REVISTA
TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
ISSN 2182-147X
NOVA SÉRIE
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Maria Estela Guedes
Foto: Ed. Guimarães |
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Fauna e flora, conceitos para viver melhor |
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As fotos abaixo foram tiradas esta manhã
na Herdade do Freixo-do-Meio, em Montemor-o-Novo, onde estou a passar
uns dias. O modo como Alfredo Cunhal Sendim, proprietário, gere a
Herdade, relaciona-se de perto com os conceitos defendidos por Leonardo
Boff, por exemplo nos textos agora em linha, para a Rio+20. Hei de
citá-los e falar deles com mais vagar num artigo que sairá a 1 de julho
próximo, no primeiro número de um jornal novo do Porto, dirigido
por três amigos e colaboradores nossos: Henrique Doria, Alberto A.
Miranda e Carlos Vinagre. Na ocasião daremos a notícia deste caso
editorial feliz em tempos de falência do papel impresso, agora queria
falar de dois conceitos sem os quais nada se entende do que vão
escrevendo cientistas, filósofos como Leonardo Boff, e amadores das
ciências da Terra, como eu sou. Note-se entretanto que, como amadora,
gozo da liberdade de falar de banalidades proibidas aos cientistas,
essas coisinhas que em geral as pessoas ignoram, e por isso as impedem
de participar ativamente na mudança de paradigma obrigatória e urgente,
se quisermos que os nossos descendentes ainda tenham algum oxigénio para
respirar, alguma água potável para beber e algum alimento não envenenado
para levar à boca, nas próximas décadas.
Da mudança de paradigma, e portanto da
salvação nossa com a biosfera, faz parte a conservação das espécies
indígenas, as que habitam o mesmo espaço que nós, nas regiões de que
somos nativos, como elas - desde as formigas aos lagartos, desde as
andorinhas aos moscardos, desde as urtigas aos fetos, desde os carvalhos
aos medronheiros. Em suma, os conceitos a conhecer são os de fauna e
flora - precisamos de proteger as espécies da nossa fauna e da nossa
flora. Porquê? Primeiro, porque não temos o direito de as exterminar,
segundo porque todas elas mantêm entre si e connosco elos de ligação e
interdependência. Na maior parte dos casos, esses elos ainda nem são
conhecidos, mas sabemos a lei geral: a vida alimenta-se de vida. Se
eliminarmos uma espécie (as cobras-rateiras, supondo) o seu alimento
(ratos, na grande parte) vai reproduzir-se aos milhões. Não será o gato
que comerá todos os ratos que andam nas galerias das toupeiras (e os
gatos até os sardões e as sardaniscas comem, o que prejudica a nossa
vida), por isso as nossas culturas serão roídas e andaremos atrás dos
ratos até na cozinha, a envenenar tudo e a nós também com produtos
tóxicos. As cobras-rateiras, em resumo, são nossas aliadas e não nossas
inimigas. Elas fazem parte da nossa fauna; as anacondas e as jararacas,
não! Se virmos uma anaconda por aí, convém chamar alguém que a apanhe e
a leve para o jardim zoológico, porque tais animais são estranhos à
nossa fauna. Se por infelicidade espécimes exóticos se instalam no nosso
habitat e procriam, como não têm predadores naturais, podem
reproduzir-se até à loucura e devorar tudo o que apanham pela frente, o
que provoca a extinção das nossas próprias espécies.
Olhando para as fotos, vemos, além do
casario do monte, espécimes (indivíduos pertencentes a uma população)
vegetais e animais. Será que pertencem à nossa flora e à nossa fauna?
Vejamos: os sobreiros (Quercus suber),
sim, devem habitar a Península Ibérica há muito mais tempo do que nós,
humanos, que só estamos na Terra há 125.000 anos (segundo últimas
informações, recebidas via Odisseia ou programa similar, pela tv-cabo).
E aqui está outro dado para esclarecer: quando a ciência diz que o
Homo sapiens habita a Terra há 45 ou 125.000 anos, isso não
corresponde a um facto, sim ao conhecimento dos mais antigos fósseis
humanos: os mais antigos foram descobertos todos no Norte de África,
para os lados da Etiópia. Por isso a ciência diz que a nossa origem é
africana. No dia em que se descobrirem fósseis de Homo sapiens no
Alentejo, com 200 ou 300.000 anos, então a ciência passará a afirmar que
a espécie humana tem 300.000 anos e que a nossa origem é alentejana. Os
textos científicos apresentam hipóteses e teorias, não podem ser tomados
à letra, há que saber interpretá-los. Posto isto: não faço ideia da
idade dos sobreiros, mas aposto que estão na Terra há mais de 300.000
anos, e este facto convém à definição do que é a fauna ou a flora de uma região:
conjunto de espécies que vivem nela há muito, muito tempo, muito mais do
que nós, que somos quase recém-nascidos, só temos ciências modernas há
dois ou três séculos, e por isso ainda sabemos pouquíssimo acerca dos
animais e das plantas com os quais coabitamos.
Há países que publicaram as suas Flora
e Fauna, pois cada região do planeta tem fauna e flora próprias,
daí que não haja anacondas em Portugal. Podemos encontrar alguma perdida
por aí, mas de certeza não existem fósseis de anaconda nem na Madeira
que, enfim, deve ser a região portuguesa com clima mais apetecível para
essas serpentes. Insisto nesta tecla porque «Ai, Jesus!», as pessoas
sentem horror pelas cobras e lagartos, e lá vão os animais desta para
melhor à sacholada. E lá se ouve a ladainha: as cobras são venenosas, os
lagartos trepam pelas pernas das mulheres e etc.. Credo!, senhores! Na
fauna de Portugal, que eu saiba, só existe uma espécie de serpentes
venenosa, a víbora, mas a sua mordidela não figura no primeiro, nem se
calhar no milionésimo lugar da estatística das causas de mortalidade
humana. Em muitos dos raros casos de mordedura fatal, as pessoas morrem
é de medo, porque são cardíacas ou padecem de qualquer outra
vulnerabilidade.
Fiquemos então com os conceitos
alinhavados grosso modo: fauna e fora dizem respeito a populações
vegetais e animais autóctones, em estado selvagem, naturalizadas ou
pouco domesticadas. Cães, gatos, carneiros e vacas, são animais
domésticos que se encontram sob tutela humana em todo o mundo, por isso,
só por amadorismo ou qualquer excepcionalidade figurariam nos catálogos
faunísticos. O mesmo se diga das batatas, das macieiras, das alfaces,
dos brócolos ou das endívias: plantas cultivadas, tal como os animais
domésticos, selecionados pelo Homem e não pela natureza (evolução
darwiniana), não fazem parte das faunas e floras. O que temos de
proteger é justamente aquilo que destruímos, por arrogância, mas
sobretudo porque não conhecemos os nossos vizinhos na Terra.
Ah, sim, os cavalos da fotografia:
namoravam no meio do montado. Nós temos em Portugal cavalos selvagens,
que por isso figuram, com o seu nome científico e historial, nos
catálogos da fauna portuguesa. Mas não devem ser os da imagem. Os da
imagem são cavalos obtidos pelo engenho humano, não deve haver fósseis
deles no subsolo do montado, mas ficamos por aqui disponíveis para todas
as erratas que os leitores acharem por bem enviar.
Maria Estela Guedes
Herdade do Freixo do Meio, 18 de junho de 2012 |
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Maria Estela Guedes
(1947, Britiande / Portugal). Diretora do Triplov
Membro da Associação Portuguesa de Escritores,
da Sociedade Portuguesa de Autores, do Centro Interdisciplinar da Universidade de Lisboa e do Instituto São Tomás de Aquino. Directora do TriploV.
LIVROS
“Herberto Helder,
Poeta Obscuro”. Moraes Editores, Lisboa, 1979; “SO2” .
Guimarães Editores, Lisboa, 1980; “Eco, Pedras Rolantes”, Ler
Editora, Lisboa, 1983; “Crime no Museu de Philosophia Natural”,
Guimarães Editores, Lisboa, 1984; “Mário de Sá Carneiro”. Editorial
Presença, Lisboa, 1985; “O Lagarto do Âmbar”. Rolim Editora, Lisboa,
1987; “Ernesto de Sousa – Itinerário dos Itinerários”. Galeria
Almada Negreiros, Lisboa, 1987 (colaboração e co-organização); “À
Sombra de Orpheu”. Guimarães Editores e Associação Portuguesa de
Escritores, Lisboa, 1990; “Prof. G. F. Sacarrão”. Lisboa. Museu
Nacional de História Natural-Museu Bocage, 1993; “Carbonários :
Operação Salamandra: Chioglossa lusitanica Bocage, 1864”. Em
colaboração com Nuno Marques Peiriço. Palmela, Contraponto Editora,
1998; “Lápis de Carvão”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2005; “A_maar_gato”.
Lisboa, Editorial Minerva, 2005; “À la Carbonara”. Lisboa, Apenas
Livros Lda, 2007. Em co-autoria com J.-C. Cabanel & Silvio Luis
Benítez Lopez; “A Boba”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2007;
“Tríptico a solo”. São Paulo, Editora Escrituras, 2007; “A poesia na
Óptica da Óptica”. Lisboa, Apenas Livros Lda, 2008; “Chão de papel”.
Apenas Livros Editora, Lisboa. 2009; “Geisers”. Bembibre, Ed.
Incomunidade, 2009; “Quem, às portas de Tebas? – Três artistas
modernos em Portugal”. Editora Arte-Livros, São Paulo, 2010.
“Tango Sebastião”. Apenas Livros Editora, Lisboa. 2010. «A obra ao
rubro de Herberto Helder», São Paulo, Editora Escrituras, 1010;
"Arboreto». São Paulo, Arte-Livros, 2011; "Risco da terra", Lisboa,
Apenas Livros, 2011.
ALGUNS COLECTIVOS
"Poem'arte - nas margens da poesia". III Bienal de
Poesia de Silves, 2008, Câmara Municipal de Silves. Inclui CDRom
homónimo, com poemas ditos pelos elementos do grupo Experiment'arte.
“O reverso do olhar”, Exposição Internacional de Surrealismo Actual.
Coimbra, 2008; “Os dias do amor - Um poema para cada dia do ano”.
Parede, Ministério dos Livros Editores, 2009.
Entrada sobre a Carbonária no Dicionário
Histórico das Ordens e Instituições Afins em Portugal, Lisboa,
Gradiva Editora, 2010. "Munditações", de Carlos Silva, 2011. "Se lo
dijo a la noche", de Juan Carlos Garcia Hoyuelos, 2011; "O
corpo do coração - Horizontes de Amato
Lusitano", 2011.
TEATRO
Multimedia “O
Lagarto do Âmbar, levado à cena em 1987, no ACARTE, Fundação
Calouste Gulbenkian, com direcção de Alberto Lopes e interpretação
de João Grosso, Ângela Pinto e Maria José Camecelha, e cenografia de
Xana; “A Boba”, levado à cena em 2008 no Teatro Experimental de
Cascais, com encenação de Carlos Avilez, cenografia de Fernando
Alvarez e interpretação de Maria Vieira. |
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