Wilson Alves-Bezerra editado em Portugal

Poeta brasileiro Wilson Alves-Bezerra
tem sua obra editada em Portugal


O poeta brasileiro Wilson Alves-Bezerra tem, pela primeira vez, sua obra publicada em Portugal. Trata-se da antologia Exílio aos olhos. Exílio às línguas, que vem com o selo da novíssima editorial OCA, empreendimento dos editores brasileiros Sergio Cohn e Raquel Menezes, que tem como missão difundir a produção literária brasileira em terras portuguesas. A antologia recolhe textos de três livros de Alves-Bezerra, o premiado Vertigens (2015), poemas em prosa que recebeu o mais antigo prêmio literário brasileiro, o Jabuti, na categoria Poesia – Escolha do Leitor; estão ainda presentes poemas de O Pau do Brasil (2016), livro escrito ao calor da política brasileira, no contexto do golpe parlamentar ocorrido no ano passado, e que quer ser uma intervenção lírica no campo da política e da cultura, a partir da recolha de discursos grotescos difundidos em diversos setores da vida brasileira; finalmente, os poemas do próximo trabalho do poeta, a série intitulada Malangue Malanga, que mistura línguas diversas, como o português, o inglês e o espanhol, a fim de suscitar, nas palavras do autor “um delírio linguístico sobre a condição do exílio no mundo contemporâneo”. É a oportunidade de o leitor português conhecer a produção lírica experimental de Wilson, que é também tradutor, professor universitário e crítico literário em seu país. Exílio aos olhos. Exílio às línguas será acompanhado de outras antologias de poetas brasileiros, todos inéditos em Portugal, como o aclamado Roberto Piva (1937-2010) e Afonso Henriques Neto.
O lançamento será lançado no dia 21 de outubro, na livraria Ler Devagar, em Lisboa e contará com a presença do poeta, que está em Portugal especialmente para a divulgação de sua obra.

Contatos:
wilson.alves.bezerra@gmail.com
www.facebook.com/historiaszoofilas


Comentários às Vertigens, de Wilson Alves-Bezerra:

“É uma escrita do outro lado, radicalmente do avesso, antagônica com relação à linguagem instrumental. Por isso, análoga ao delírio: “A varanda com vista à loucura é onde agora fico, contemplando a miséria de uma língua só travas que não pode mais tecer utopias ou gritos.” (Claudio Willer, “Prefácio”)

“Os fragmentos de Vertigens despejam as suas imagens a partir de uma erótica que mama de vários leites estrangeiros e, centralmente, da poesia como estrangeira da língua, ou da poesia entendida como exercício de “exílio” da prosa. O resultado: um português gozosamente inventado e, portanto, desencaixado de todo imaginário de correção e regionalização, dúctil para acompanhar a fluência de cenas de uma corporalidade fugidia e nua.” (Pablo Gasparini, orelhas)

“Aí está o lance premente: permitir que a obra se faça em progresso e incorpore o escritor, a animalidade, em seus júbilos e estertores, uns ligados aos outros.” (Moacir Amâncio, O Estado de S. Paulo)

Comentários a O Pau do Brasil, de Wilson Alves-Bezerra:
“Wilson consegue criar um forte documento político, de intervenção e relato, sem cair no risco do panfletário ou do partidário.” (Sergio Cohn, prefácio)

“Wilson instalou um palanque e um microfone para os discursos do Poder. Não importa sua orientação − direita ou esquerda, verde-amarelo ou vermelho −, o Poder foi, é e será sempre o mesmo leviatã onívoro das lendas selvagens.” (Valerio Oliveria, orelhas)


Alguns poemas de Exílio aos olhos. Exílio às línguas

Um olhar caeté se espicha da borda da
mata à boca do rio e me vê até onde não
estou; um mirante enterrado não mostra a
ninguém o espaço entre os grãos e o que
ele tem em vista. Quando a flecha passeia
caudalosa, as vozes velozes revoam nas
grotas e fazem se mover também os cipós.
As águas que correm cidade abaixo nas
fossas não mudam curso de rio. Cada gota
inunda aos poucos. Braços e coxas se
exibem no coreto. Um grito nas águas, o
balançar dos coqueiros, um massacre
distante, nada detem a escaldante placidez
da cidade molhada. A siesta mata os
despertos que chacoalham moedas na rua;
um olhar caeté controla do alto da torre,
fincada no centro das coisas, o tempo
estancado por sombras. Não tem puteiro,
não tem livreiro, não tem perdão. Na igreja
do Bendito, emparedaram o síndico com o
regulamento nas partes. A cada crime
bárbaro equivale um olhar escondido na
vanguarda; a cada corpo que tomba é um
bicho qualquer o que se está imitando.

(De Vertigens)


Para cantar as vossas crises, trouxe cisnes, trouxe índios, odaliscas e um jarro. Fiquei olhando o conjunto abismado, um defunto sorri plácido, palácio adentro. Sua boca era cloaca, não óculos sangue-partidos de Allende. Discursava. Um ministro cai, outro ministro sai, um ministro fede. Nas ruas ninguém se mexe. Um pintassilgo repousa entre o lábio e a lábia do acusado. Nem um pio. Cisnes indecisos no espelho d´água bicam profundas plumas de titânio. O presidente indignado desfilava num andor, suas asas derretiam, suas entranhas devoravam, suava. Pisava duro, os ossos enfarinhados. Até que. Apesar de. Vê-se tudo pela fresta dos escudos da guarda, entre bala e bala. Plantas nordestinas que se esfregam no Planalto. A garota incontida inundando-se de chamas. Gritos, gases, tapas. A garota incontida inundando-se de pólvora. Bocas, passos, palmas. A garota inflamável. Milhares de bocas no cerrado cimentado. Com tino, com desatino. Há índios e pretos soterrados sob um sol imenso.

(De O pau do Brasil)


O olho del ojo de los eyes. Bleeding vinte days at nowhere. De los ais de Lausanne de los Andes de los Álamos. De donde avance a língua de fogo del sangre of my final judgement. Ninguém será culpable de nadie, nobody is um naco de pátria, everybody is um punhado de exiles, de maravilles, de adioses y aires libres. Jesus is um coyote, es un cohete en la boca de milles days and away. Jesus is um círio sangrando em manos afegãs; ela da Venezuela da favela do canavial. All of us fora de lugares. Rosarios de pesares, nightmares navegados sob olhares islâmicos ilhados do outro lado de milhão de barcos de refugiados. And we never give up, Andes nievan pasados, antes berros que ocaso, habrás de seguir pues we never give up. Adonde no hay nada, aonde os ais são as olas do naufrágio. Cantará a maré ao revés do barco mais uma vez más, girará entre o preço do passe e a peso da pressa. Girará loca ante un estado fatal, ante un estado terminal. Antes la nada que um país asesino. Mejor la mar que la muerte inerte, que el ressorte de la pistola sin piscina. Finally almost a human being. Finally a ghost y un gusto a partir.

(De Malangue Malanga)