ANTÓNIO JUSTO
JUDEUS NO PARTIDO AfD (ALTERNATIVA PARA A ALEMANHA)
António Justo
No passado Domingo, 7.10.2019, judeus, membros do partido AfD (‘Alternativa para a Alemanha), fundaram em Erbenheim, Wiesbaden, a „Associação Nacional dos judeus no AFD” (JAfD). Esta fracção interna do partido não se entende como organização religiosa, mas como organização política. “Judeus no AfD” é uma associação independente, inicialmente com 24 membros. Para ser membro do JAfD é condição ser membro do partido AFD e ter pertença étnica ou religiosa judaica.
Como presidente foi eleita a médica Vera Kosova e como vice-presidente Wolfgang Fuhl, que foi membro do Conselho de Diretores do Conselho Central de Judeus na Alemanha. A JAfD pretende representar os interesses políticos, sociais e culturais dos judeus no partido e na sociedade.
Na conferência de imprensa a presidente Kosova declarou que se distanciam de qualquer racismo ou extremismo, acrescentando: “Nós não procuramos o confronto, mas o diálogo.” O vice-presidente Fuhl acrescentou que “o AFD é um partido extremamente pró-Israel” e que nenhum outro partido apresentou tantos candidatos judeus para as eleições do Bundestag como o AfD. Lamentou, por outro lado, a rejeição do abate ritual (matança do animal com uma faca em rituais judeus e muçulmanos) e da circuncisão, no programa do AfD. O abate ritual de animais é proibido na Suiça e obstaculizado na Alemanha. Na Alemanha vivem mais de 100.000 judeus.
Muitos opinam que isto pode ter sido uma jogada do AFD. Com esta iniciativa dentro do partido o AfD não poderá ser acusado de antissemitismo nem de racismo, descartando-se ao mesmo tempo das acusações de nazismo.
Em Frankfurt 250 judeus protestaram contra a nova fracção do AfD. O movimento causou reação negativa dentro da comunidade judaica dentro e fora da Alemanha.
Apesar da oposição frontal das organizações de interesse partidário e de organizações sociais contra o AfD, este vai ganhando terreno na sociedade procurando afirmar-se como o “único partido conservador”. O AfD defende a ideia que o islamismo é incompatível com a constituição alemã.
O partido quer expulsar membros conotados com ideias de extrema direita como Andreas Kühn, Peter Hoppe e Lars Steinke.
O AfD conseguiu arrebanhar para si muitos adeptos dos partidos da esquerda e da direita, devido à política das portas abertas de Ângela Merkel em relação aos refugiados.
Na Alemanha, o AfD tornou-se no “menino terrível” dos partidos e no bombo da festa da opinião pública. Com excepção dos Verdes, todos sofrem bastante desfalque no seu eleitorado. Isto tem provocado um terremoto em todas as instituições políticas e sociais que até agora se sentiam à vontade no seu agir. Agora que o sentimento popular se organiza no AfD e é apoiado por muitos intelectuais, a conversa tornou-se outra. O poder instituído tem reagido aos factos porque com povo organizado não se brinca porque o bolo do poder terá de ser mais distribuído; isto independentemente da maior ou menor valia da força política em marcha.
Os temas críticos em relação à União Europeia que deram origem ao AfD, nunca teriam provocado uma tal implantação do partido, como a sua posição crítica em relação à política com refugiados e muçulmanos na Alemanha.
Nos últimos inquéritos para as eleições parlamentares gerais na Alemanha, o AfD pode contar com 16,6% de votantes.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo, http://antonio-justo.eu/?p=4977