|
Claudio Willer
São Paulo, 2007
Foto: Carol Mendonça
|
|
|
Maçons,
conspirações, Illuminati
In:
http://claudiowiller.wordpress.com/ |
|
Volto a insistir:
-
Desde sua organização como ordem esotérica em meados do século 17, por
iniciativa, principalmente, de Elias Ashmole (bela figura, um sábio,
representativo do período), maçons tiveram atuação progressista.
Contra o absolutismo monárquico e o poder temporal da igreja, foram
republicanos.
-
Encontro de Benjamin Franklin e Voltaire em loja maçônica, para
conversar sobre independência dos Estados Unidos, é bom exemplo
daquele ambiente político, da convergência de iluministas e
iluminados: partilhavam a valorização do conhecimento.
-
Carbonários de Mazzini, republicanos, precursores da unificação
italiana, influentes nas insurreições européias de 1848, pertenceram a
um ramo da maçonaria, a do carvão – daí, até hoje “carbonário” ser
sinônimo de agitador.
-
Por isso, maçons foram e são execrados por toda espécie de
reacionários: fascistas e nazistas; integristas católicos na linha da
TFP e Opus Dei. Regimes de Salazar e Franco davam o mesmo tratamento
aos maçons que aos comunistas: cadeia (ao final, links remetendo a
textos de Maria Estela Guedes a respeito).
-
Conspiração de Illuminati da Baviera liderados por Weisshaupt, no
final do século 18, foi, ao que tudo indica, armação policial. Não tem
ordem alguma de Illuminati exercendo influência. Por que sei? Porque
li textos denunciando essa influência dos Illuminati, uma sucessão de
absurdos, com erros históricos grosseiros. E porque se assemelham a
outras armações, comprovadas, para incriminar maçons.
-
Mark Zuckerberg aparecer em público com jaqueta ostentando símbolos
dos Illuminati não significa nada. Aliás, esoterista de verdade não
faz isso, usar símbolos como enfeite ou estampa.
-
Também houve – e há – seitas do outro lado. Teosofia de Blavastski
abre para o antissemitismo, ao ver a história da humanidade como
sucessão de raças. Nazistas como Himmler foram adeptos das ordens do
Vril e de Thule, crentes em mundos subterrâneos. Mas não foram Vril e
Thule que fizeram o nazismo, porém a opinião pública, reflexo das
condições em que se encontrava a Alemanha.
-
Maçonaria se fez presente, politicamente, por ser enorme – e
vice-versa, idéias progressistas e projeto humanitário atraíram
adesões. A outros grupos e sociedades secretas carecem dimensão e
programa.
-
Vários magos e adeptos, por serem tradicionalistas, também foram
reacionários. Julius Evola, estudioso de magia sexual e tantrismo,
aderiu ao Duce – e decepcionou-se. Mas homens de negócios seguem a
lógica do capitalismo, tal como exposta por aqueles dois estudiosos
alemães e outros especialistas em dialética, e não os desígnios de
alguma sociedade secreta.
-
Teorias conspiratórias foram exemplarmente examinadas por Umberto Eco
em O cemitério de Praga. É
conclusivo: uma passagem de
Balsamo de Alexandre Dumas, biografia romanceada de Cagliostro
(farsante, porém mártir, morreu em uma masmorra da Inquisição),
relatando suposto programa de conspiradores, foi copiada e apresentada
como prova de conspiração maçônica, inicialmente; ocasionalmente de
jesuítas (seguidores dessa versão devem estar inquietos); e,
finalmente, judaica, resultando em
Os protocolos dos sábios do Sião.
O protagonista de O cemitério de
Praga, romance histórico, é fictício – mas os demais personagens e
fatos, todo o desfile de loucuras do século 19 e
belle époque, os Coronel Pike, Abade Boullan etc, são reais. O
livro de Eco ter estado em listas de mais vendidos depõe a favor da
espécie humana, assim como a circulação de
O inferno de Dan Brown depõe contra (outra hora, comentarei).
Enfim, teorias conspiratórias são
patologia política. Desviam do que interessa: a realidade, o que se passa,
a infra-estrutura.
LEITURAS: Além da já citada
narrativa de Eco e também de Seis
passeios pelos bosques da leitura, principalmente:
Yates, Frances A.,
El Iluminismo Rosacruz, Fondo de Cultura Económica, México, 2001;
(por que não fazem edição brasileira? outros livros dessa extraordinária
historiadora já foram editados aqui)
Também:
Béresniak, Daniel,
Franc-Maçonnerie et Romantisme, Éditions Chiron, Paris, 1987 (tem na
biblioteca da USP);
McCalman, Iain,
O último Alquimista – Conde de
Cagliostro, mestre da magia na Era da Razão, Rocco, Rio de Janeiro,
2004;
Os perfis de Cagliostro e
Saint-Germain, seu oponente, em O
oculto de Colin Wilson. História
da filosofia oculta de Alexandrian.
De Maria Estela Guedes, entre
outros:
http://novaserie.revista.triplov.com/numero_33/maria_estela_guedes/index.html
e
http://www.incomunidade.com/v3/art.php?art=8 .
Minhas
páginas a respeito, relacionando ao gnosticismo, em
Um obscuro encanto
e
http://claudiowiller.wordpress.com/2013/08/24/illuminati-adam-weishaupt-macons-conspiracoes/
|
|
|
|
Claudio Willer (São Paulo, 1940)
Claudio Willer é poeta, ensaísta e tradutor. Nasceu em
São Paulo, onde reside, em 1940. Seus vínculos são, principalmente,
com a criação literária mais rebelde e transgressiva, como aquela
representada pelo surrealismo e geração beat.
Publicações mais recentes, disponíveis em livrarias, 'Geração Beat',
ensaio (L&PM Pocket, coleção Encyclopaedia, 2008); 'Estranhas
Experiências', poesia (Lamparina, 2004); 'Volta', narrativa em prosa
(Iluminuras, 1966, terceira edição em 2004); 'Lautréamont - Os
Cantos de Maldoror, Poesias e Cartas - Obra Completa' (Iluminuras,
1997, novas edições em 2005 e 2008) e 'Uivo, Kaddish e outros
poemas' de Allen Ginsberg (L&PM, 1984 e reedições, nova edição de
bolso de 2005). Também teve lançados 'Poemas para leer en voz alta',
editorial Andrómeda, San Jose, Costa Rica, 2007 (tradução de Eva
Schnell, posfácio de Floriano Martins) e uma série de ensaios sobre
poesia surrealista na coletânea 'Surrealismo' (Perspectiva, coleção
Signos, 2008). Autor de outros livros de poesia - 'Anotações para um
Apocalipse', de 1964; 'Dias Circulares', de 1976; 'Jardins da
Provocação', de 1981, publicados por Massao Ohno - e da coletânea
'Escritos de Antonin Artaud', todos esgotados. Aguarda publicação de
'Um obscuro encanto: gnose, gnosticismo e a poesia', adaptado de sua
tese de doutorado, prevista para 2009, pela editora Civilização
Brasileira. Prepara 'O Surrealismo' para a coleção Encyclopaedia da
L&PM Pocket.
Poemas e
ensaios publicados em antologias, coletâneas e periódicos
literários, no Brasil e na Alemanha, Argentina, Colômbia, Costa
Rica, Itália, México, Portugal, Venezuela. Como crítico e ensaísta,
colaborou em suplementos e publicações culturais: Jornal da Tarde,
Jornal do Brasil, revista Isto É, jornal Leia, Folha de São Paulo,
revista Cult, Correio Braziliense, etc, e imprensa alternativa:
Versus, Singular e Plural e outros. Citado ou examinado em revistas
literárias, resenhas e reportagens, teses e dissertações, e em obras
de consulta e de história da literatura brasileira, como as de
Alfredo Bosi, José Paulo Paes, Luciana Stegagno-Picchio. Filmografia
e videografia, com destaque para 'Uma outra cidade', documentário de
Ugo Giorgetti, 'Antes que eu me esqueça', de Jairo Ferreira, e
'Inventário da Rapina', de Aloysio Raulino - todos disponíveis em
DVD. Foi presidente da UBE, União Brasileira de Escritores por
vários mandatos (1988-1992 e 2000-2004). Trabalhou em administração
cultural: entre outros lugares, na Secretaria Municipal de Cultura
de São Paulo, onde foi Coordenador da Formação Cultural, 1994-2001.
Coordena oficinas literárias; ministra cursos e palestras sobre
poesia e criação literária. Doutor em Letras pela USP, tese de
doutorado defendida e aprovada em 2008: 'Um Obscuro Encanto: Gnose,
Gnosticismo e a Poesia Moderna'. Faz pós-doutorado em Letras na USP
a partir de 2008, também na USP, com o tema 'Religiões Estranhas,
Misticismo e Poesia'. Graduado em Sociologia (Escola de Sociologia e
Política, 1963) e Psicologia (USP, 1966). Co-edita, com Floriano
Martins, a revista digital agulha,
www.revista.agulha.nom.br. Mais em
www.secrel.com.br/jpoesia/cw.html (incluindo seleção de poemas e
alguma bibliografia crítica) e
www.triplov.com/willer/index.html (coletânea de ensaios), além
de extensa entrevista e outros dados em
www.tvcronopios.com.br/bitniks04/ e do currículo Lattes do CNPq,
disponível em
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4774475U2.
cjwiller@uol.com.br
www.revista.agulha.nom.br
www.secrel.com.br/jpoesia/cw.html
www.triplov.com/willer/index.html
www.tvcronopios.com.br/bitniks04/
|
|
|
|