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REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
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Se sois Jesus, que quer dizer Salvador,
sede Jesus e sede Salvador nosso. Se sois sol, e sol de justiça, antes
que se ponha o deste dia, deponde os rigores da vossa. Deixai já o signo
rigoroso de Leão, e dai um passo ao signo de Virgem, signo propício e
benéfico. Recebei influências humanas de quem recebestes a humanidade.
Padre António Vieira [*]
Introdução
Em termos simbólicos um brasão de armas constitui um emblema, um
significante complexo, um objecto desenhado, fundido, gravado,
esculpido, tecido ou pintado - um signo visual, icónico. Enquanto
objecto físico suporta um significado, que poderá ser multidimensional,
uma mensagem, que se pode entender como codificada. A definição de
signo reporta-nos para algo que está em vez de alguma outra coisa,
aliquid stat pro aliquo, segundo algum aspecto ou capacidade,
gerando modalidades de enunciação, processos de semiose. |
DIREÇÃO |
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Maria Estela Guedes |
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JOSÉ
PINTO CASQUILHO
Das armas
de Portugal |
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José Casquilho |
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Umberto Eco recorda-nos que o emblema, como signo icónico, seja a cruz ou
o crescente lunar, remete-nos para um campo definido de significados
indefinidos [1], sendo que os códigos icónicos baseiam-se o mais das
vezes em elementos perceptíveis realizados com base em códigos de
transmissão, articulando-se em figuras, signos e semas [2], e os
chamados signos icónicos, tanto arbitrários como motivados, são
analisáveis em unidades pertinentes codificadas e sujeitos a uma
articulação múltipla [3]. Pode o emblema ainda ser visto como objecto de design, que se caracteriza pela sua reprodutibilidade; um objecto
de design possui [4]: primeiramente uma dimensão material chamada
hilética, em segundo lugar é um objecto, ou seja possui uma dimensão
semântica chamada morfética, e em terceiro lugar possui uma
funcionalidade técnica, uma dimensão sintática chamada sintética. Servem
estes enunciados para recordar que a semiótica enquanto método, ou
projeto científico, estará sempre pressionada por duas exigências [5]: a
teoria que obriga à coerência e à interdefinição, e o objecto, que
obriga à atenção e adequação.
Ainda em termos metodológicos registe-se que os dois grandes sistemas
antigos, epicurismo e estóicismo, baseavam-se em modelos diferentes [6]:
os epicuristas elaboraram um modelo que era a declinação do átomo,
privilegiando os nomes e os adjetivos, enquanto os estóicos referiam a
conjugação dos acontecimentos tomando lugar nos verbos e na sua
conjugação, em função dos laços entre acontecimentos incorporais.
O trabalho que se segue centra-se na análise morfodinâmica das armas de
Portugal expressas ao longo de séculos em objectos de diversa natureza -
não é exaustivo em profundidade nem completo em extensão, antes visa
salientar alguns marcos que se revelam simbolicamente interessantes, que
poderão ser ainda pontos de partida para outras estórias.
Estamos no centenário da República Portuguesa. Na bandeira nacional temos
ainda hoje, central, o escudo de armas de Portugal, numa semelhança
notável com o que é apresentado na figura 1, reprodução de iluminura com
vista da cidade de Lisboa, da Crónica de D. João I, de Fernão Lopes,
havendo notícia de que terá sido inserida no códice, tendo autoria
anónima datada da primeira metade do século XVI [7]. Temos então que o
escudo, com as cinco quinas, os sete castelos e os besantes, repousa
desde há cinco séculos sobre uma modalidade da esfera armilar. |
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Fig. 1
– Pormenor de iluminura da Crónica de D. João I |
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O
escudo de armas |
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O escudo de armas apareceu com a função de identificador no campo de
batalha: um desenho único como se fora uma impressão digital
reconhecível à distância; afirma Caetano de Sousa que não se lhe conhece
antiguidade maior do que o século X [8]. De facto o escudo só começa a
ser imprescindível em termos de identificação do portador à distância a
partir do momento em que os homens se apresentam completamente
couraçados na armadura, e portanto irreconhecíveis a menos de um sinal
caracterizador: um índice feito de símbolos. Ao escudo de armas da Idade
Média associam-se depois toda uma série de rituais em tempos de paz, que
relevam de um código moral - o código de cavalaria; Ramon Lull, um nobre
aragonês que depois se converteu em eremita, escreveu o Libre del Ordre
de Cavayleria em 1275, considerado durante séculos o texto de
referência; a Heráldica principiou no século XII, entendida como a arte
de formar e descrever brasões de armas, referida como uma ciência nobre
[9]. O emblema do escudo pode então ser referido como um sistema
hereditário de cores e símbolos que permite a identificação do
referente, seja este homem, família, ou instituição, incluindo Estado.
O escudo de armas de Portugal tal como aparece hoje na bandeira da
República Portuguesa tem uma longa história onde se dá conta de uma raíz
que alcança os primórdios da emergência do reino até ao condado
portucalense. É assunto estudado por muitos [v. por exemplo 10, 11, 12],
mas parece sempre poder juntar-se algo mais que acrescente sentido, nem
que seja adensando um mistério. |
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Dos
primórdios de Portugal |
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A carta de foro concedida à cidade de Guimarães por Teresa, filha
bastarda de Afonso VI de Leão, e seu marido Henrique de Borgonha, pais
de Afonso Henriques, data de 1095-96; esta terá sido a primeira cidade
do condado portucalense a ter esse privilégio [13] e o documento
apresenta uma cruz templária no final. Também é muito conhecida a carta
de couto dada ao mosteiro de Tibães - fundado por Teresa e Henrique em
1110 - por Afonso Henriques, onde assina com uma cruz a delimitar quatro
quadrantes como se vê na figura 2, sendo este geralmente considerado o
documento mais antigo relativo ao uso do título de rei de Portugal,
datado de 1140 [14], ano seguinte à batalha de Ourique. A bula
Manifestis Probatum onde o Papa Alexandre III sanciona o título de rei
de Portugal data de 23 de Maio de 1179, quarenta anos depois [15]. |
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Fig. 2
– Assinatura de Afonso Henriques na carta de couto dada ao mosteiro de
Tibães |
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De Afonso I de Portugal diz-se que o escudo de armas era formado
inicialmente por uma cruz azul em duas tiras de couro pregadas. As
marcas dos pregos que fixavam a cruz poderão ter constituído o
significante a partir do qual emergiram os escudetes como aglomerados de
besantes ou dinheiros, pequenas pintas circulares. O escudo do primeiro
rei de Portugal foi levado por Sebastião para Alcácer-Quibir e aí se
perdeu, mas um cadeiral manuelino do mosteiro de Santa Cruz em Coimbra
contém uma reconstituição: embora a moldura externa seja tipicamente
manuelina, o escudo contém os cinco escudetes com os laterais
horizontais e presumivelmente as cadeias da batalha de Navas de Tolosa
cruzando nas diagonais [v. 16].
O selo de Afonso II, representado na figura 3 tem os cinco escudetes
picados de besantes na forma geral de cruz; estamos no tempo em que doou
aos frades de Évora o domínio de Avis com o encargo de construírem um
castelo [17], e assim se instituiu a Ordem de Avis abandonando a
designação original de Calatrava. |
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Fig.
3 – Selo de chumbo de Afonso II |
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Castelos, anjos e dragão |
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É adquirido que os castelos só emergiram no escudo de armas do rei de
Portugal com Afonso III e existem pelo menos duas interpretações a
propósito: numa os castelos simbolizariam os procuradores dos concelhos
com assento nas cortes; noutra, Afonso, o Bolonhês, teria introduzido os
castelos assim se demarcando do primogénito seu irmão Sancho II a quem
sucedeu, introduzindo a ascendência de sua segunda mulher Beatriz de
Castela, filha de Afonso X, o Sábio. Esta segunda hipótese convém às
boas regras da Heráldica.
Pode ver-se escudo de armas de Afonso III, numa das portas de entrada do
castelejo no Castelo de S. Jorge em Lisboa - a porta da R. do Espírito
Santo [v. 18] - o brasão é presumivelmente datável do tempo em que
Lisboa foi erguida a capital do reino (c. 1256). Tem vinte castelos,
este número será variável até à sua fixação em sete pela reforma
introduzida por João II, e ainda terá umas variações esporádicas depois.
Noutro trabalho defendeu-se que a evidência de escudo de armas coroado só
surgia em selos e moedas com D. Duarte, na dinastia de Avis [19], no
entanto, fazendo intervir a tumulária há a hipótese de Fernando I, sem
descendência masculina, desejar encerrar a dinastia afonsina ou de
Borgonha legando um escudo coroado como armas do rei de Portugal, numa
simbologia que virá a ser utilizada em pleno na dinastia de Avis.
Na figura 4 vê-se o topo de uma das faces do túmulo de Fernando, o
fermoso, inicialmente depositado no convento de S. Francisco em
Santarém e hoje no museu do Carmo em Lisboa. Ao contrário de uma secção
lateral do túmulo onde se apresentam quatro escudos de armas idênticos
com as armas de Portugal, sem coroa e sem anjos tenentes, acoplados em
cadeia alternada por bustos, este tem coroa flordelisada com parras de
videira, semelhante à(s) que o rei usava em efígies de moedas e selos,
de modelo semelhante à que usava Afonso X de Castela no século XIII. |
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Fig. 4
– Túmulo de Fernando I no Museu do Carmo |
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A coroa representada no túmulo de Fernando será do tempo da morte do rei
ou algo posterior? Diz quem estudou aprofundadamente o discurso
litográfico do túmulo e o contexto que a análise dos testamentos do rei,
em particular do segundo, de 1383, mostra que ele legou pequena quantia
para acabamentos [20]: terminar ornamentos e juntar outros,
eventualmente um pano, e ainda para manutenção futura.
Poderá assim a coroa ter sido introduzida após a morte do rei, como selo
- repare-se que no contexto a coroa está dominada para encaixar no
espaço residual que resta entre o escudo e a moldura circular; o círculo
polilobado ainda se pode interpretar como um precursor da esfera
armilar. No entanto pouco importa que tenha sido antes da morte do rei
ou pouco depois, trata-se de um legado simbólico em que os anjos
seguram, ou amparam, a esfera polilobada onde encaixa o escudo de armas
com onze castelos, coroado.
É com Afonso V que há as primeiras notícias da utilização das armas do
rei de Portugal em pendão, estandarte ou bandeira, dispensando o escudo
de cavaleiro. É o que se vê nas tapeçarias de Pastrana onde o símbolo
real mostra doze castelos, e os cinco escudetes terminados em ponta pela
flor de lis, alusiva à cruz de Avis, que dava o nome à dinastia. Na
figura 5 vê-se, além das armas, a empresa do rei representada pelo seu
dístico pessoal, o rodízio, e ainda a cruz de S. Jorge. |
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Fig. 5
– Afonso V representado numa tapeçaria de Pastrana alusiva à tomada de
Arzila |
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O dragão era usado como símbolo mitológico nas armas do rei de Portugal
durante a dinastia de Avis, mais exposto ou mais oculto. Na figura 6 que
representa um pormenor do portal dos Jerónimos em Lisboa, tem-se as
armas reais de Manuel, o Venturoso: o escudo com sete castelos, cinco
quinas cada uma com cinco besantes, encimado de elmo coroado e dragão.
Nas armas da época também figuram, o mais das vezes, os anjos tenentes,
e outros, como por exemplo na Leitura Nova. |
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Fig. 6
– Armas do rei de Portugal no portal do mosteiro dos Jerónimos |
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Esfera
armilar e coroa imperial |
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A esfera armilar surge na sala do trono representada ao lado das armas de
Portugal desde D. Duarte, e será o símbolo da empresa manuelina dos
descobrimentos. As armas do rei Manuel I que marcam os sistemas de pesos
e medidas de 1499 mostram o escudo coroado com coroa aberta e esfera
armilar separada; é com Sebastião que se opera nova reforma dos sistemas
de pesos e medidas em 1575, e nas marcas reais observa-se uma curiosa
síntese: desaparece a esfera armilar enquanto a coroa se fecha como
coroa imperial com arcos; dir-se-ia que ocorreu uma fusão metamórfica
dos dois símbolos. Tal fusão também está patente nos canhões da época,
havendo exemplares híbridos, que ostentam simultaneamente a coroa
imperial e esferas armilares. Na figura 7 mostra-se um troço de canhão
com as armas de Sebastião: a coroa real que encima o escudo está fechada
por arcos, 5 expressos e 3 implícitos na retaguarda, terminando na bola
do mundo encimada pela cruz. |
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Fig. 7
– Armas em canhão do tempo de D. Sebastião, exposto no Museu Militar |
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Com a Restauração em 1640 assume-se a coroa fechada, mas apenas com
quatro arcos, como está representada na figura 8, três visíveis a que
acresce o posterior, a menos das mutilações, onde as armas do rei de
Portugal encimam a porta de Santa Cruz no castelo de S. Jorge. É sabido
que João IV legou a coroa real a Nossa Senhora da Conceição de Vila
Viçosa, designada desde então, além de padroeira, rainha de Portugal.
São conhecidos os retratos e gravuras da aclamação onde o rei se
apresenta coroado com uma coroa de quatro arcos encimada de globo e
cruz. Quer João IV quer Afonso VI usaram este modelo mas quando
transitou para a regência de Pedro II, este demarcou-se das armas de seu
irmão retomando os oito arcos. |
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Fig. 8
– Armas do rei de Portugal após a Restauração |
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Com João VI, além da plenitude da representação imperial recupera-se
ainda a esfera armilar, entretanto desaparecida das armas do reino desde
Sebastião, e que logo voltará a eclipsar-se novamente. Dir-se-ia que
entretanto a bola foi passada ao Brasil. Acrescem nas armas do rei os
elementos vegetalistas circundantes. |
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Fig. 9
– Armas reais representadas num canhão do museu Militar de Lisboa |
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O
mistério do escudo sem castelos |
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No Bairro Alto em Lisboa existe um
edifício que antes foi designado Real Colégio dos Catecúmenos e foi
fundado pelo rei e cardeal Henrique em 1579, sendo sede da
cristianização dos catecúmenos e escola da arte de calafetar os navios -
profissão dupla e bem importante na época dos descobrimentos. Foi
reconstruído após o terramoto de 1755 é convertido mais tarde em asilo
de infância por Pedro IV em 1834 e designa-se hoje Estabelecimento de
Calafates da Fundação D. Pedro IV.
O escudo de armas desse edifício que se
mostra na figura 10 parece proveniente do tempo da fundação do colégio
pelo cardeal-rei, pelo enquadramento das armas e pelo grau de erosão da
pedra, bem como pela legenda que está acoplada, e tem uma
particularidade notável: não tem castelos. |
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Fig.
10 – Brasão de armas do Estabelecimento de Calafates |
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Podemos interrogar-nos se tal aspecto, a
ausência de castelos, é um signo arbitrário ou antes motivado. Não se vê
como possa ser arbitrário: um esquecimento do artista numa encomenda
real seria imperdoável e a largura da moldura circundante mostra que
dificilmente havia espaço previsto para pôr os castelos. Dir-se-ia que o
cardeal-rei Henrique optou por mandar obliterar os castelos, talvez
porque o país estivesse à beira de ficar orfão, depois do desastre de
Alcácer-Quibir e na expectativa da morte próxima de um velho rei de
quase setenta anos, sem descendência.
Sem castelos o legado permanece aberto,
indeterminado, estranho. E de facto o cardeal-rei no testamento não
nomeia herdeiro do trono de Portugal. Citando Mário Domingues o rei
assim escreveu: e porque ao tempo, que faço este testamento, não
tenho descendentes, que direitamente hajam de suceder na Coroa destes
Reinos, e tenho mandado requerer aos meus sobrinhos, que algum direito
podem pretender, e está esse caso da sucessão em justiça, por quanto não
declaro aqui agora quem me há-de suceder, será quem conforme a direito
houver de ser, e esse declaro por meu herdeiro e sucessor (...)
[21].
Zero castelos é um símbolo quando sucede
a uma representação sistemática de sete castelos: o número zero demorou
séculos a ser internalizado como tendo existência própria no sistema
numérico árabe e europeu, porque simbolizando o nada ainda significa
alguma coisa o que gera um paradoxo que foi sendo resolvido [v. 22]
significando ou denotando a presença de uma ausência.
Podemos assim prosseguir mais um passo
abdutivo: também se pode dar o caso de o cardeal-rei querer deixar
marcada uma outra presença. Na versão historiográfica oficial Sebastião
morreu em Alcácer-Quibir, no entanto sempre permaneceram ecos de que
assim não teria sido, a que sucederam os falsos sebastiões, dir-se-ia
que como epifenómenos de ressonância dum lastro profundo. Existe notícia
de que Papas diferentes emitiram breves reconhecendo alguém como
Sebastião, rei de Portugal, bem depois de 1578, e o retrato da Câmara
dos Azuis abre uma incursão notável. Nesta hipótese, será que o
cardeal-rei indica com a ausência de castelos no escudo algo como se o
verdadeiro rei de Portugal representado com símbolos de imperador, não
estivera ali - portando-se como fiduciário de coisa incerta ou
indeterminada de que o fideicomissário está pendente ou ausente, e no
entanto implícito? |
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Agradecimentos |
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Ao Rui Viriato, companheiro desta
aventura que viu o escudo sem castelos, e à Zazie, caçadora de gárgulas
e outras simbólicas, que anda lá às voltas com o caramanchão de
glicínias. |
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Referências |
|
[*]http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/BT2803035.html
[1] Umberto Eco, Signo, Enciclopédia Einaudi vol. 31, p:11-51, Imprensa
Nacional Casa da Moeda, Lisboa, 1994.
[2] Umberto Eco, A Estrutura Ausente – introdução à pesquisa semiológica
(7ª ed.), Editora Perspectiva SA, São Paulo, 2007, p:136
[3] Umberto Eco, Tratado Geral de Semiótica, Editora Perspectiva SA, São
Paulo, 2007, p: 170
[4] Elisabeth Walther-Bense, A Teoria Geral dos Signos, Editora
Perspectiva SA, São Paulo, 2000, p: 90
[5] José Augusto Mourão e Maria Augusta Babo, Semiótica – Genealogias e
Cartografias, MinervaCoimbra, Coimbra, 2007, p: 213
[6] Giles Deleuze, Lógica do Sentido, Editora Perspectiva SA, São Paulo,
2006, p: 189
[7] Irisalva Moita (coord.), Lisboa Quinhentista: a imagem e a vida da
cidade - catálogo de exposição temporária, Serviços Culturais da Câmara
Municipal de Lisboa, 1983, p: 81
[8] António Caetano de Sousa, História Genealógica da Casa Real
Portugueza, vol.
IV. Academia Portuguesa de História e QuidNovi, Lisboa, (1738) 2007.
[9] Stephen Slather, The Complete Book of Heraldry, Anness Publishing
Ltd, London, 2005, p: 16
[10]
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bras%C3%A3o_de_armas_de_Portugal
[11]
http://www.edgarteixeira.com/2008/05/as-armas-de-portugal.html
[12]http://www.tuvalkin.web.pt/terravista/guincho/1421/bandeira/pt_hist.htm#1248
[13] Marsilio Cassotti, D. Teresa - A Primeira Rainha de Portugal, A
Esfera dos Livros, Lisboa, 2008.
[14]
http://historiaporumcanudo.blogspot.com/2010/02/o-couto-de-tibaes-3.html
[15]
http://www.arqnet.pt/portal/portugal/documentos/manifestis_probatum.html
[16]
http://cocanha.blogspot.com/2009/10/viva-o-rei.html
[17] Manuel de Sousa, Reis e Rainhas de Portugal, Sporpress, Mem Martins,
2000.
[18]http://www.triplov.com/novaserie.revista/numero_07/jose_casquilho/index.html
[19]http://br.monografias.com/trabalhos913/metamorfose-dinastia-avis/metamorfose-dinastia-avis.shtml
[20] Carla Varela Fernandes, A Imagem de um Rei – Análise do túmulo de D.
Fernando I, Museu Arqueológico do Carmo, 2009, p: 34
[21] Mário Domingues, O Cardeal D. Henrique – o homem e o monarca,
Livraria Romano Torres, Lisboa, 1964, p: 399
[22]
http://br.monografias.com/trabalhos915/da-triade/da-triade.shtml |
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José Pinto
Casquilho.
Centro de Ecologia Aplicada Baeta Neves (CEABN/UTL),
Centro de Estudos de Comunicação e Linguagens
(CECL/UNL).
josecasquilho@gmail.com
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© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
Rua Direita, 131
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PORTUGAL |
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