I.
Sempre
que abordamos o tema
Parapsicologia
percebemos uma reação imediata das pessoas que,
quase instintivamente, tendem a relacionar a
Parapsicologia ao sobrenatural. Fantasmas e
demônios assumem presença obrigatória. É o mundo
"do outro lado" que arregala olhares indecisos.
No senso comum a
Parapsicologia é "algo", isso mesmo, "algo",
envolvido com os espíritos dos mortos; daqueles
que ultrapassaram a barreira da vida e, por
razões desconhecidas (talvez não tão
desconhecidas para alguns), continuam "presos" a
este mundo: o mundo dos vivos.
Isso se deve, em
grande parte, ou totalmente, a matérias
equivocadas em revistas, sites e também a "shows
pirotécnicos" que vemos, vez ou outra, em
programas televisivos inapropriados para
conduzir tal temática. Sem contarmos com as
risíveis definições que relacionam a
Parapsicologia com o estudo ou investigação de
supostos
(alguns chegam a falar inexistentes) fenômenos
paranormais. É uma maravilha!
Mas, afinal, está a
Parapsicologia envolvida com o mundo
sobrenatural?
A resposta é sim e não.
A justificativa é
relativamente simples. As pesquisas sobre uma
gama variada de fenômenos, atribuídos aos
"desencarnados", foi a motivação que deu origem
ao que hoje conhecemos por Parapsicologia. O
principal fato está relacionado a uma série de
fenômenos, de natureza incerta, todavia
atribuídos à ação dos desencarnados.
Para compreendermos um
pouco essa problemática convém revisitarmos a
origem de tudo.
Parapsicologia no
contexto do século XIX
Os espíritas tomaram a
data de 31 de março de 1848 para marcar
oficialmente o início do Espiritismo. A razão,
até certo ponto questionável, uma vez que se
liga a um acontecimento cujas circunstâncias
"eram mesquinhas, os atores humildes, o lugar
remoto, a comunicação sórdida, de vez que
obediente a um motivo tão baixo quanto a
vingança." (DOYLE, s.d., p.73)
Nos referimos à
ocorrência que envolveu uma modesta família de
crentes metodistas, no vilarejo de Hydesville,
em dezembro de 1847.
Hydesville é um vilarejo
típico do Estado de New York, com uma população
primitiva, certamente semieducada, mas,
provavelmente, como os demais pequenos centros
de vida americanos, mais livres de preconceitos
e mais receptivos das novas ideias do que
qualquer outro povo da época. Aquela povoação,
situada a cerca de vinte milhas da nascente
cidade de Rochester, consistia de um grupo de
casas de madeira, de tipo muito humilde. Foi
numa dessas casas, residência que não satisfaria
as exigências de um inspetor de conselho
distrital britânico, que se iniciou o
desenvolvimento que, atualmente, na opinião de
muitos, é a coisa mais importante que deu a
América para o bem-estar do mundo. (CONAN DOYLE,
s.d. p. 73-74).
A casa ocupada pela
família Fox, em dezembro de 1847, há algum tempo
vinha expulsando seus inquilinos devido a uma
série de ocorrências estranhas, insólitas.
De início, os novos
habitantes nada perceberam. Tudo corria na mais
perfeita ordem. Contudo, após algum tempo, as
indesejáveis ocorrências, já relatadas pelos
moradores antigos, voltaram, agora, a perturbar
os novos moradores.
Batidas leves, ruídos
estranhos, que se assemelhavam a arranhões e
podiam ser ouvidos tanto nas entranhas da
parede, como no assoalho e móveis, começaram a
ser percebidos, com estranheza, pelos Fox.
Tais ruídos pareciam
sons pouco naturais para serem produzidos por
visitantes de fora, que quisessem advertir-nos
de sua presença à porta da vida humana e
desejassem que essa porta lhes fosse aberta.
Exatamente esses arranhões (todos conhecidos
desses fazendeiros iletrados), tinham ocorrido
na Inglaterra em 1661, em casa de Mrs.
Mompesson, em Tedworth. Esses arranhões também
são registrados por Melancthon, como tendo sido
verificados em Oppenheim, na Alemanha, em 1520.
Também foram ouvidos em Epworth Vicarage, em
1716. Aqui o foram uma vez mais e, por fim,
tiveram a sorte de ver a porta abrir-se. (CONAN
DOYLE, s.d. p. 74).
A família, contudo, de
forte concepção religiosa, contraditoriamente,
não demonstrava nenhum temor, preocupando-se em
buscar explicações com causas naturais para os
recentes acontecimentos.
Mas, os ruídos não
tardaram a crescer de intensidade. Batidas e
sons que se confundiam com móveis sendo
arrastados acabaram colocando as filhas do
casal, de sete e oito anos e meio, Katherine Fox
e Margaret Fox, em polvorosa, levando-as a
recusarem-se a dormir sozinhas em seu quarto.
À luz do dia, todavia,
os fenômenos não aconteciam. A possibilidade de
fraude impôs-se. Todavia, nada foi constatado.
Finalmente, na noite de
31 de março houve uma irrupção de inexplicáveis
sons muito altos e continuados. Foi nessa noite
que um dos grandes pontos da evolução psíquica
foi alcançado, desde que foi nessa noite que a
jovem Kate Fox desafiou a força invisível a
repetir as batidas que ela dava com os dedos.
Aquele quarto rústico, com aquela gente ansiosa,
expectante, em mangas de camisa, com os rostos
alterados, num círculo iluminado por velas e
suas grandes sombras se projetando nos cantos,
bem podia ser assunto para um grande quadro
histórico. [...]
Conquanto o desafio da
mocinha tivesse sido feito em palavras brandas,
foi imediatamente respondido. Cada pedido era
respondido por um golpe. Posto que humildes os
operadores de ambos os lados, a telegrafia
espiritual estava funcionando. Deixavam à
paciência e à dedicação da raça humana
determinar as alturas do emprego que dela faria
no futuro. Havia muitas forças inexplicáveis no
mundo, mas aqui estava uma força que pretendia
ter às suas costas uma inteligência
independente. Isto era a suprema significação de
um novo ponto de partida. (CONAN DOYLE, s.d. p.
74-75)
Some-se a isso que o
autor-defunto, ou defunto-autor (lembrando as
palavras de Machado de Assis em
Memórias Póstumas de
Brás Cubas)
das pancadas
alegava ter sido assassinado e enterrado no
subsolo da casa e também revelava coisas
desconhecidas por todos, que eram verificadas em
seguida. Mas, não parou por aí. Outros
invisíveis se apresentaram e consentiam
conversar por intermédio de mesas que se moviam
e produziam, como que livres de qualquer
influência, batidas, com os pés, no assoalho.
Isso, admitindo-se a
incompletude do fato, aqui exposto em linhas
muito gerais, foi o elemento motivador que dará
origem ao Espiritismo, que iria se firmar como
doutrina a partir de 1857, com o lançamento de
O livro dos
Espíritos,
ditado pelos invisíveis a Allan Kardec, segundo
J. Herculano Pires, "o código de uma nova fase
da evolução humana." (KARDEC, 1979, Introdução)
Sua difusão foi
extraordinariamente rápida. Na Inglaterra, sob o
nome ambíguo de 'espiritualismo', na França, na
Alemanha, os médiuns eram descobertos aos
milhares e suas sessões organizadas em todos os
salões. Fazia-se girar mesas, cadeiras, chapéus.
A língua dos espíritos estava em progresso. Não
se contentavam mais em responder sim ou não, ou
em compor frases batendo um número de golpes
correspondentes à posição de cada letra do
alfabeto. Prendia-se um lápis ao pé da mesa, ou
de uma simples prancheta, e eles próprios
escreviam. Melhor ainda, o médium segurava o
lápis e eles dirigiam sua mão. Transmitiam,
assim, as mais diversas comunicações, desde
receitas culinárias até elevadas considerações
sobre a imortalidade da alma e a bondade da
Providência. Joana d'Arc e Napoleão não
desdenhavam de se manifestar. Havia espíritos
solenes, facciosos, havia enfim obscenos: eram
os espíritos das baixas esferas, os maus
espíritos. [...] O São Paulo dessa nova religião
foi o Sr. Rivail, que tomou o nome de Allan
Kardec. Em 1857, com a idade de cinquenta e
quatro anos, escreveu ele, por ditado dos
Invisíveis, seu
Livre des esprits
que foi traduzido em todas as línguas e que
ainda é o
Credo da fé
espírita.(SUDRE, 1966, p. 39-40)
O espiritismo, que se
desenvolveu com grande força na Europa dos
séculos XVIII e XIX, segundo Conan Doyle, deve
muito a Emmanuel Swedenborg, famoso dotado
sueco, que antecipou algumas ideias presentes
hoje na doutrina, como a possibilidade de
contato entre dois mundos: o físico e o
espiritual.
O Espiritismo conseguiu
se firmar no continente europeu na segunda
metade do século XIX, segundo Gil (2010), graças
a um discurso em harmonia com os valores que
faziam parte do imaginário da época, tais como o
cientificismo, a racionalização, a
experimentação, a laicização da sociedade e o
positivismo. Desde o seu início buscou
harmonizar ciência e religião, estabelecendo um
duplo vínculo, nem sempre claro o suficiente
para grande parte de seus praticantes, muitas
vezes oscilantes entre o aspecto experimental e
científico, por um lado, e por outro, apegados
mais aos componentes religiosos da doutrina.
Mas isso assemelha-se
mais a deslizamentos semânticos do que
propriamente ideias contrárias sobre uma mesma
doutrina.
O Espiritismo buscou
sempre, desde suas origens, separar as possíveis
contradições presentes no seu domínio entre
ciência e religião, cultivando uma forte
identidade entre seus seguidores.
Nesse
sentido, várias são as situações de duplo
vínculo que permeiam os jogos de identidade e as
articulações semânticas singulares que fazem os
livros publicados, as declarações públicas e os
posicionamentos de informantes deslizarem no
eixo ciência-religião de forma nem sempre
percebida como coerente pelos atores. Os
espíritas praticantes têm muitas situações
diversas a interpretar e contextos de interação
para lidar, que conjugam relações com outros
médiuns, espaços rituais, relações com pessoas
de fora do movimento, assim como momentos
solitários de auto-reflexividade para os quais é
positi- va a indeterminação da relação
ciência-religião (ou racionalidade e crença),
permitindo ao espírita a gestão da própria
identidade entre outras coisas, pelo
deslizamento no eixo ciência-religião. (LEWGOY,
2006)
O fato
possível de ser percebido é o uso pragmático dos
conceitos de ciência e religião que orbitam em
torno do Espiritismo, em particular, e das
religiões no geral.
II.
Procuraremos tratar
neste artigo, o mais didaticamente possível, sem
a pretensão de abarcar a totalidade dos aspectos
envolvidos nos estudos parapsicológicos, quais
os objetivos e, consequentemente, a linha
divisória entre a Parapsicologia e os
fenômenos atribuídos aos desencarnados.
Antes de tudo, cabe
deixar claro que, para os estudiosos da área,
como em todos os campos do saber, as incertezas
são sempre maiores, infinitamente maiores, que
as certezas.
Mesmo assim, algumas
certezas podemos ter.
Em primeiro lugar a
existência, ou não, dos espíritos, para os
estudos parapsicológicos, é indiferente. A
Parapsicologia, sem negar a existência de tais
personalidades, buscou explicações para uma gama
variada de ocorrências, antes atribuídas à ação
dos desencarnados, e chegou a novas respostas.
- Não são os espíritos dos mortos, demônios ou
qualquer que seja a denominação que queremos
lhes dar, que estão por trás das ocorrências
paranormais, mas a mente humana.
Parece-me minimamente
razoável dizer que tal posicionamento motivou um
divisor de águas entre aqueles que defendiam a
participação dos espíritos (Espiritismo), em
inúmeras ocorrências, e aqueles que estavam
convencidos que os fatos observados nada tinham
a ver com os desencarnados (Parapsicologia).
Inclusive, muitos espíritas, vários merecedores
da mais digna consideração, aceitam que muitas
ocorrências, atribuídas aos espíritos, são fruto
da mente dos médiuns. Todavia, não descartam a
possibilidade de que outras estejam ligadas,
direta ou indiretamente, a tais entidades. Mas,
não estabelecem uma linha demarcatória, clara e
precisa, que estabeleça uma separação entre um
caso e outro.
Em resumo, podemos
afirmar, não sem opositores, que a diferença
fundamental entre a Parapsicologia e as
doutrinas espiritualistas, particularmente o
espiritismo kardecista, é que estas aceitam,
como certo, a independência de seres,
transcendentes à morte física, capazes de
intervir neste mundo (dos vivos), o que
justificaria a ocorrência de vários fenômenos
observados por uma gama infinita de
pesquisadores. A Parapsicologia, sem negar tal
intervenção, trabalha com a convicção de que os
fenômenos de natureza parapsicológica emergem do
complexo, e ainda pouco conhecido, psiquismo
humano. O fato que merece destaque é que
nunca foi constatada, pela Parapsicologia, em
experimentos controlados, a presença dos
espíritos. Justifique-se também que os mesmos
resultados atribuídos à ação dos desencarnados
podem ser obtidos por pessoas hipnotizadas, ou
simplesmente sugestionadas/autossugestionadas,
partidárias, ou não, da ação dos invisíveis.
Devemos, portanto, cuidar para que fenômenos de
natureza parapsicológica sejam separados dos
fenômenos de natureza mediúnica ou espírita.
Parapsicologia nada tem a ver com crenças e
afirmações religiosas.
O fato, em resumo, é que
quanto mais avançavam (e avançam) os estudos,
mais distantes ficavam as alegadas
participações/intervenções dos espíritos. Isso
evidenciou que os desencarnados não eram (e não
são) a melhor opção de resposta.
III.
Sobre a capacidade de
perceber o futuro
A parapsicologia
reconhece que fatos, num futuro próximo, ou
mesmo distante, podem ser percebidos por
determinadas pessoas, em determinadas condições,
sempre variáveis. Mas, o assunto merece uma
série de considerações, para não cairmos no
"canto da sereia". Antes, deixemos claro, que
essa capacidade de prever o futuro, sob o ponto
de vista da Parapsicologia, nada tem a ver com
os atos premonitórios defendidos pelos
espiritualistas. Muito menos com as chamadas
"previsões" feitas a preços módicos (nem
sempre), por vezes com hora marcada, por
vendedores de ilusões. Os chamados videntes.
Muitos não passam de estelionatários.
Sob a perspectiva
parapsicológica a precognição (termo
preferível), nome dado à percepção de fatos que
ocorrerão no futuro, nada tem a ver com
"avisos" ou "influências" de outra natureza.
Para a Parapsicologia é uma capacidade humana. É
talvez a capacidade humana que mais tira o
sossego dos experimentadores.
Limito-me a dizer,
sem negar outras possibilidades, que tal
aptidão não ultrapassa os limites das concepções
mentais. Neste sentido, comungo com Santo
Agostinho quando reflete sobre
como se faz para
falar do passado ou para predizer o futuro.
(1984, Livro
IX)
Qualquer que seja a
natureza dessa misteriosa previsão do futuro,
não podemos ver senão o que existe. Mas o que
existe não é futuro, e sim presente. Por
conseguinte, quando dizemos que vemos o futuro,
não se veem os próprios acontecimentos ainda
inexistentes, - isto é, o futuro, -
mas sim as causas ou
os sinais precursores que já existem.
Portanto, para quem vê, não se trata de futuro,
mas do presente, do qual é tirada a predição de
um futuro concebido na mente. (Livro IX, p. 322,
gn.)
Parece-me bastante
razoável esta linha de reflexão de Santo
Agostinho.
Contudo, dizer-se
"bastante razoável" não significa dizer
suficiente. Nem todas as ocorrências
precognitivas podem ser explicadas dessa forma.
Eu vejo os espíritos
Durante muitos anos
ouvi, por parte de alguns médiuns, dizer que
viam os "espíritos" nas sessões que participavam
e mesmo em lugares comuns, frequentados por
todos. Suspeitando de tanta confiança declarada
fiz, sem alarmes antecipados, o seguinte teste:
Coloquei três médiuns
videntes, em condições controladas, para
descreverem o "espírito" que se apresentaria,
numa determinada sessão.
Os médiuns, ao serem
perguntados, em conjunto, sobre as
características físicas do "espírito" que se
manifestou, (altura, sexo, vestuário, etc.)
todos, sem exceção, o descreveram da mesma
maneira, com mínimas variações.
Contudo, quando a
experiência foi repetida e separados os médiuns,
para que não tivessem conhecimento do que cada
um estivesse descrevendo, apresentaram
resultados totalmente diferentes, incompatíveis
até, em relação ao "espírito" que, segundo eles
próprios, estava se apresentando.
Ora, isso nos leva a
pensar, pelo menos num primeiro momento, que
tais médiuns, diferentemente do que afirmavam,
ou seja, "ver" tais entidades, tinham
apenas
sensações,
quase certamente motivadas pelo contexto
cultural e religioso em que estavam inseridos.
Nada mais. Esse tipo de teste, com maiores
ou menores variações, repeti, ao longo do tempo,
várias vezes, e os resultados sempre foram
equivalentes. A justificativa de que um único
espírito pode apresentar-se de várias formas a
pessoas diferentes, ao mesmo tempo, nada
justifica, admitindo-se, contudo, o grau de
alienação religiosa que envolve tais
argumentadores. Deixo claro que não se trata
aqui de uma ofensa a quem comunga com tais
ideias. Por outro lado, ofende a capacidade
intelectiva do interlocutor um argumento
rasteiro colocado como se fosse uma verdade
inquestionável.
Uma outra afirmação. O
mesmo problema.
Muitos afirmam sair do
corpo "em espírito" e "viajar" por mundos
desconhecidos. São as conhecidas viagens
astrais, projeção de consciência, o nome não é
importante, e ver tudo o que ocorre em tais
lugares. Trazem informações minuciosas de um
mundo estranho, distante, por vezes extremamente
complexo, detalhes dos próprios detalhes. Bem,
"a língua não tem osso", dizia minha mãe.
Todavia, tenho um código
escrito, preparado por mim, sob determinadas
condições, que está envelopado há mais de uma
década. Sempre pedi a tais viajantes para que me
trouxessem esse código. Simples assim. -
Inclusive, creio tarefa pequena para quem traz
tantas e tão detalhadas informações de mundos
tão distantes e pouco acessíveis, como as
alegadas por tais viajantes astrais. Afinal, o
meu código está neste mundo, a poucos passos,
com endereço completo, número, local exato e,
acima de tudo, autorizado o acesso. Explicações
diversas, justificativas injustificáveis. Mas,
em relação ao código: NADA.
Aparentemente uma
experiência nada tem a ver com a outra. Todavia,
quando tais viajantes encontram-se aqui, em
terra firme, com seu grupo privilegiado,
composto por outros viajantes astrais, conversam
entre si como se tivessem vivenciado, por vezes,
a mesma e única experiência. Chegam, segundo
eles, a marcar um local determinado para
encontro no plano astral. Veem as mesmas coisas
e, com facilidade, complementam-se entre si. MEU
CÓDIGO, contudo, continua à espera.
As alucinações sob a
perspectiva parapsicológica
Sabemos que alguns
distúrbios mentais levam a visões ou, mais
adequadamente, alucinações. Devemos ter em
mente, todavia, que as alucinações, no âmbito da
Psicopatologia, não estão associadas a nenhum
tipo de ocorrência no mundo real. Daí serem
percepções reais de objetos inexistentes, dito
de outra maneira, percepções sem um estímulo
externo.
Em relação à
fenomenologia parapsicológica devemos guardar
certa distância, e um enorme cuidado, ao
falarmos em alucinações.
Em parapsicologia não
há alucinações, nos termos tratados pela
Psicopatologia.[1]
Também as ocorrências de natureza
parapsicológica não estão associadas a
distúrbios mentais.
O termo alucinação é
usado em Parapsicologia apenas por falta de uma
terminologia própria, e aceita por todos os
estudiosos, que identifique adequadamente os
estados em que há uma "alucinação
parapsicológica" (na verdade uma percepção
paranormal). Não há em Parapsicologia uma
"alucinação", por definição, uma percepção
independente de um objeto, ou evento externo
real. Isso, por si só, já deveria desqualificar
o uso do termo no domínio da Parapsicologia.
Algo de real no mundo físico propicia a
"alucinação"/percepção parapsicológica, ou seja,
há sempre um estímulo motivador externo,
objetivo. Nenhum dotado tem uma
"alucinação"/percepção parapsicológica de morte
sem que haja ocorrido uma morte, de fato, no
mundo real. O fato dessa percepção
transformar-se em uma projeção inconsciente
(ideoplasmia), muitas vezes capaz de ser vista
por outros que estiverem no mesmo ambiente,
não fazem dela uma alucinação, nos termos que
aqui abordamos. Apenas reforça a ideia de um
fenômeno distinto, de outra natureza. Talvez
seja bom dizer que em Parapsicologia existem
percepções em relação ao futuro (precognição),
em relação ao passado (retrocognição) e também
aquelas relacionadas ao momento presente
(simulcognição), todas pertencentes à categoria
das PES - Percepção extrassensorial ou
(Psi-Gamma).
Visões e aparições:
limitando os conceitos
Separemos ainda
conceitos que andam de boca em boca como
sinônimos.
Em termos
parapsicológicos
visões
são diferentes de
aparições.
As visões sempre são de natureza subjetiva. As
aparições, por vezes chamadas de
materializações, é um dos fenômenos do grupo das
ectoplasmias. Implicam em materialidade.
Observemos ainda, o
que é comum, que muitos ao afirmarem terem
"visões do outro lado", nada mais têm do que
sensações,
quase sempre associadas a crenças. Tais
testemunhos dos "videntes" quando repetidos e
sob olhares (e ouvidos) gentis, que não exigem
um mínimo de racionalização, tornam-se
aparentemente
verdades. Nada mais
falso.
Guardadas as devidas
proporções, isso me fez lembrar de Pirro (318
a.C - 272 a.C), rei dos epirotas, cujo dedo
grande do pé, dizia-se, fazia milagres e curava
doenças. Ora, como patranha cria patranha
o povo criou, além de tudo, a lenda de que o
dito dedo sobreviveu a cremação do próprio
corpo de Pirro. Tudo isso,
forjado
pelo povo, e repetido à maneira de um mantra,
também foi
acreditado,
como verdade, pelo próprio povo.
Também o imperador
romano Vespasiano ficou célebre por fazer muitos
milagres, dentre eles, recuperar a visão de
cegos.
Sem querer ser irônico,
ou forçar um trocadilho, só "cego" para
acreditar nisso.
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