A Mina do Salitre
realmente não tem salitre. Segundo o químico
Carlos Alberto Filgueiras, o salitre é próprio
de lugares secos, o que não corresponde à
humidade da Mata Atlântica em que se encaixa o
soberano conjunto de rochedos, cheio de
esconderijos, lapas, e até formações que parecem
talhadas por arquitetos, com compasso e
esquadro, de tal modo a face imensa da rocha se
assemelha ao triângulo das que formam as
pirâmides. A
rocha lavada de vermelho azulado, indicada pelo
guia como sendo sinal de salitre, é qualquer
outra afloração mineral. O nitrato de sódio e de
potássio, variedades de salitre, apresentam cor
esbranquiçada.
A Mina do Salitre
serviu outrora de abrigo a escravos, que ali
encontraram modo de sobreviver a perseguições. O
lugar é quase inexpugnável, se for bem
defendido, pois é preciso descer escarpas
profundas para chegar ao fundo, o que devia
constituir o centro do quilombo.
Também aqui foram
encontrados diamantes, soltos entre os rochedos,
sem necessidade de mineração. Embora tivesse
procurado com os olhos, não vi nenhum, sim
árvores cortadas pelo besouro-serrador e crias
de sabiá a brincar fora dos ninhos.
Maria Estela Guedes
Odivelas, 24 de Novembro de 2010 |