boa Vista.

Uma ideia um tanto propalada é a de que o povo jalofo, ou pelo menos alguma parte dele, ou melhor dizendo uma porção de homens jalofos, pois até hoje só se falou de machos, foi aqui encontrada pelos portugueses. Teriam estado guerreando entre si, um troço significativo foi derrotado e perseguido, entre ficar em terra firme e ser morto ou reduzido à escravatura, preferiu fazer-se ao mar e acabou indo parar à ilha de Santiago. Mas essa tese nunca encontrou segura sustentação histórica e ainda bem, se isso é verdade não serviu de muito aos valorosos jalofos essa intrépida e arriscada fuga, pois que em Santiago terão sido encontrados pelos portugueses, e ou lhes aconteceu o mesmo que aos indígenas das ilhas Canárias, isto é serem todos dizimados, ou então na mesma acabaram na servidão de que fugiam. Mas talvez ainda o melhor seja aceitar que Cadamosto, ou seja quem for que primeiro aqui chegou, tenha encontrado as ilhas vazias de habitantes, afinal das contas de nada nos serve saber que sim senhor, antes de aqui chegarem os portugueses Cabo Verde já tinha tido gente, a nossa cultura ou a nossa identidade não ficarão com isso nem mais bem nem mais mal apetrechadas.