Uma segunda Natureza

 

 

 

 

 

 

 

ANTÓNIO BARROS


 

U M A    S E G U N D A    N A T U R E Z A

Trazer luz, ser candeia, ir de frente, à frente — “candeia que vai à frente ilumina duas vezes” — duas: o devir, e o que te persegue. Essa perigosidade. Que obriga luto. Luto, eu luto [primeira pessoa do presente do indicativo do verbo lutar]. LutoO primeiro luto é quando o recém-nascido percebe que o seu corpo, e o da mãe, não são mais o mesmo (Winnicott), e aí procura para resolver o seu luto, objectos. Transitivos. Objectos transitivos. Assim toda a vida seguimos caminho, andando, nesse gerúndio, numa convulsiva oscilação entre lutos e lutas. Transitivos, caminhando, resgatando objectos vivenciados, jogando a memória que em si trazem. Objectos transitivos — obgestos. Gerando projectos tangíveis, ou intangíveis — progestos, numa festa, memória escrita em manifesto apelo, numa esGrita, na Natureza toda, pois — há que transformar a Natureza em Arte, e a Arte numa segunda Natureza (Novalis).

António Barros

[para: “Escravos_Insulae, do 25 de Abril, 50 anos depois”, no seu encerramento, 28 de outubro: com leitura póstuma a 31 de outubro de 2024].