SÃO TOMÉ EM 1903 / UM PROBLEMA : A PEDRA
JÚLIO HENRIQUES
19-07-2003 www.triplov.com

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Figs. 3 e p (pp.: 136-137)

UM PROBLEMA

É ideia corrente que a ilha do S.Tomé não era habitada quando foi descoberta pelos portugueses. Nunca teria realmente tido habitantes?

O sr. dr. Adriano Pessa, que durante alguns anos exerceu clínica nesta ilha, ofereceu-me um instrumento de pedra perfeitamente comparável a alguns da idade da pedra pulida. Êste instrumento tinha-lhe sido dado por um empregado da roça Porto Alegre, que lhe disse que tinha sido encontrado numas escavações feitas para abrir um caminho.

O exame da pedra de que é formada mostra que é de natureza vulcânica, comparável a algumas das que se encontram na ilha.

A superfície dêste instrumento está um pouco modificada por alteração parcial da rocha, de que é feita.

Qual seria a origem dêste objecto?

Será admissível que alguem, em quaquer época, a levasse para S. Tomé e por acaso a perdesse? Não me parece aceitável tal hipótese, muito especialmente atendendo à circunstância de ser feita de rocha da natureza das rochas da ilha.

Haveria em épocas pre-históricas habitantes na ilha?

Na África ocidental houve habitantes nas épocas da pedra lascada em Mossâmedes e na Huilla e em Mangyanga no vale do Congo.

O sr. Stainier (1) descreve numerosos instrumentos de pedra lascada encontrados no Congo e com êles instrumentos de pedra pulida parecendo-lhe que deveriam pertencer à época neolitica.

Dêsses alguns apresentam forma comparável à de S. Tomé.

Haveria portanto habitantes em S. Tomé na época neolitica?

Bom seria que houvesse em S. Tomé quem procurasse descobrir exemp]ares de instrumentos semelhantes àquele de que dou notícia, pois que um só e desacompanhado de informações sôbre o local e condições em que foi encontrado, mal pode servir de base a qualquer hipótese.

Dêste instrumento de pedra diz assim o meu colega dr. Anselmo F. de Carvalho;

- Talhado numa rocha besaltoide muito compacta, tendo analogias estreitas com exemplares estudados de Nova Moka ou Rio d'Ouro (Fig. p).

Apresenta textura hialopilítica, com passagem a uma disposição fluidal dos pequenos cristais sôbre tudo junto dos cristais de maiores dimensões. Estes são raros e principalmente de augite e olivina, um e outros muito alterados. A augite em quási todos associada à clarite e a olivina à serpentina.

A massa de cristais microscópicos é formada por augite e magnetite, apresentando-se esta última em gráos de dimensões muito seduzidas.

É do grupo das rochas basaltoides mais básicas, podendo classificar-se entre os augitetos.

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(1) Stainier - L' âge de la pierre au Congo. Annales du Musée du Congo, Série III, Bruxelles, 1899.
Portugal em África nº 83 (1900) e 85 (1902).