COMO CAÇAR O LEOPARDO?
Teodósio Cabral, Henrique Galvão & Abel Pratas*
Em segundo lugar porque um número relativamente grande se encontra, em viagens nocturnas, nas estradas cruzadas por automóveis. Os viajantes, geralmente munidos de espingarda, não resistem à tentação de fazer caçada cómoda, e que de facto, quando realizada com certo cuidado, não é difícil. Finalmente, porque também os indígenas lhes dão caça por meio de armadilhas. Quer dizer: são mortos muitos leopardos mas são caçados muito poucos. Daqueles mesmos que caem durante caçadas a maior parte aparecem quando se buscam ou perseguem outros animais. É por consequência o leopardo animal que se encontra mas que raras vezes se procura. Encontra-se por acaso, com facilidade relativa, mas só muito dificilmente se dá com ele buscando-o. Desta forma, se, teoricamente, poderiam estabelecer-se regras de caça ao leopardo -pràticamente só há que considerar o que deve fazer-se nesses encontros de acaso. Digamos desde já: é o leopardo animal que cai e morre bem, sem necessidade de recorrermos a espingardas aperfeiçoadas... uma vez que lhe atiremos bem, com segurança e equilíbrio. Muitos são abatidos com caçadeiras. E com estas já os temos tombado fulminantemente com cargas de chumbo n.º 3. Há várias hipóteses a encarar: a) Encontro durante o dia. O animal, como dissemos, encontra-se nas matas e só em casos muito excepcionais sairá delas durante o dia. É por consequência em tais lugares que há probabilidades de o encontrar. É então menos agressivo e também menos atrevido: o que não quer dizer que não seja sempre perigoso. Se o encontramos sesteando sobre alguma árvore - o que é frequente - é muito provável que, surpreendido, procure passar despercebido, fiando-se nas virtudes de disfarce da pelagem. Nunca, em tais casos, se lhe deve atirar com espingarda caçadeira. Recomenda-se então o tiro à espádua - ou, em boas condições, à cabeça - realizado a distância entre trinta e quarenta metros, para mais e não para menos. Certamente a tal distância não se erra um leopardo - mas é necessário julgar bem o campo de tiro e verificar que não há entre a boca de fogo e o alvo pequenos obstáculos que possam desviar a bala. Um pequeno ramo pode fazê-lo. E se a fera não for mortalmente atingida, em noventa casos sobre cem lançar-se-á sobre o caçador - e em condições apertadas para este o deter na carga. Se o animal foge, à aproximação do caçador - é melhor deixá-lo ir, a não ser que se realizem condições óptimas, mas raras, de o alcançar em corrida, com o tiro na espádua. Se o encontro se dá com o animal no solo, escondido ou levantado por cães, em marcha ou mudando de lugar, o tiro à espádua é de aconselhar, em boas condições. Pode então empregar-se a caçadeira, com cargas de zagalote ou chumbo 1 - e com muito bons resultados - a distâncias não superiores a 20 metros. A distâncias maiores só se lhe deve atirar com bala expansiva. b) Encontro durante a noite. O caso mais frequente destes encontros é o do animal surpreendido na estrada, ou à beira dela, pelos faróis do automóvel. Em noites escuras a fera deixa-se encandear com muita facilidade - a ponto de, por vezes, se manter imóvel e fascinada, durante largo tempo. Está, como bem se compreende, à mercê de um tiro fácil. É a espádua ainda o alvo indicado - podendo servir a caçadeira, até com chumbo 3, a distância inferior a 15 metros. Nas esperas, em bebedoiros onde o leopardo às vezes aparece, enquanto se esperam outros bichos, as recomendações a fazer são as mesmas. Em qualquer dos casos é de elementar prudência não atirar senão com muita segurança. É animal fàcilmente acessível - mas que tem de ser mortalmente atingido, sob risco de grave perigo para o caçador . Leopardos feridos - dizem as boas regras - não se perseguem. Nas armadilhas caem, com muita facilidade, os machos novos e as fêmeas, durante o período de criação dos filhos. Os machos adultos não vão lá senão muito acossados pela fome. Há várias espécies de armadilhas e, digamos, tantas quantas as facetas do engenho do caçador. A mais em pregada, e, certamente, a que dá mais resultado, é a caixa ou jaula, com porta de guilhotina que desce quando o animal, no interior, toca no isco. É verdade que esta armadilha apanha mais hienas do que leopardos - mas destes também muitos lá vão... e ficam. Usa-se também a armadilha de espingarda que .já descrevemos ao tratar da caça ao leão. Em resumo: os leopardos, quando se encontram, e nos lugares onde é possível esperá-Ios ou armar-Ihes ciladas, matam-se ou prendem-se com certa facilidade. Mas entre tal facilidade e o extremo oposto de perigo mortal não dista senão um passo. Por consequência: atirar com muita segurança... e não atirar, desistir, se as condições de segurança se não realizam.
Sobre a domesticabilidade dos leopardos correm versões, por vezes erradas, dada a confusão que vulgarmente se estabelece entre este animal e o leopardo-caçador ou «chita», que adiante descreveremos. Este, que aliás não tem de leopardo senão o nome e certa semelhança física, é de facto domesticável. O leopardo verdadeiro (Felis pardus) não é pràticamente domesticável. Conhecem-se, certamente, casos excepcionais - e nós próprios já os temos encontrado - mas a verdade é que é dos tais animais em que não há que fiar. Os mais mansos e mais habituados à convivência com o homem fazem partida quando menos se espera. Este magnífico patife consente, por vezes, em deixar adormecer a patifaria... mas não a perde. Nem a patifaria nem a beleza.
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