Manuscrito de Ferraz de Macedo
Manuscrito de Ferraz de Macedo

Francisco Ferraz de Macedo nasceu em Paradela a 11de Outubro de 1845 e faleceu em Lisboa a 18 de Outubro de 1907, datas que estarão correctas a julgar pela bibliografia disponível, mas que não condizem com as inscritas na placa acima.

Quando se lê sobre Ferraz de Macedo fica-se surpreendido com a quantidade de assuntos/áreas com que se envolveu -  parece ter sido um homem incansável na procura de conhecimentos, mas acima de tudo muito determinado, ou não teria  o currículo que nos é apresentado.

Ainda criança viajou para o Brasil (Rio de Janeiro) com seus pais e cedo começou a trabalhar na alfaiataria do pai revelando-se bastante habilidoso na arte, pelo que chegou a ocupar o cargo de mestre deste ofício. Mais tarde, depois de enveredar por outras artes, serve-se destes seus dotes para  confeccionar o seu vestuário, evitando assim desentendimentos com alfaiates que poderiam não estar à altura de um mestre.

Ambicioso como parece ter sido (e incansável também) não se ficou pela costura e em 1867 (com 22 anos) completou o curso de Farmácia. Cinco anos depois doutorou-se em Medicina, área a que de imediato se dedica  e em que é bem sucedido. Este sucesso levou a que ficasse "bem" financeiramente, o que lhe permitiu fazer viagens demoradas pela Europa. Sempre manifestara interesse pelas letras e todas as actividades culturais de um modo geral e durante estas viagens frequentou os melhores centros de cultura da Europa com com a constante preocupação de se manter a par das mais recentes aquisições científicas. Assim, teve oportunidade de se relacionar pessoalmente com Topinard, Manouvrier, Quatrefages, Vogt, Lombroso, Mantegazza e muitos outros antropologistas ilustres. Foi figura de relevo na colónia portuguesa do Rio onde contava com numerosa clientela. Ocupou, por eleição o cargo de director geral da Associação Montepio Agrícola do Rio de Janeiro, o que comprova que desfrutava de boa reputação entre os seus numerosos compatriotas. Pelo ano de 1881, fixou residência em Lisboa, animado pelo grande entusiasmo de se dedicar à antropologia, ciência que na época atraía as melhores atenções em todos os meios cultos e na capital portuguesa fora consagrada, no ano antecedente, com a reunião de um Congresso Internacional. Com o objectivo de se dedicar aos estudos antropológicos, Ferraz de Macedo requereu à Câmara Municipal de Lisboa a concessão dos esqueletos das sepulturas rasas, ao serem exumados, após o quinquénio, destinados à vala comum quando ninguém os reclamava.. Assim, conseguiu uma valiosa colecção de perto de 1.200 cabeças ósseas humanas, identificadas, e cerca de 150 esqueletos, também identificados quanto ao sexo. Esta colecção deu-lhe bastante trabalho na aquisição, tendo pago generosamente aos coveiros a tarefa de colheita e preparação dos ossos, aliás sem deixar de atrair atenções públicas que ecoaram na imprensa e lhe originaram dissabores. Esta colecção foi oferecida ao Museu Bocage da antiga Escola Politécnica (hoje Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa) e constitui um valioso material para pesquisas antropológicas. Ferraz de Macedo não limitou porem as suas investigações à área da Osteologia, pois frequentava assiduamente o anfiteatro da antiga Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, em pesquisas principalmente sobre a morfologia do encéfalo e não menos assiduamente frequentava a Penitenciária e as cadeias de Lisboa, com o objectivo de colher mensurações antropométricas.

Ferraz de Macedo era cultíssimo, com pendor para as línguas e conhecia, além do português, o francês, o inglês, o italiano, o grego, o russo, línguas que falava e escrevia com facilidade.

Em Ferraz de Macedo o labor intelectual desenvolvia-se com o tumulto de paixão e impunha-se-lhe em imperativos categóricos de realizações que nunca o fizeram recuar perante as mais fortes dificuldades. Vencia-as desligado de colaboradores que não podiam satisfazê-lo - contava consigo próprio, acima de tudo e de todos, com ilimitada confiança, para vencer os mais insignificantes pormenores, no desenvolvimento do seu talento imaginativo e de índole caprichosa. Talvez esta feição psicológica explique que ele mesmo ilustrasse os seus trabalhos científicos, aproveitando desta forma as suas raras qualidades de primoroso desenhador e libertava-se assim de uma colaboração onde encontraria sobretudo desentendimentos.

Preocupado com o problema do analfabetismo em Portugal, inventou o método luso destinado ao ensino da leitura aos portugueses.

Quando participava em reuniões científicas, Ferraz de Macedo atraía atenções, porque frequentemente entrava nas discussões com vivacidade e pontos de vista que as assembleias às vezes olhavam como abstrusos. Era de uma absoluta honestidade nessa atitudes, obedecendo só ao impulso mental, sem qualquer intenção de captar aplausos.

Trabalhador infatigável, cujo valor se atesta pelos numerosos escritos, embora por vezes fosse considerado num plano inferior à categoria intelectual que na realidade merecia. Dirigiu, por pouco tempo, o importante jornal Mala da Europa, sucedendo a Tomás Ribeiro quando este foi nomeado em 1895 para o alto cargo de ministro de Portugal no Brasil. No ano seguinte começou a colaborar assiduamente na Galeria de Criminosos Célebres, História da Criminologia Contemporânea, sob o ponto de vista descritivo e científico, publicação de vulgarização editada pela Papelaria Palhares, em Lisboa, e que grangeou certa voga, apesar de considerada bastante deficiente.

Para o fim da vida, duros golpes o atingiram: a morte da mulher e dos filhos, a perda total dos bens que tinha no Brasil e dos quais vivia. Velho, cansado, doente, minado pelos desgostos e com falta de meios, valeu-lhe a influência política de um amigo para a obtenção do cargo de director dos Serviços Antropométricos e Fotográficos do Juízo de Instrução Criminal.

Biografia e foto em:
http://www.prof2000.pt/users/molly/celebridades2.htm