Nova Série

 

 

 

 

IX COLÓQUIO INTERNACIONAL
«DISCURSOS E PRÁTICAS ALQUÍMICAS»

CENTRO CULTURAL GONÇALVES SAPINHO
Benedita, 29-30 de Maio de 2010

TEMA: O Céu e a Terra

“The great enterprise of the mind has always been and always will be the attempted linkage of the sciences and humanities”. (Edward Wilson)

“Se acabas por perder a Terra, de que te serve ter salvo a alma?”…“Se ousasse, diria que a imitação de Jesus Cristo consiste em fazer ‘como ele’: voltar-se para a Terra em perigo, abandonando a quietude do Céu”. (Bruno Latour)

Sétimo Severo fez construir um palácio, e nele uma grande sala em que dava audiências e administrava a justiça. No tecto desta sala tinha feito pintar uma representação do céu estrelado, não um qualquer, mas o do seu nascimento, isto é, a constelação das estrelas que presidiram ao seu nascimento e ao seu destino. Assim inscrevia as sentenças, mostrando de que modo o logos que presidia a esta ordem do mundo e que presidira ao seu nascimento era o mesmo que fundava e justificava as sentenças que dava. Tratava-se de mostrar como o seu reino tinha sido fundado sobre os astros. O que se manifestava aqui como poder, podia e devia ser decifrado em verdade na noite do céu.

Durante muito tempo se pensou que a Natureza era um espelho do pensamento divino e, a par disso, também um livro imenso – o codex vivus, semelhante ao codex scriptus da Bíblia, segundo a comparação de Campanella. Por ela deveria fazer-se visível o invisível e os sagrados enigmas serem, até certo ponto, decifráveis. Os bestiários, plantários e lapidários medievais reforçam a inteligência simbólica da natureza. Nos Hieroglyphica de Horapolo (1505) todos os animais e plantas têm algo a dizer-nos. Cada animal é como um artigo do código moral que a natureza nos propõe. Algo de que encontramos eco na obra de Maria Gabriela Llansol.

O céu é a parte da criação incompreensível (invisível) ao homem, a terra é a que lhe é compreensível (visível), diria Karl Barth. Retomemos a analogia dos dois livros: a Bíblia (o 1º Iivro) e a Natureza (o 2º livro). Separar a leitura destes dois livros (obra das religiões e da ciência) tem sido desastroso. Há um evidente curto-circuito entre o alto e o baixo, a imanência e a transcendência, com o medo de perder a “transcendência” ou de cair no panteísmo: “Deus sive natura”, as ciências e as religiões.

“É impossível definir o que é durável e o que é transitório, o que está em cima e o que está em baixo, o que é bem e o que é mal, o que é humano e o que é inumano, sem o submeter desde logo a essa formidável injunção: “Acautelai-vos! Os tempos estão próximos em que correis o risco de perder a Terra” (B. Latour). Este fim voltou a estar próximo e é disso que se ocupa a escatologia ecológica (discurso sobre o fim dos modos de vida antigos). O fim dos tempos somos nós que o impomos a nós mesmos, nos papéis de vítima inocente, pecador malfeitor ou anjo exterminador. É preciso:

a) reconhecer o carácter vivo da Terra - a sua regulação do clima e da química – obriga-nos a reformar o nosso modo de vida

b) reconhecer que quando invocamos o Espírito Santo não é para que nos enxugue as lágrimas, mas para que “renove a face da Terra”;

c) reconhecer que o apelo à lei natural tem sido a pedra de toque de toda uma série de questões controversas - “A Igreja, apegando-se à natureza, corre o risco de perder a sua vocação profunda que é a Criação “em dor de parto”.

Voltar à Terra não é o mesmo que “voltar”, “respeitar”, à natureza. Não há uma natureza a proteger, mas uma Criação a continuar. A ecologia de origem ecológica apenas suscita o terror. Não é da Natureza que se trata: o grande Pã morreu. A grande tarefa da teologia é libertar-se da natureza, indo ao encontro da carne com dores de parto. Sem embarcar no Intelligent Design Movement que pretende derrubar o materialismo e abrir o caminho a uma compreensão teísta da natureza. Não haverá uma conciliação a encontrar? De que me serve salvar a alma se eu e os meus netos perdemos a Terra? Porque deixastes de vos desinteressar pela Terra, vós os guardiães da Incarnação? Tornar-se mestre e possessor da natureza (Descartes), dominar a Terra será o mesmo que desprezá-la? Que pode ser uma teologia cosmocêntrica?                           

                                        José Augusto Mourão op

Benedita - 29-30 de Maio de 2010
Local - Centro Cultural Gonçalves Sapinho

               Promotores - ISTA - Instituto de S. Tomás de Aquino; TRIPLOV; Barafunda, AJCSS; CEPSE - Cooperativa de Estudos e Intervenção em Projectos Socioeconómicos.

(José Augusto Mourão, Maria Estela Guedes, Isabel Rufino)

Apoio: CFAE - Centro de Formação da Associação de

Escolas de Alcobaça e Nazaré  

Programa (pdf)

Resumos (pdf)

 

PATROCINADORES

BARAFUNDA
CEPSE
Instituto S. Tomás de Aquino (ISTA)
Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa (CICTSUL)
TriploV