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Claudio Willer
São Paulo, 2007
Foto: Carol Mendonça
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A obra ao rubro: Herberto Helder por
Maria Estela Guedes |
In: Portal Cronopios:
http://www.cronopios.com.br/site/default.asp |
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Felizmente, as literaturas
contemporâneas do Brasil, Portugal e outras nações de língua portuguesa
se aproximam. Motivo adicional para estranhar que não receba atenção, no
quadro dessa redução de provincianismos, a Coleção Ponte Velha da
editora Escrituras, de São Paulo. Criada por Carlos Nejar e Floriano
Martins, ultimamente coordenada por Floriano Martins, publicou quarenta
títulos de bons autores portugueses e de outros países lusófonos, com
apoio do Ministério da Cultura de Portugal. Predominam poetas. Alguns,
leitura obrigatória: Cruzeiro Seixas, Ana Hatherly, António Ramos Rosa,
Isabel Meyrelles, Luiza Neto Jorge, Nuno Júdice, António Barahona (etc).
O volume mais recente da
Coleção Ponte Velha, A obra ao rubro de Maria Estela Guedes, não
é de poesia, porém de ensaios. Trata de Herberto Helder. Esse poeta ao
mesmo tempo sombrio e luminoso, mestre da imagem poética, vem provocando
espanto desde a publicação de “O amor em visita” em 1958. Dele já temos
boas edições no Brasil: as coletâneas de poesia O corpo o luxo e a
obra pela Iluminuras e Ou o poema contínuo pela Girafa, e a
prosa de Os passos em volta pela Azougue.
Posso testemunhar que, ao ler
“O amor em visita” e “Cabelo quente, telha molhada” em uma pioneira
antologia brasileira de poesia portuguesa contemporânea, organizada por
Carlos Nejar e publicada por Massao Ohno e Roswitha Kempf em 1982,
imediatamente fiz que viesse a edição então disponível de Poesia toda
de Portugal. Suas imagens – “Esta linguagem é pura. No meio está uma
fogueira/ e a eternidade das mãos” ou “Há sempre uma noite terrível para
quem se despede /do esquecimento.” – me provocam embriaguês. “Cabelo
quente, telha molhada” continua, para mim, o mais perfeito exemplo de
uma escrita não-referencial, não-denotativa; equivale a um quadro
abstrato, mas avassaladoramente expressiva:
E um terrível amor – pontapé
estupendo,
tempestade de
areia.
Então o cabelo
respirava como uma tábua
irada. Longe,
perto – as silveiras
vergavam ao
som de mulheres
cantando
vírgulas, peixes e aspas.
Enquanto a
visão de um copo de pé e da letra k.
E a minha
alegria, fábrica de
cabelo quente,
telha molhada.
Ao mesmo tempo, fui
descobrindo as múltiplas faces da sua obra. Entre outras, o prosador; o
poeta do mais arcaico e “primitivo”, da palavra primordial em As magias;
o tradutor e re-escritor dos clássicos, de passagens da Bíblia, relatos
mitológicos e contemporâneos. Escrevi sobre ele em 2000, em agulha
– “Herberto Helder e a grande poesia portuguesa contemporânea”,
http://www.revista.agulha.nom.br/ag9helder.htm
– e dei depoimento para Maria Estela Guedes – “Conversa sobre Herberto
Helder” em
http://www.triplov.com/willer/2009/HH.html,
acrescentado a esse
A obra ao rubro.
Nele, comento o impacto provocado pela apresentação de Herberto Helder
em cursos, oficinas literárias e saraus. Participantes de minhas
oficinas já atestaram que isso mudou sua criação literária. O
importante, o que mais me agrada: essa influência se traduziu em
resultados diferentes, sempre pessoais – não estimulamos epígonos, porém
leitores-criadores originais.
Maria Estela Guedes também é
poeta, além de dramaturga, ensaísta sobre vários outros temas de
interesse, editora, pesquisadora no
CICTSUL,
Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade
da Universidade de Lisboa
e responsável pela publicação digital TriploV,
www.triplov.com
. De sua extensa produção bibliográfica, temos, por editoras
brasileiras,
Tríptico a solo
(poesia e teatro, também pela coleção Ponte Velha da Escrituras) e Quem, às portas de
Tebas?
(Arte-Livros, 2010).
A obra ao rubro
reúne ensaios, depoimentos e entrevistas datados de 1977 até o ano
passado. Registra uma dedicação permanente ao autor de A faca não corta o fogo
(o título de sua mais
recente reunião de poemas). Comenta uns primeiros contatos com sua obra
ainda na adolescência e reuniões surreais nos cafés lisboetas na década
de 1960. Seu
Herberto Helder, poeta obscuro,
de 1979, integra um conjunto de obras pioneiras, assim como (e isso é
bem consignado por ela) a tese da poeta e ensaísta brasileira Maria
Lúcia Dal Farra, A
alquimia da linguagem:
leitura da
cosmogonia poética de Herberto Helder
(publicada em livro em Portugal pela Imprensa Nacional em 1986, e
estranhamente ainda sem edição brasileira, apesar do prestígio da
autora) e Herberto
Helder, a obra e o homem
de Maria de Fátima Marinho (Arcádia, Lisboa, 1982).
Ensaística original, essa de
Maria Estela Guedes. A obra ao rubro parece ter de tudo:
biologia, zoologia, antropologia, esoterismo, reportagens, depoimentos.
Perceber sua unidade e consistência requer leitura atenta. Seu método,
sua abordagem, é por aproximações sucessivas. Trata-se, evidentemente,
de crítica literária; mas quase sem recorrer ao instrumental dessa
disciplina, à teoria literária propriamente dita. Quem fala é a bióloga
e cientista natural – lembrando que “Ciências Naturais”, antigamente,
reuniam biologia, botânica, zoologia, fisiologia e algo do que hoje são
ciências humanas –, a estudiosa de mitologia e esoterismo, a jornalista;
e, em primeira instância, a poeta. O capítulo inicial é sobre os
híbridos; argumenta que todas as formas de vida são híbridos. A seguir,
fala de mestiçagem, com o mesmo propósito. Ao mesmo tempo, passa da
esfera das coisas para aquela dos símbolos: a linguagem poética é
híbrida; poesia é mestiçagem: “É o gênio poético que hibrida, por isso o
autor é essencialmente conhecido como poeta”. Em outras palavras: o
poeta é um demiurgo; cria mundos; essa criação é pelo mesmo processo de
hibridação e mestiçagem pelo qual age a natureza, sob a regência de
Eros, o deus que promove a união.
Há um salto apenas aparente da
terminologia científica à simbologia esotérica em A obra ao rubro.
Nesse campo, Maria Estela Guedes fala em sua condição de integrante da
maçonaria, na corrente da madeira: a maçonaria de antigos lenhadores e
não de pedreiros – ordem ilustre por incluir os carbonários que, com
Mazzini à frente, iniciaram a sublevação que resultou na unificação da
Itália (entre tantas outras marcas da presença de maçons em causas
progressistas, independência norte-americana e revolução francesa
inclusive, dando motivos para as ditaduras ibéricas de Franco e Salazar
os abominarem, equiparando-os aos comunistas ao persegui-los).
Helder não é maçom. Mas se o
fosse, não faria diferença; interessam os exemplos, em um poema como “O
amor em visita”, de “transmutação alquímica da madeira, na seqüência da
identificação dos amantes com os elementos vegetais e sobretudo com a
árvore”, assim mostrando como “todo o poema é um hino ao mistério da
criação centrado na deusa, essa mulher jovem como resina, que dá mesa e
banquete com a carne transcendente.” Paralelos com a simbologia
maçônica, códigos secretos e alfabetos druídicos (sugerindo o caminho
trilhado por Robert Graves em seu complexo A deusa branca) e, em
particular, o “culto ao mundo vegetal” são apropriados à leitura de “um
poeta fascinado pelo poder encantatório da linguagem, decorrente do uso
ritual da palavra”.
Há algo de intrinsecamente
esotérico na criação poética, que independe da ligação efetiva com o
esoterismo histórico, o hermetismo iniciático de magos e ocultistas.
Sabem-no especialistas na conexão poesia-hermetismo como David Guerdon.
Em sua interpretação alquímica de Rimbaud (Rimbaud,
La clef alchimique, Éditions Robert Laffont, Paris, 1980),
observa: “Em realidade, o problema das fontes esotéricas de Rimbaud tem
menos importância do que parece. Temos confiança suficiente nos poetas
para reencontrar neles as leis harmônicas das correspondências
universais.”
Em outras palavras: intitular
um livro de Magias não é apenas por essa palavra ser bonita e
sugestiva, porém pela afinidade real de poesia e magia; pela “outra
linguagem” dos xamãs, os bruxos tribais, ser, conforme já observara
Mircea Eliade, uma origem da poesia. Maria Estela Guedes aponta com
precisão onde se verifica o encontro desses códigos, o mágico e poético:
nas glossolalias, nos fonemas não-semantizados, de tamanha importância
para Helder, levando-o a homenagear Henry Michaux por seus “Inji” em
As Magias e a inventar palavras, análogas às invocações da magia,
além de transcrever falas rituais e de cantos tribais, os “Tá-tá.
rrrrrr. Ula. / Ula. [...] Tá-tá. Rrrrrrr. Ula”. É um caminho já trilhado
por Artaud, Michaux, Khlébnikov e McClure, entre outros que procuraram
chegar à linguagem adâmica; ao Verbo encarnado através da poesia; à
palavra-vegetal, palavra-mineral, palavra sangue e corpo. A linguagem
para reconstituir o Antropos ou Adam Cadmon dos gnósticos, herméticos e
neo-platônicos, o homem primordial, anterior à Queda, que se confundia
com o universo; uma linguagem “pura”, no sentido que lhe dão Mallarmé e
Helder, ou por Novalis, no trecho famoso: “Poesia é o real
verdadeiramente absoluto. Este é o cerne da minha filosofia. Quanto mais
poético, tanto mais verdadeiro”. Repito Helder citado por Maria Estela
Guedes: “Mas as palavras não são apenas palavras. Têm longas raízes
tenazes mergulhadas na carne, mergulhadas no sangue, e é doloroso
arrancá-las.”
Ao tratar das sensações, do
que é transmitido pelos órgãos dos sentidos, e dos reinos da natureza
(mineral, vegetal, animal) na poesia de Helder, Maria Estela Guedes
sempre fala, ao mesmo tempo, de outra coisa. Mobilizada desse modo, a
informação científica fundamenta uma cosmovisão, ao fazer parte de um
saber mais amplo. Sua perspectiva– assim como aquela do próprio Helder,
como bem demonstrado em A obra ao rubro – é holista; a
recuperação da “Filosofia da natureza” dos antigos e renascentistas; a
episteme que busca ultrapassar a separação de pensamento lógico e
analógico, analítico e sintético; de ciência, poesia e magia. É o
projeto de Novalis e sua geração romântica: “Nosso pensamento era, até
aqui, puramente mecânico – discursivo – atomístico – ou puramente
intuitivo – dinâmico. Será que o tempo da união finalmente chegou?”
Nada de gratuito ou arbitrário na utilização de categorias das
ciências naturais para ler poesia, pois, ainda citando Novalis, “a
poesia transcendental do futuro pode ser chamada de orgânica”.
Daí as restrições ao
cientificismo e à crítica mais caracteristicamente universitária por
Maria Estela Guedes:
O objetivo da universidade é a
universalidade, fabricar tijolos para as paredes da mesma casa global.
Para isso detém um paradigma, ferramentas e uma organização própria do
conhecimento, que passa a um público que foi se tornando cada vez mais
vasto, até ameaçar agora arruiná-la, pelo menos em Portugal: não se nota
melhor formação ou cultura nos licenciados do que em cidadãos sem
cultura universitária.
A conseqüência:
Realmente, confrange mais do
que a ignorância ver a globalização atuar sobre as universidades: todos
os professores de Letras do mundo leram os mesmos autores, citam os
mesmos autores. [...] Hoje, Herberto [Helder] é um doce para a
academia, que o vira do verso e do anverso para lhe dedicar suculentas,
e por vezes indigestas monografias.
Capítulos de A obra ao
rubro parecem reviver a crítica romântica, do século XIX,
interpretando a obra a partir de informações biográficas, e
reconstituindo o autor a partir do que ele escreveu. Isso, ao tratar de
um poeta que tem se caracterizado pela recusa do biográfico, a ponto de
não apenas evitar apresentar-se em público, dar entrevistas e a
deixar-se fotografar – aliás, nisso acompanhando outro poeta de sua
especial predileção, Michaux. O rigor helderiano, sua fobia do
exibicionismo e mundanismo literário, o levou, como é notório, a recusar
os trinta mil dólares do prêmio do Pen Clube de1983, apesar de sua
situação financeira nunca ter sido privilegiada.
Com todas essas indicações
enfáticas da recusa a confundir autor e obra, como é possível crítica
biográfica, a exemplo da que ocupa boa parte de A obra ao rubro?
O que,
em mãos de críticos menos qualificados, resultaria em determinismo
reducionista, naquelas de Maria Estela Guedes é interpretação refinada.
Suas leituras não estão
apenas “num nível aparentemente realista da notação sensorial”; através
delas, “entramos na zona miraculosa da metáfora”. Esclarece: “a
metáfora, dadas as suas características, equivale ao milagre, só tem
paralelo num universo de fenômenos excepcionais, diverso daquele que a
ciência explica, invocando as leis da natureza.”
Magia e alquimia aplicadas à
crítica literária? Claro que sim – e de modo coerente, em se tratando do
autor de “As magias” e um declarado continuador da “alquimia do verbo”
de Rimbaud, visto por uma estudiosa dessa disciplinas, promotora, entre
outras atividades, dos colóquios “ Discursos
e Práticas Alquímicas”. Daí declarar que: “É nesse campo da metáfora
mais ardente, e não tanto do mais correntio, que encontramos as
surpresas maiores do discurso poético herbertiano”. Sim: naquele campo
em que os signos revelam sua polivalência e tudo pode significar outra
coisa. Nele, justifica-se buscar informações sobre a passagem de Helder
por Angola; e reconstituir sua atuação como jornalista, em matérias
muitas vezes sob pseudônimo. E tantas outras viagens, aventuras e
peripécias: seu incipiente poema grafado na parece de uma “república” de
estudantes em 1951; as indagações sobre sua infância na Ilha da Madeira;
a menção a seus episódios psiquiátricos e seu grave desastre de
automóvel na África; os detalhes saborosos, como sustentar-se como guia
a levar marinheiros a bordéis na Holanda e até mesmo cantar tangos em
bares; ou, conforme relatado em Os passos
em volta,
dormir nos mictórios públicos (“retretes”, dizem em Portugal) de Paris
por falta de dinheiro para instalar-se em lugar melhor.
Por vezes é
tênue essa relação com o biográfico: “Nos poemas, por vezes só temos um
vago GPS: sabemos que o poeta viajou por Antuérpia, por exemplo, mas não
sabemos quando nem por onde, exatamente, nem com quem travou relações”.
Ao mesmo tempo, tudo isso compõe o que
Maria Estela Guedes designa
como “biografia mítica” do poeta; uma biografia que se situa naquele
plano em que não faz diferença a fidelidade ao acontecido, a versão
pessoal ou a pura invenção. O que importa: “em Herberto Helder existe
uma construção biográfica”; por isso, “a obra não conta o que ele
experimentou na vida, podendo tê-lo experimentado, a obra é essa
experiência de vida, a vida é registro gráfico, bios+grafia.”
Se o poeta partilha o propósito romântico de fundir poesia e vida, de
superar a contradição entre os dois planos, então, dialeticamente, a
vida está na poesia, assim como a poesia, por sua vez, se projeta na
vida e a produz, magicamente.
Lembrando Breton, no
Segundo Manifesto do Surrealismo: “Tudo indica a existência de um
certo ponto do espírito, onde vida e morte, real e imaginário, passado e
futuro, o comunicável e o incomunicável, o alto e o baixo, cessem de ser
percebidos como contraditórios.” É nessa região que transita a poesia de
Herberto Helder; nela, antinomias são superadas; inclusive aquela de
poesia e vida, biografia e obra.
Tanto para formalistas quanto
para adeptos da vulgata marxista o biográfico está fora da crítica
literária; para uns, por interessar exclusivamente o texto; para outros,
porque o “indivíduo”, categoria burguesa, seria determinado por um
contexto, pela ordem do social e histórico. Mas nem por isso falta
“close reading”, leitura colada ao texto, em A obra ao rubro. Nem
contextualização: os capítulos finais mostram como Helder veio a público
durante a ditadura salazarista e a conseqüente censura e repressão.
Contraposta a uma resistência mais instituída e oficial, aquela dos
neo-realistas, surgiu nesse ambiente uma resistência de surrealistas;
nessa, uma dissidência, que viria a se constituir no verdadeiro
surrealismo português, aquele encabeçado por Mário Cesariny; e,
divergindo dos surrealistas, em uma postura mais acentuadamente
individualista, a manifestação de Helder (a discussão do que o aproxima
e separa dos surrealistas em A obra ao rubro é perfeita).
Está-se falando, portanto, de
cultura de resistência; e de afinidade com sua expressão mundial e mais
enfática, a contracultura. Maria Estela Guedes nos dá o retrato de um
Helder afim à contracultura, a sua matriz, a Geração Beat, e a seu
porta-voz máximo, Jack Kerouac:
Refletem-se como objeto e
imagem, em certos momentos, a biografia de Herberto e das grandes
figuras da beat, como Kerouac e Ginsberg, nas várias inclinações
da marginalidade. [...] No Ofício Cantante, e mais em Photomaton & Vox, o âmbito das vivências idênticas às da beat, em
especial o apelo à errância, manifesta-se regularmente. É a cultura pop
e a contracultura a interagirem contra o fundo clássico e bíblico.
Isso, em um tempo em que
errância era resistência, mais acentuadamente:
A maior parte das viagens de
Herberto verificou-se quando as portas de Portugal se fechavam ao
estrangeiro, na vigência da ditadura de Oliveira Salazar. Só depois de
abril de 1974, com a instauração da democracia, as pessoas começaram a
viajar, sem ser pelas anteriores razões de exílio e de emigração.
É precisa a citação em A
obra ao rubro de um trecho do próprio Helder, de 1972 (de sua
produção jornalística), que transcrevo:
Isso mesmo (ou mais ou menos)
se passou na Marginal de Luanda, enquanto, com toda a minha (ninguém
suspeita) riqueza interior em laboração, eu me lembrava de Jack Kerouac,
cadáver desacreditado, andando pela estrada fora com a dourada
astronomia do México impressa nas meninges. A minha astronomia era
infinitamente mais humilde e consistia em imaginar que a vida não tem
grande importância, podendo-se ir por aí fora evidentemente de
qualquer maneira. O processo é de uma excelência incontroversa e até
se pode morrer dele. O que a gente inventa como exercício espiritual!
“ Cadáver desacreditado”: que
precisão, e como isso faz sentido para quem conhece Kerouac. Aqui, e em
tantas outras citações, adaptações e intertextos, Helder mostra, mais
uma vez, que para ser poeta é preciso, antes, ser leitor. Fragmento
desse permanente diálogo com a poesia que constitui sua obra colossal. |
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MARIA ESTELA GUEDES
A Obra ao Rubro de Herberto Helder
Organização de Floriano Martins
Coleção Ponte Velha
São Paulo, Editora Escrituras, 2010 |
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