O OVO DE OURO
Maria Estela Guedes / www.triplov.com
22-07-2003
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NOTA:
O TEXTO FOI ESCRITO ANTES DE MAGNO URBANO TER CRIADO O ACTUAL LOGOTIPO DO TRIPLOV,
O TRIPLOVO DE OURO.
ANTES O LOGO ERA O OVO DE ALCA IMPENNIS, UM DOS QUE APARECEM NA ANIMAÇÃO.

Nem o céu é o seu limite. No ovo, concentram-se todas as possibilidades de criar, recriar, renovar e ressurgir. Ele é a prova e o receptáculo de todas as transmutações e metamorfoses. Antes de desfraldar as asas num hino ao Sol, a borboleta foi ovo, depois larva, depois ninfa e a seguir crisálida. Por isso se oferecem ovos na Páscoa, festa do início da Primavera, aquele em que a vida renasce das suas próprias cinzas como a Fénix. Também Cristo se levantou do túmulo do Inverno para desabrochar em Deus feito uma pedra esmeralda.

Os ovos da Páscoa são apenas um pormenor no açafate das tradições, lendas e crenças de a bem dizer todas as culturas do mundo em torno do ovo, e é proveitoso ver como na sua gema há menos delírio de imaginação do que parece. É o caso dos galos que põem ovos, dos heróis que deles nascem ou os põem, do facto de a Terra e primeiros seres humanos terem nascido do ovo cósmico, etc.. Para a alquimia tudo isto se reduz a uma palavra, contida na expressão "ovo filosófico" : tal como o atanor é galinha cujo calor provoca o desenvolvimento do embrião, assim nós chocamos a nossa própria capacidade de atingirmos a sabedoria da maturidade. Nem todos conseguem, daí que em certos tarots os arcanos maiores saltem do XX para o XXII, cientes de que o Homem, evolutiva, mas não darwinisticamente falando, ainda não saiu da adolescência. A palavra que está na clara do ovo filosófico é essa - sageza, sophia.

Quase todos os animais se reproduzem por ovos. Eles são diversos : uns têm casca dura, como os das aves, outros mole, como os dos répteis e anfíbios; uns são grandes como os de avestruz e outros tão pequenos que recebem por nome um diminutivo - óvulos. A maior diferença entre homens e mulheres é este facto extraordinário de os homens não terem ovário, o que nalguns causa complexos, inveja e sentimento de falta de ovos. Se os psicanalistas ainda não se ocuparam do problema, é o momento oportuno para se ocuparem.

É por ovos que nos reproduzimos, por isso não há nada de falso nem de inverosímil nas lendas relativas ao aparecimento por essa via das primeiras criaturas na Terra. Até as plantas por ovos se reproduzem, basta pensar no que é uma semente. De sementes de metais e minerais falavam os alquimistas, como se a matéria inorgânica se reproduzisse e crescesse, e hoje não só se sabe que isso é assim, que crescem, como se criam jóias artificialmente - a diferença está no que também os alquimistas sempre disseram : aquilo que à Natureza leva muito tempo a gerar, podemos nós consegui-lo rapidamente, graças aos recursos da Arte.

Quanto aos galos que põem ovos dos quais nascem basiliscos e crocodilos, direi que é muito fácil inverter o sexo das aves, basta às fêmeas retirar o ovário e os testículos aos machos - estas são experiências clássicas da biologia de finais do século XIX, princípios do século XX, mas cujo conhecimento deve ser mais antigo, por estar relacionado com práticas muito remotas da castração - não só nos animais como no homem. O uso de hormonas com esse fim também deu lugar a muita literatura científica. Se procurar em Biblos-Alexandria, encontrará algumas referências a estas actividades científicas susceptíveis de levarem à descrição de novas espécies, as quais, para nosso imenso desgosto, teriam tendência para se extinguirem logo a seguir, e inclusivamente ao uso de hormonas vegetais para aumentar o tamanho das plantas. Nada disto é novo, tudo remete para alquimistas como Francis Bacon (leia a "Nova Atlântida") e porventura anteriores. O grande problema de sabermos o que sabiam os alquimistas do passado reside na língua das aves, o seu discurso ininteligível. Por excepção, a "Nova Atlântida" tem a transparência do cristal.

Dizia então que para os alquimistas o ovo filosófico é germe de vida espiritual, do qual deverá eclodir o ouro da sabedoria.Há quem lhe chame "pedra de cobre" e a minha grande esperança é que seja esse o segredo da massa cuprífera transmutante e metamórfica acerca da qual há vários textos em linha no TriploV. Não perca essa história - o seu título genérico é precisamente "A Pedra de Cobre" -, um clássico do naturalismo de ascendência alquímica.