Todos os números estão cheios de Mistérios e contêm grandes virtudes, como dizem muitos Autores. Os nomes de Maria Sofia Isabel têm 16 letras e são constituídos por três unidades. O número 3 sign!fica a apreensão da Divina Vontade. O número 6 denota perfeição e bondade. O número 10 é a ideia de Perfeição. Têm mais os 3 nomes que em cada um dos primeiros há o número 5 e no terceiro 6. O número 5 significa Bondade e o 6 perfeição da Bondade. Ambos se provam pelo 5° e 6° Dia da Criação, que no 5° se diz (Gen. 25 e 31) Vidu Deus quod esset Bonum e no 6° Et erant valdi Bona. Dá-se na Aritmética estas 3 casas ou termos: Unidade, Dezena, Centena (e assim se vão seguindo outras, como Unidade de Milhar, dezena de Milhar, Centena de Milhar, etc.) que fazem triângulo e se expressam pelo nosso Anagrama. Ensinam-se também 4 espécies que fazem um quadrado (e se estendem pelos 4 lados do quadrado, os quais se nomeiam; somar, diminuir, multiplicar, repartir, começando em 4 letras). Raro prodígio! E que outra cousa vem a ser estas 4 letras senão umas breves cifras da Rainha N. Sra. que dizem Dona Maria Sofia Rainha. E dizendo muito, estas 4 letras não dizem mais nada, deixando o discurso suspenso na última dicção e não sofrendo a curiosidade que fique em silêncio o Reino de que é Rainha, o explique a Ortografia.
Há outros tipos de Anagramas Poéticos, como sejam os Cronológicos, em cuja base de construção está a atribuição de um valor numérico, um valor de ordem, sistema de numerologia, que duplica o valor simbólico do signo. Assim se estabelece uma complicada trama processual em que a materia prima do alfabeto, como elemento de representação da fala, ou seja, da lingua, do qual resulta o texto poemático, sofre uma fantástica transmutação, passando de simples matéria-prima a espelho da complexa significação cifrada do mundo.
Vejam-se os seguintes dois exemplos de uma Hymnodia Chronologica da Autoria de Alonso de Alcalá y Herrera, incluída no já referido volume Jardim Anagramático de Divinas Flores:
|
No primeiro podemos ver a explicação do processo utilizado nos seis Hinos que compõem esse capítulo da obra. No segundo a aplicação do processo. Tudo para celebrar o ano de 1651. Estas elaboradas composições são acompanhadas de uma extensa exposição em que são interpretadas especulativamente e a uma luz mística o valor das letras e o das cifras, em que claramente se revela a sua origem esotérica, cabalística, aliás declarada como tal pelo seu autor.
Esta breve incursão no universo enigmático da escrita poética baseada numa tradição tão esotérica e proibida como foi a da alquimia, permitir-nos-ia talvez estabelecer entre ambas curiosas pontes, se para tal dispuséssemos aqui de tempo. Como isso não sucede, fico por aqui, desejando que os presentes ouvintes se tornem futuros leitores.
Obrigada pela vossa atenção.
|
IN: Discursos e Práticas Alquímicas. Volume II (2002) - Org. de José Manuel Anes, Maria Estela Guedes & Nuno Marques Peiriço.
Hugin Editores, Lisboa, 330 pp.
hugin@esoterica.pt
|