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II BIENAL DE POESIA
SILVES. 2005
MANUEL G. SIMÕES
POEMAS

O Regresso do Lusíada

Carregados de anos de silêncio

e cólera mil vezes reprimida

eis-nos enfim saciados do mar

 

confinante com as terras do exílio,

golfos, areias desconhecidas,

tanta e mortífera guerra:

 

morte feroz exercida com o ferro

e fogo da conquista, os barcos

carregados de desastres, a ira

 

de quem, indefeso, via partir

as árvores, madeiras africanas

privadas das suas aves.

in Antologia "PoemAbril"

 
Ofício de Escrever

Escrita como impulso

do grito, do ar que arde

em torno e dos membros

ae dirige para o centro,

para o lugar proscrito.

 

Tudo é ardor e fogo,

súbita alegria, memória

a resgatar o vento

de novembro, o desvio

momentâneo da história.

 

Tudo é ardor, o vento

inventa o ritmo

que cria e forma o grito:

único meio ou modo

de resistir ao bloqueio.

 

in Antologia "PoemAbril"

 
Algarve

Os árabes te deram a brancura.

Algarve branco e grave

no exercício do sal.

Os árabes te puseram a brancura no nome

e assim permaneceste branco e árabe

nas ranhuras da cal.

Por Ocidente foste designado,

a praia mais longínqua, terra

estranha que habita em Portugal.

 

In "PoemAbril"

MANUEL SIMÕES nasceu em Jamprestes - Ferreira do Zêzere - em 1933.

Poeta e ensaísta, é licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa e em Línguas e Literaturas Estrangeiras pela Universidade de Veneza.

Foi um dos fundadores da colecção «NOVA REALIDADE» (1966) e pertenceu à redacção da revista «VÉRTICE» (1ª série) entre 1967 e 1969.

Vive entre Portugal e Itália desde 1971, tendo sido Leitor de Português nas Universidades de Bari e Veneza.

É professor da Universidade «Cà Foscari» , de Veneza.

Colaborador da Revista «COLÓQUIO/LETRAS» a partir de 1977, pertence à redacção da revista «RASSEGNA IBERISTICA» (Veneza), da qual foi um dos fundadores em 1978.

É membro da Associação Internacional de Literatura Comparada e da Associação Internacional dos Lusitanistas.

SILVES, CAPITAL DA PALAVRA ARDENTE