Veneração

PAULO BRITO E ABREU


de todo o coração, ao António Cândido Franco

 

( avoco, para a Musa minha, o Ás de Paus )

 

Ergo-me em pânico do meu próprio mal,

Em vão esmago as flores com que não me murcharam,

Parto-me a mim próprio, estilhaço-me em cristal,

Embebedo-me em círios e Lua que roubaram;

Os castiçais da igreja, atiro-os contra mim,

Poluo embarcações desvirgadas pela aurora,

Circuncido-me pederasta nas auréolas de marfim

E pântano de mim mesmo, parto pelo mar fora,

Onde expludo em confusões e raivas de sons brancos…

…..

….

.. 

O meu cadáver, reencontrado, será posto no altar,

Seduzido pelas beatas, venerado pelos santos,

Possesso de mim próprio onde me irei imaginar

Desvirgado por uma virgem e rezado pelos cantos………..

 

Lisboa, 12/ 07/ 1979 

SIC ITUR AD ASTRA 

PAULO JORGE BRITO E ABREU