Fizemo-lo então com gratidão pelo
que nos transmitiu no decurso do
breve convívio na (então ) Junta de
Investigações do Ultramar (JIU), e
também com alguma emoção. Essa
emoção é ainda mais sentida, agora
que Frederico Machado nos deixou e
que surge a oportunidade de escrever
uma vez mais, com renovado apreço,
sobre a sua obra científica realizada
no âmbito da JIU.
A gratidão de há sete anos vem agora
também acrescida, em resultado da
leitura atenta de escritos antigos e sucintos de Frederico Machado sobre
algumas Ilhas de Cabo Verde, pejados
de ideias inovadoras para a época em
que os escreveu. Hoje, que tanto se fala de "inovação", tais trabalhos merecem justo destaque.
De facto, Frederico Machado foi pioneiro na abordagem a um fenómeno
que actualmente merece particular
atenção: a alteração (designada por
palgonitização) de rochas vulcânicas
vítreas, em resultado da acção prolongada do meio marinho em que
estes materiais litológicos permaneceram por milhões de anos, antes de
surgirem à superfície como ilhas. Os
fenómenos de erosão que sofreram
desde a sua emersão, deixaram expostos à curiosidade científica dos
estudiosos da Terra muitos testemunhos materiais que os modernos
meios instrumentais de estudo laboratorial permitem explorar e decifrar
para desvendar mistérios que o nosso
planeta guarda ainda zelosamente.
Neste contexto, destaca-se um trabalho de co-autoria sobre "O complexo
sienito-carbonatítico da Ilha Brava,
Cabo Verde", publicado em Garcia
de Orta, JIU/Lisboa, vol. 15, p. 93 a
98, onde os palagonitos de Cabo
Verde são referidos pela primeira vez
em publicações portuguesas.
Além do traço comum - a análise de
espectros - que irmana o perfil científico de um geofísico e sismologista,
ao de um cristalógrafo, partilhamos
com o Professor Doutor Frederico de
Menezes Avelino Machado outras
características que diria curiosas:
éramos ambos Engenheiros (Civil e Químico-Industrial) a fazer Geociências, e nos nossos curricula verificou-se um hiato de alguns anos entre
a conclusão do curso de engenharia e
a obtenção do grau académico subsequente - o de Doutor na área científica que ambos professávamos.
Professor Catedrático jubilado do
Departamento de Geociências da
Universidade de Aveiro, o Prof. Frederico Machado desenvolveu ainda
actividade científica na área da Geofísica em Centros ligados ao Departamento de Física da Universidade de
Lisboa.
Natural dos Açores, regressa ao
Arquipélago após a conclusão do Instituto Superior Técnico, em 1941,
aí permanecendo 22 anos como
engenheiro de Serviços de Obras
Públicas. Prestou então colaboração ao Serviço Meteorológico Regional.
Neste período publicou numerosos
artigos nas áreas da vulcanologia e
da sismologia, não apenas sobre os
Açores, e não só em revistas nacionais. De facto, numa época em que
raramente os cientistas portugueses
publicavam em revistas estrangeiras,
destacam-se diversas publicações da
autoria de Frederico Machado sobre
temas gerais de Geofísica e sobre aspectos vulcanológicos dos Açores,
vindas a lume em revistas internacionais de nomeada:
Transactions of the American Geophysical Union:
-"Earthquake intensity anomalies
and magma chambers of Azorean
volcanoes" (1954);
-"Compressibility and temperatures
ofthe Earth's interior" (1958).
Bulletin Volcanologique (edição da
Associação Internacional de Vulcanologia, Nápoles):
-"Submarine pits of the Azores plateau" (1959);
-"Secular variation of seismo-volcanic phenomena in the Azores"
(1960).
Não será demais destacar o carácter
pioneiro de muitos trabalhos que
Frederico Machado publicou sobre o
nosso País, nomeadamente na revista
Atlântida. Assim, em 1962 vem a
lume um trabalho sobre a "Actividade
do vulcão do Fogo, Cabo Verde", que
posteriormente desenvolveu, já como
investigador da Junta de Investigações do Ultramar, numa monografia a
que deu o título " Vulcanismo das
Ilhas de Cabo Verde e de outras Ilhas
Atlânticas " ("Estudos, Ensaios e
Documentos", vol. 117, JIU/Lisboa,
publicado em 1965, com 83 pp., uma
cuidadosa revisão bibliográfica e 34
preciosas estampas).