Esqueci-me de uma data de fotocópias no colégio, com lindas fotografias das roças de São Tomé e tal, que queria pôr aqui, mas sempre ouvi dizer que amanhã também é dia, e ainda bem, porque não acabei de ler o grande livro de que depois darei o título, e estou muito confusa da cabeça por causa da Hemileia vastatrix, ou antes, por causa da errata a um livro tão grande em que o autor diz que entre as "gralhas" tipográficas (sic) que tinham escapado à revisão, só chamava atenção para uma: onde estava "Hemileia vastratix" devia ler-se "Hemileia vastatrix". Olha aí, o livro tem índice analítico, com as palavras difíceis todas e as páginas onde estão as palavras difíceis e lá está no índice analítico a Hemileia bem escrita, com as páginas à frente! Para conseguir tal milagre foi preciso rever as provas com toda a atenção e que uma vez por outra a ferrugem alaranjada azulasse, ainda vá, agora no verdadeiro capítulo sobre a Hemileia não haver uma única vastatrix, e tudo serem vastratixes, não pode ser, por isso estou muito confusa dos neurónios, não por causa da sotôra Malvácea, não lhe contei nada, nem por causa das gralhas, que agora já sei serem verdadeiras "gralhas" entre aspas, um código para bom entendedor, sim por causa da mensagem secreta transmitida por este código ao bom entendedor. Eu sou ignorante mas não sou bètinha, se Lains e Silva diz na "errata" que chama a atenção para a Hemileia, eu percebo que é preciso dar atenção até às duas, a vastatrix e a vastratix, mas porquê? Porque há muitas raças de Hemileia e as raças são criadas em cultura pelos naturalistas, para experimentarem fungicidas e criarem raças de café que resistam às doenças? Porque a Hemileia vastatrix foi introduzida de propósito para dar cabo dos cafèeiros? Mas então porque é que o autor, e todos os que falam deste assunto, garantem que não havia Hemileia em São Tomé no tempo de Moller e que só foi descoberta em 1929? Que importância é que isso tem? Ou a data é que é importante? Hei-de investigar, a ver se foi em 1929 que a Rua da Escola Politécnica, em Lisboa, foi o principal teatro das revoluções dos anos 20. Mas acho que não, sempre ouvi dizer que isso foi em 1926. E depois Salazar subiu ao Poder, mas em 1929 ainda não tinha dado tempo para as pessoas se fartarem dele e andarem a escrever mensagens secretas por causa da censura. Bem, a mim tanto me faz que houvesse Hemileia vastatrix ou não antes de 1929, e havia Hemileia vastatrix, ou não teria sido descoberta, mas era uma forma benigna, segundo os especialistas. Qual é a frase exacta de Lains e Silva a este respeito? Está aí em baixo: "O seu aparecimento foi assinalado pela primeira vez em 1929". É uma frase esquisita. Eu não escreveria assim, diria: "A sua presença foi pela primeira vez assinalada...", ou então: "A Hemileia foi descoberta em São Tomé em 1929". O seu aparecimento... Por pouco não é a aparição... Já disse da outra vez que Lains e Silva "se enganou" na data em que Moller esteve em São Tomé. Agora, depois de ter lido o livro até mais de metade, vi que ele sabe a data certa, 1885 e não 1890. E não reparei noutro pormenor: quando ele conclui que não havia Hemileia vastatrix em 1890 porque Moller não fala dela, era preciso perguntar: onde é que Moller não fala disso? em que livro, em que artigo? Então fui à bibliografia deste livro enorme e tem lá centenas de artigos e de autores, mas de Moller, nem rasto! Olha aí, Moller não parece ter escrito muito, era chefe dos trabalhos práticos do Jardim Botânico de Coimbra, estive a pesquisar, e só descobri meia dúzia de coisinhas, uma sobre as Cinchonas ou quineiras, e neste artigo fala das que viu em São Tomé, e até diz que os cultivadores tinham fundado a Sociedade Luso-Africana e aberto uma fábrica em Lisboa, no Lumiar, para preparar sulfato de quinino com as quinas deles, e quem se tinha lembrado de fundar a fábrica tinha sido um professor de Química da Politécnica, toda a gente conhece, o José Júlio Rodrigues, que andou com Serpa Pinto a atravessar a África e gostava muito de fotografia. Depois há um "Catalogo das plantas medicinaes que habitam o continente portuguez", mas este é de 1878, não era nele que Moller podia falar da vastatrix, e também escreveu, em 1894, "Algumas palavras sobre as palmeiras", no volume de homenagem a Júlio Henriques, o do psicómetro, e no artigo das palmeiras também não podia falar das doenças da Coffea arabica. Ué!, o que terá lido Lains e Silva para dizer que (nesse texto) Moller não fala da Hemileia vastatrix? E porque é que não pôs o artigo na bibliografia? Será esta uma "gralha" maior ainda que a vastratix? Ou a grande "gralha" era a que estava a decorrer em 1929 em Portugal?