Podemos dizer que a compreensão que os cristãos contemporâneos têm da sexualidade, do amor e do casamento não foi influenciada pela narrativa cristã, mas sim pelo mito do amor romântico. O romantismo e o século XIX são responsáveis pela entrada em cena da histeria masculina: agora é a feminidade do homem que se projecta na mulher e a torna figura ideal, fatal, star (metáfora histérica e sobrenatural). Acontece ao amor o que aconteceu ao trabalho. O amor era um amor sem condição, singular. Entramos na fase do amor sem frase, virtual. Que entrou no mercado como uma espécie de capital subjectivo. Entramos num novo regime erótico que bem se pode chamar o erotismo do mercado livre
Nós somos homem e mulher, nao apenas pelo facto de sermos seres sexuados, mas porque a nossa diferença é o lugar por excelência do "efeito de palavra", daquilo que fala. No homem e na mulher há mais do que masculino e feminino, macho e fêmea: há uma diferença na igualdade da natureza e só a partir daí se pode falar de unidade. É essa diferença que permite ser "uma só carne". Na tradiçao judeo-cristã o sexo deixa de ser um objecto idolatrado. Nao é a sexualidade que é sagrada, mas a vida. Hoje, pelo contrário, o sexo toma o lugar de um ídolo que teria o poder de dar a unidade no encontro. Não podemos pensar na unidade senão na união e não recusa ou na fusão. O casal humano funda-se na origem que é comunhão na unidade e não no fechamento de um pelo outro. A vida não é um estado mas um acto. Viver é nascer, curar e ressuscitar.
José Augusto Mourão
Director ISTA