Uma conversa com Dona Maria II no Palácio da Pena

A.M.GALOPIM DE CARVALHO


UMA CONVERSA COM DONA MARIA II, NO PALÁCIO DE PENA
(do meu livro “Conversas com os Reis de Portugal, História de Terra e da Vida” Âncora Editora, 2012).

O capítulo acima anunciado versa um dos mais interessantes períodos da História de Portugal, dos pontos de vista social, político, científico e cultural, numa conversa com uma rainha particularmente culta e, imagine-se, interessada em conhecer a história geológica da Serra de Sintra. O texto é longo, o que, habitualmente, afasta muitos dos potenciais leitores.
Mas ele aqui fica à atenção dos interessados.
A todos, um feliz Domingo.


“Os ingleses residentes em Portugal, no século XIX, deram provas de saber escolher ao preferirem a região de Sintra para edificarem as suas vivendas e mansões de Verão. Lord Byron definira-a como “Éden Glorioso”, tendo-a, ao mesmo tempo, considerado, diz-se, uma ”pérola lançada a porcos”. Tinha razão o poeta inglês do romantismo, certamente que sim na primeira daquelas suas apreciações, talvez, embora isso nos custe admiti-lo, na segunda. A classificação desta relíquia, pela Unesco, em 1995, como Património Mundial, na categoria Paisagem (a que fiquei ligado como elemento do grupo promotor), foi o culminar do sentir de todos quantos ali vivem e dos milhões que por ali têm passado, visitando-a nos seus múltiplos recantos. Deve dizer-se, porque a grande maioria dos cidadãos ignora, que o substrato desta paisagem agora classificada é uma unidade geológica pequena na extensão mas de imensa variedade, não só nos aspectos estruturais como nos tipos de rochas que a constituem.

Estávamos em Agosto. O Palácio da Pena e os demais cimos da Serra permaneciam envoltos numa nebulosidade fresca, a contrastar com o azul celeste e o calor estival da planura que se estende a Sul. Comodamente instalado num do belos recantos do parque anexo ao palácio, contemplando espécies arbóreas exóticas, diferentes de tudo o que é característico da nossa flora, reparo que, a meu lado, se senta uma jovem senhora, muito branca, de belos olhos azuis, em trajes ricos da primeira metade do século XIX. Penteada ao alto, em grossos caracóis, trazia na cabeça uma tiara que se me afigurou cravejada de diamantes, tal o resplendor das pedras. Perante a minha estranheza, sorriu e identificou-se.
– Chamo-me Maria da Glória de Bragança. O meu nome de baptismo é muito mais comprido, em obediência a uma tradição da linhagem dos Braganças, a que pertenci. Nasci no Rio de Janeiro, no Palácio de São Cristóvão, no ano da graça de 1819. Na sequência da primeira invasão francesa, uma dúzia de anos antes, o meu avô, então príncipe regente, D. João de Bragança, transferiu a corte e a administração do Estado para o Brasil, levando consigo a mãe, a esposa e os filhos. A mãe era a rainha Dona Maria I, minha bisavó, então afectada por grave situação de demência que a impedia de reinar. A esposa e minha avó, Dona Carlota Joaquina de Bourbon, era castelhana de nascimento, tendo ficado para a História como a “Megera de Queluz” pelo seu comportamento pessoal e por ter conspirado constantemente contra o marido e contra todos os liberais, a favor dos absolutistas.
– Um dos filhos era o vosso pai, o infante D. Pedro de Bragança, que foi o primeiro imperador do Brasil e, ao mesmo tempo, por muito pouco tempo, Pedro IV, rei de Portugal.
– O outro filho era o meu tio, o infante D. Miguel de Bragança, também ele, durante meia dúzia de anos, rei de Portugal. Dois irmãos muito diferentes. O meu pai era um homem extremamente simples, um tanto popular, honesto, desprendido de bens pessoais, de grande bravura e com um constante desejo de fazer o bem. No Brasil, foi um governante muito avançado face às elites locais. Sentia-se feliz entre as pessoas comuns e gostava de fazer coisas com as mãos. Experimentou marcenaria e serralharia. Escovava o seu próprio cavalo. O meu tio era o inverso disso.
​- O vosso tempo foi especialmente marcado pelos caminhos abertos pela Revolução Francesa.
– Com alegrias e sofrimentos, vitórias e derrotas, como sempre acontece nos tempos de grandes transformações da sociedade. Vivemos dominados, primeiro, pelos invasores às ordens de Napoleão e, depois, pelos ingleses que, a pretexto de nos virem libertar, aqui se instalaram em seu próprio benefício. Na memória de muitos portugueses estava bem viva a lembrança do enforcamento do general e grão-mestre maçónico, Gomes Freire de Andrade.
– Creio que a mando de Beresford.
– Sim. Era esse inglês quem realmente governava o país, e fazia-o em regime totalitário. Esse meu tempo foi, ainda e muito, marcado pelas convulsões ideológicas que se seguiram e pelas guerras civis que conduziram à nova ordem política e social. Após a revolução do Porto, de 1820, foi promulgada a Constituição da Monarquia Portuguesa de 1822.
– Lisboa, entre outras cidades do País, está cheia de uma toponímia urbana que evoca esse tempo. No país culturalmente atrasado que somos, temos praças, avenidas e ruas cujos nomes, infelizmente, pouco ou nada dizem à grande maioria dos que nela circulam. Duques de Saldanha, de Palmela, e da Terceira, Gomes Freire de Andrade, Sá da Bandeira, Ferreira Borges, Mouzinho da Silveira, Passos Manuel, Fontes Pereira de Melo, José Estêvão, Joaquim António de Aguiar e António Augusto de Aguiar são alguns dos nomes mais sonantes da vida política do vosso tempo e poucos são os alunos das nossas escolas que sabem quem foram estes portugueses.
– Nas artes, foi a época do pintor Domingos Sequeira e, nas letras, o de Almeida Garrett e de Alexandre Herculano.
– Sem esquecer Camilo Castelo Branco. Mas gostaria que me falásseis agora um pouco de vós.
– Saí do Brasil com nove anos de idade, já casada com o meu tio Miguel, mas não fui levada para Lisboa. Fui para Londres. Entretanto o meu casamento foi dissolvido, tinha eu 15 anos, para, logo a seguir, me casarem, com Augusto Carlos Beauharnais, visando, uma vez mais, os superiores interesses do Estado.
– Mas essa união, diz-se, foi muito efémera.
– É verdade. Este simpático e infeliz príncipe faleceu vítima de difteria pouco mais de um mês depois dos esponsais. Ainda menina, tornei-me viúva.
– Mas voltemos à Carta Constitucional.
– Com este documento, outorgado a partir do Brasil por meu pai, pretendia-se um maior consenso político entre as várias sensibilidades com capacidade de intervenção na sociedade portuguesa e, sobretudo, agradar à grande burguesia e às classes nobres, tradicionalmente mais privilegiadas, duas forças opositoras à letra da Constituição de 1822.
– Saiba, então, que essa Carta concedida por vosso pai foi o texto constitucional que mais tempo resistiu em Portugal. Vigorou entre 1826 e 1828, ano em que foi abolida por D. Miguel. Foi recuperada de 1834 a 1836, ano em que, de novo, caiu para ser reposta, em 1842, após o fim da guerra civil, tendo depois vigorado ininterruptamente até ao final da monarquia, em 1910.
– Não. Isso, de facto, eu não sabia e orgulha-me sabê-lo. – respondeu a rainha, com visível satisfação. – Mas voltemos ao meu tempo. Em 1831 o meu pai abdicou no meu irmão Pedro a coroa do Brasil e veio para a Europa, via Londres, decidido a lutar contra o irmão e repor os meus direitos como sua sucessora. Seguiu-se uma guerra civil entre liberais e absolutistas que durou até 1834. Mas façamos aqui uma pausa na história, pois eu gostava de vos colocar uma questão.
– Terei todo gosto em poder satisfazer a vossa curiosidade. Assim eu tenha saber para tal.
– Como sabeis, vivi parte da minha vida neste palácio e nesta frondosa e fresca Serra de Sintra. Passeei por muitos dos seus recantos e sempre me intrigou como é que esta elevação surgiu aqui no meio da planura que a cerca.
– Elevação, dizeis bem, pois é mesmo de uma elevação do terreno que se trata.
– O meu esposo, D. Fernando, tinha na sua biblioteca a grande enciclopédia francesa de Diderot e D’Alambert e, que eu me lembre, um livro de Geologia da autoria de um tal Charles Lyell que, por diversas vezes, folheei e me despertou grande curiosidade para este tipo de assuntos. E foi essa curiosidade que me motivou a estar aqui ao vosso lado com uma série de dúvidas por esclarecer. Vagueava por entre esta vaga de turistas que nos invadem a tranquilidade, quando vos reconheci.
– O interesse pelo conhecimento geológico desta Serra – comecei por dizer – vem, exactamente, do vosso tempo. A geologia começou a ganhar o estatuto de uma ciência até então cultivada pelos chamados naturalistas. Um dos estudiosos que, nessa época, procurou abordar esse conhecimento foi o barão prussiano Ludwig von Eschwege, engenheiro e mineralogista, residente em Portugal.
– Eu conheci-o pessoalmente. – interrompeu a minha interlocutora, entusiasmada. – Foi quem o meu marido convidou para conceber o projecto de arquitectura deste palácio em que vivi algum tempo da minha curta vida.
– Como sabeis, havia aqui um convento.
– Sei perfeitamente. Era o antigo Convento da Pena, destruído pelo grande terramoto de Lisboa. E chamava-se assim porque a palavra pena era outra maneira de dizer penha e penhasco, e a verdade é que foi sobre este penhasco que o rei D. Manuel I o mandou edificar para alojar os monges da Ordem de São Jerónimo.
– E foi sobre as suas ruínas que haveis construído este belo exemplo da arquitectura romântica do vosso tempo.
– Na minha opinião, este palácio testemunha não só a competência profissional do barão, mas também, é preciso dizê-lo, a sensibilidade artística de D. Fernando. Foi, de facto, Eschwege quem projectou a obra, mas apenas nas suas linhas gerais. O meu esposo chamou a si as ideias e a traça da maioria das incorporações de elementos exóticos, todos eles de notada inspiração romântica. Do neo-islâmico ao neo-manuelino, passando pelo neo-gótico e por outros elementos com sugestões indianas, tudo ele concebeu e desenhou.
– Não sei se é do vosso conhecimento, este vosso palácio foi eleito, em 2007, como uma das sete maravilhas de Portugal.
– Com certeza que sei. Nós, as almas, ou seja, as memórias daquilo que fomos, temos a capacidade de estar em toda a parte e, se for preciso, ao mesmo tempo. Estamos libertas dos condicionalismos das leis da física. Espaço e tempo não conceitos inerentes ao mundo material, não ao nosso. Sem que ninguém se aperceba disso, presenciamos tudo o que desejamos. Falamos com quem queremos quando e onde isso nos interessa. Mas voltemos a D. Fernando. O meu esposo era um homem culto, de muito saber e um artista de grande sensibilidade e valor. As suas gravuras são bem conhecidas dos estudiosos das artes plásticas. Empregou bem o poder que tinha. Promoveu a criação da Academia das Belas Artes de Lisboa e tornou-se o seu protector. A Academia Real das Ciências de Lisboa fê-lo seu presidente.
– E com o vosso nome foi criado o grande Teatro Nacional de Lisboa. A memória que tenho de vosso esposo, fundamentada no que acerca dele me foi dado ler, é exactamente essa que haveis descrito. Falando agora de Eschwege e como certamente sabeis, ele foi Intendente Geral de Minas, tendo sucedido no cargo ao nosso Andrada e Silva. Por essa altura, a velha mina de ouro da Adiça, perto da Fonte da Telha, no concelho de Almada, também conhecida por mina do Príncipe Regente, ainda estava em exploração. Essa lavra, que deu lucro, embora modesto, no tempo do Intendente Andrada e Silva, diziam as más-línguas, passou a dar prejuízo sob a tutela do alemão, ao mesmo tempo que ele ia enriquecendo.
– Ontem como hoje. Não mudou nada. – comentou Dona Maria. – Veja o que se passa no Portugal democrático de hoje. A corrupção grassa em todos os níveis sociais. O crime de colarinho branco, com destaque para o enriquecimento ilícito, cresce face a uma justiça que fecha os olhos, funciona mal ou não funciona. Veja só os fumos que pairam sobre a licenciatura do Primeiro-Ministro, sobre os casos Bragaparque, Freeport, “Face Oculta”, Banco Português de Negócios e outros. Uma vergonha que faz com que Portugal esteja entre os países mais corruptos da Zona Euro.

– Estamos a atravessar horas muito difíceis, Senhora.
– Reparo com tristeza que as desigualdades são imensas. Cada vez há mais portugueses pobres e os ricos são cada vez mais ricos. Por este caminho, a instabilidade social vai crescer e a criminalidade aumentar.
– As manifestações de rua vão ser cada vez maiores e mais frequentes e receio que comece a haver confrontações violentas.
– Não creio. Como escreveu Guerra Junqueiro, há mais de um século, temos “um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia de um coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas…”
– Mas lá virá um dia…
– Na minha opinião, – comentou a rainha – a revolução dos cravos abriu-vos a esperança de melhores dias. E isso aconteceu de facto, goste-se ou não se goste de o admitir. Vive-se hoje muito melhor do que no antigamente. Acontece, porém, que, ultimamente, uma geração de políticos hábeis no debate político, sem experiência de vida profissional, na maioria falhos de cultura humanística e científica, tomou conta da democracia inovada no seio de um povo amordaçado por séculos de repressão religiosa e política, subserviente e mantido inculto. O conluio dos governantes com a alta finança e com o poder económico está a atingir níveis nunca vistos.
– Estou a gostar de vos ouvir. Nesse texto de Guerra Junqueiro que haveis citado, escrito, mais precisamente em, 1896, ele diz algo de enorme actualidade relativamente aos dois partidos políticos que, há mais de três décadas, nos desgovernam.
– O Partido Socialista e o Partido Social Democrata?!
– Exacto. Dizia o poeta: “Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como as duas metades do mesmo zero, e não se amalgamando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar”
– Deslumbrados pelo poder, pelas vénias submissas de secretários e secretárias, de motoristas, de contínuos e de senhoras da limpeza, estes rapazes responsáveis pelos vossos destinos são cada vez mais frequentadores dos salões, tu cá tu lá com os ricos e poderosos e, consequentemente, cada vez mais alheados do povo.
– Reparo que haveis assimilado bem a ideologia dos liberais do vosso tempo.
– Não fui uma verdadeira liberal, mas interiorizei muitas das suas ideias. Na nossa biblioteca tínhamos as principais obras de pensadores como Rousseau, Montesquieu, Voltaire, John Locke, Adam Smith, Diderot e outros. Eu e o meu marido lemos muito sobre o iluminismo, o liberalismo e sobre a realidade da vida burguesa da França do meu tempo, na bela escrita realista de Honoré de Balzac, e acho que assimilámos algo do pensamento de Auguste Comte.
– Vossos contemporâneos.
– Sim. Balzac foi um dos mais prestigiados romancistas franceses de sempre, introdutor do realismo na literatura, mas sem perda de uma certa marca do romantismo, numa obra vastíssima.
– Auguste Comte foi o filósofo francês do positivismo.
– A ideia de que o conhecimento científico é a única forma de conhecimento verdadeiro martelava o meu cérebro estruturado por uma educação católica com grande prevalência do mundo espiritual. Apesar de hoje não ser mais do que um espírito, defendo que todas as formas do conhecimento humano têm de ser comprovadas cientificamente. Defendo o positivismo para a condução da vida terrena e para o caminhar do mundo e da sociedade. Sou contra os dogmas da Fé, contra as crendices e superstições. Para mim, o progresso da sociedade humana depende, em simultâneo, da ética e dos avanços da ciência e da tecnologia. E, é preciso não esquecer, do bom senso dos políticos.
Muitas das vossas medidas revelam que haveis assimilado, pelo menos, uma parte dessas ideias renovadoras.
– Essa assimilação está, de facto, patente nas reformas que promulguei. Por exemplo, o Reitor da Universidade de Coimbra deixou, definitivamente, de ser um eclesiástico. Esse distinto cargo passou a ser ocupado por um lente leigo. Foi decretado o combate ao tráfico de escravos e a obrigatoriedade do ensino para as crianças a partir dos 7 anos. Procedi à novíssima reforma do sistema judiciário e promovi o sistema de pesos e medidas. Ao mesmo tempo, em Coimbra, nascia um embrião da Carbonária, uma sociedade secreta de ideias republicanas e fortemente anticlericais, muito inspirada nos revolucionários franceses. Eu sabia-o através dos meus serviços de informação, também eles secretos e, de certa forma, compreendia os ideais dos seus membros.
– Falai-me da chamada lei das rolhas.
– Esse foi o nome dado à lei de 3 de Agosto de 1850 que visava restabelecer a liberdade de imprensa. Porém, a opinião pública considerou que não respeitava o espírito da Carta Constitucional, uma vez que restringia muita da liberdade de escritores e jornalistas. Entre os que se rebelaram contra este diploma, lembro, entre outros, Alexandre Herculano, Almeida Garrett, José Estêvão de Magalhães, Latino Coelho. Mas, pouco depois de subir ao poder, o Duque de Saldanha revogou-a, substituindo-a pela Carta de Lei de 17 de Maio de 1866, que levou à abolição de quaisquer “cauções e restrições para a imprensa periódica”. Este outro diploma abriu um período conhecido por Regeneração, particularmente bem recebido pelos jornalistas. Mas voltemos à Serra de Sintra.
– A primeira abordagem ao estudo verdadeiramente científico do maciço de Sintra surgiu em finais do século XIX, da autoria do geólogo suíço Paul Choffat, também ele um residente em Portugal. A partir de então o relevo, a estrutura, as rochas e minerais e a génese deste maciço não pararam de ser investigadas pelos mais diversos cientistas nacionais e estrangeiros. Tanta é a variedade de tipos petrográficos, que esta pequena montanha foi referida pelo geólogo e mineralogista francês, Alfred Lacroix, como uma “jóia de petrografia”.
– Petrografia? O que é isso? – Interrogou Dona Maria.
– É pura e simplesmente a disciplina científica que estuda as pedras, ou as rochas, como se tornou mais erudito dizer.
– Muito bem. Prossigamos, então.
– Com cerca de dez quilómetros de comprimento por mais ou menos três de largura e um perfil acidentado, este maciço sobressai da planura envolvente como uma elevação que ultrapassa os quinhentos metros de altitude. Um dos cimos desta bela serra é este penhasco onde se ergue o vosso palácio. Para explicar a sua formação temos de recuar no tempo cerca de noventa e cinco milhões de anos.
– Isso é uma enormidade! – admirou-se a rainha.
– Tendo em conta a idade do nosso planeta, qualquer coisa como quatro mil, quinhentos e setenta milhões de anos, podemos considerar esta serra como um relevo bastante jovem, como veremos mais adiante. Mas eu estou a falar da história da sua formação, e é aí que preciso recuar os tais cerca de noventa e cinco milhões de anos. Nesse tempo, o local onde nos encontramos, toda esta região e grande parte do território a Oeste do país, a que chamamos Orla Mesocenozóica Ocidental, não existiam como terras emersas. Tudo era mar. Um mar pouco profundo, de águas límpidas e mais quentes do que as actuais. O litoral do continente norte-americano estava ainda bem perto do nosso. O Oceano Atlântico era ainda, por assim dizer, embrionário. Algo que podemos imaginar semelhante ao actual Mar Vermelho, entre a África e a Arábia.
– Estou a imaginar o interesse que D. Fernando teria em poder ouvir um relato assim, para ele, certamente, apaixonante. – comentou, saudosa, a minha interlocutora.
– Estou em crer que sim, – anuí – tanto mais que esta reconstituição, que vos estou a transcrever, assenta em conceitos geológicos ainda inexistentes no vosso tempo. Mas é de justiça acrescentar que foram os geólogos pioneiros, vossos contemporâneos, como o tal Lyell, que haveis referido, que abriram o caminho da modernidade a esta ciência.
– Muito interessante, aliás!
– Voltando ao assunto, sabemos que o substrato rochoso deste nosso antigo mar era constituído por uma muito espessa série de camadas de rochas sedimentares incluindo calcários, arenitos, argilitos e conglomerados que, no conjunto, testemunham uma história mais antiga que não vamos abordar por agora. Nesta série, com cerca de três mil metros de espessura, os calcários mais modernos representam os depósitos acumulados no referido mar. Falamos aqui de Jurássico e de Cretácico, os nomes dos dois períodos geológicos representados na citada série. Mas só a parte superior do Jurássico e a primeira metade do Cretácico estão envolvidos na génese do maciço.
– Falastes de três mil metros de espessura?
– Exactamente.
– Mas como é possível uma tão grande acumulação?
– Primeiro, é um facto que o leito marinho se ia afundando ao longo de milhões de anos e que, à medida que tal acontecia, os sedimentos iam-se depositando lenta e continuadamente. Uma taxa de sedimentação de escassas centésimas de milímetro, em média, por ano, durante o intervalo de tempo considerado, é suficiente para acumular os três mil metros de espessura que referi. Depois, é preciso acrescentar que por baixo desta série de camadas sedimentares estavam, e estão, as rochas antigas com mais de 280 milhões de anos, maioritariamente granitos e xistos do soco rígido, que formam a ossatura de Portugal e de toda a Península Ibérica, e que completam os 35 quilómetros de espessura da crosta terrestre nesta região.
– Crosta terrestre?
– Para vos explicar o que é a crosta terrestre, começo por dizer que, em linhas muitíssimo gerais, o nosso planeta está dividido em geosferas concêntricas, como as capas de uma cebola. A geosfera central, ou seja, o núcleo, muito densa e muito quente, é essencialmente constituída por ferro. A esta sucede-se uma capa muitíssimo espessa que, por envolver o núcleo, tomou o nome de manto. É a parte superior do manto, ainda muito quente, que fornece não só a energia inerente às erupções vulcânicas, mas também a lava, as cinzas e todos os materiais que trazem à superfície. Finalmente, a capa mais externa é, como o nome indica, a crosta. A crosta sob os continentes é essencialmente formada por rochas antigas e muito antigas, com destaque para os granitos e os xistos. Elas são sempre o substrato das rochas sedimentares muito mais recentes, como são, entre muitas outras, os calcários. A espessura média da crosta continental é da ordem do 30 a 35 quilómetros, com excepção das áreas montanhosas onde aumenta para valores que rodam os 70 quilómetros, formando como que raízes das respectivas montanhas. Sob os oceanos, a crosta oceânica não excede a meia dúzia de quilómetros e é, toda ela, formada por basaltos e rochas afins.
– Entendi perfeitamente e estou cada vez mais curiosa em conhecer a história do chão que estamos a pisar.
– Há cerca de noventa e cinco milhões de anos, – retomei a minha narrativa – uns 30 a 35 quilómetros abaixo dos nossos pés, na fronteira entre a crosta e o manto, concentrou-se um importante foco de calor vindo da profundidade, que começou a derreter as rochas da crosta, transformando-as num magma ascendente, tal como uma bolha de azeite a subir no seio da água, mas a uma velocidade extremamente lenta, imperceptível, que só a imensidão do tempo geológico permite entender. Acontece que havia aqui uma falha geológica, ou seja, uma grande fractura que atravessava a crosta, criando uma zona de fraqueza favorável à subida do referido magma.
– Uma fractura? Numa espessura tão grande e com rochas tão sólidas? Como é isso possível? – Interrompeu, incrédula, a rainha.
– Sim, uma fractura! Se pensardes que a Terra é uma bola com um diâmetro de cerca de 12 000 quilómetros, e que a espessura da crosta se limita a escassas dezenas, esta capinha externa torna-se tão vulnerável e frágil como uma casca de ovo, face às constantes e poderosas convulsões de um corpo tão volumoso e muito quente no seu interior. Portanto, não vos admireis de ter aqui, bem próximo, uma falha que desce a muitos quilómetros de profundidade e que, na opinião de alguns, pode voltar a mexer.
– E se mexer?
– Se mexer haverá um tremor de terra ou um sismo, como nós dizemos.
– E o que é, afinal, um sismo?
– Um sismo resulta sempre de um deslocamento brusco entre dois compartimentos de crosta separados por uma falha.
– Então foi o que aconteceu com o terramoto que destruiu Lisboa em 1755?
– Sim, mas não foi por causa desta falha. Foi causado por uma outra bem mais importante, situada no mar a sudoeste do Algarve. Mas, continuando, devo dizer que, na sequência da ascensão do referido magma, as camadas sedimentares suprajacentes foram sendo dobradas e elevadas, formando uma abóbada em cúpula, no interior da qual o magma foi subindo, arrefecendo e solidificando. Durante a sua formação e subida, este magma foi engolindo e digerindo parte das rochas com as quais ia ficando em contacto, modificando a sua composição. Geraram-se, assim, vários tipos de fracções magmáticas que originaram outros tantos tipos de rochas, com destaque para o granito que estamos a pisar, solidificado há cerca de 85 milhões de anos.
– E as outras rochas? – quis saber Dona Maria, que acrescentou. – D. Fernando, nos vários passeios que fazia na Serra, alguns na companhia de von Eschwege, apanhava e trazia para casa muitas pedras, diferentes umas das outras.
– As outras são rochas que fazem parte do léxico habitual dos geólogos, mas que, creio, vos dirão muito pouco ou, mesmo, nada. Mas cito-vos as mais frequentes entre as várias que ocorrem associadas a este maciço. São elas o sienito, o diorito, o gabro, o mafraíto, e algumas brechas ígneas. Isto sem falar de rochas filonianas tais como traquitos, microssienitos, microdioritos, microgranitos, riolitos, doleritos e diversos tipos de lamprófiros.
– É claro que não vou querer saber o que são todas essas rochas. Deduzo que interessam, sobretudo, aos especialistas, porque cada uma delas deve ter o seu significado próprio.
– Exacto. Cada uma delas fala do ambiente e das condições em que foi gerada e, no conjunto, permitem-nos reconstituir episódios do passado geológico, como este que vos estou a tentar relatar.
– Mas continuai, por favor. Desculpai a interrupção.
– Como é regra da natureza, em qualquer latitude, sempre que uma porção de terreno se eleva, a erosão começa a desgastá-lo. E foi isso, precisamente, o que aconteceu aqui. A dita cúpula de camadas sedimentares, na maioria, calcários, trazendo consigo, escondido no seu interior, o miolo das ditas rochas magmáticas, elevou-se acima do mar, seguramente, mais de três mil metros. Muito provavelmente tivemos aqui uma ilha formada por uma montanha tanto ou mais imponente do que os Alpes e, como tal, sujeita a intensa erosão. Ao longo dos milhões de anos que se seguiram a montanha foi desgastada até à dimensão que hoje apresenta, e o seu miolo magmático ficou a descoberto. Quem conhece a Serra, sabe que pisa, sobretudo, granito e, mais para ocidente, na zona da Peninha, sienito. Sabe que os calcários e as outras rochas sedimentares da cobertura jurássica e cretácica estão confinadas à periferia.
– E para onde foram os materiais que a erosão arrancou à montanha?
– Esses materiais, em particular, calhaus, areias e argila, desceram e espalharam-se pelas terras envolventes. A maioria já desapareceu, arrastada pelos rios, a caminho do mar. Mas uma pequena parte desses materiais permanece aqui, no sopé e nesta plataforma a norte da Serra, como testemunhos susceptíveis de reconstituir os últimos milhões de anos da história deste relevo.
– Meu esposo gostava de geologia e tinha razão. É uma ciência muito interessante.
– Eis, pois, senhora, o que me é possível dizer, assim de memória e de forma muito geral e básica, acerca da geologia desta pequena Serra, um assunto que os especialistas sabem que é complexo. É esta história que está na base desta extraordinária paisagem, agora classificada como património mundial, e da ocupação humana que, ao longo dos séculos, atraiu. Mas voltemos ao vosso tempo. É agora a vossa vez de falar.
– Então, retomando o fio à conversa, devo começar por lembrar que, tinha eu 15 anos, faleceu-me o pai e eu fiquei rainha. Mais uma vez tive de casar e, desta feita, como já disse, com o infeliz príncipe de Beauharnais.
– Por essa altura houve uma grande epidemia, julgo que de cólera?
– É verdade. A falta de higiene era o quadro geral da nossa sociedade, e a medicina não tinha os recursos que tem actualmente. Morreram mais de quarenta mil portugueses.
– Mas na vida política as coisas estavam a correr a contento dos liberais?
– Assim foi, de facto. As tropas miguelistas sofreram sucessivas derrotas impostas pelas forças ao serviço da causa liberal, tendo-se destacado nos seus comandos, e ficado para a história, os nomes dos duques de Saldanha e da Terceira. A paz foi assinada na Convenção de Evoramonte e, uma vez mais, o meu tio Miguel partiu para o exílio, desta segunda vez, em Itália.
– Mas D. Miguel não se sentia derrotado?
– De modo nenhum! Eram muitos e poderosos os que estavam a perder privilégios com os ventos da revolução e o meu tio, apoiado pela mãe, a minha avó Carlota Joaquina, era o braço direito e o rosto dessa classe. Eram, pois, muitas as pressões sobre ele para que não desistisse, e ele honrava essa responsabilidade. Uma vez no exílio, não tardou em renegar o texto do tratado a que se submetera e, até ao fim da vida, não parou de tentar encontrar condições que lhe permitissem reconquistar o trono de Portugal.
– Com o fim da guerra civil que, segundo reza a História, foi sangrenta, algo começou a mudar?
– Uma vez reconquistado o poder liberal, e reposta a ordem social e política consignada na dita Carta, promulgámos a lei da liberdade de imprensa, extinguimos as ordens religiosas masculinas e confiscámos os seus bens, cabendo aqui realçar o papel desempenhado por Joaquim António de Aguiar. E tão eficazmente o desempenhou que ficou conhecido pelo “Mata-Frades”.
– Ainda hoje esse vosso ministro é uma figura conhecida e muito querida nos meios operários portugueses.
– Continuando, devo lembrar que a estabilidade decorrente da vitória liberal não durou muito. Dois anos depois recomeçaram as desavenças, não com os absolutistas, mas entre os vitoriosos. De um lado, os cartistas, que eu apoiava, mais moderados, defensores da Carta Constitucional de 1826, e, do outro, os setembristas, mais radicais, com destaque para Passos Manuel, interessados em repor o texto da Constituição de 1822. Foram mais vinte e cinco anos de lutas fratricidas, mas foram muitas as conquistas nelas alcançadas.
– Dessas lutas ficou na memória colectiva a Revolução da Maria da Fonte.
– Também chamada Revolução do Minho, foi uma revolta popular que eclodiu na Primavera de 1846, na região de Póvoa de Lanhoso e se estendeu, progressivamente, a todo o país. Dizia-se que a instigadora desta revolta era uma tal Maria, natural da freguesia de Fontarcada e, por isso, conhecida por Maria da Fonte.
– A insurreição, diz-se, terá resultado do grande descontentamento popular gerado pela proibição de realizar enterros dentro de igrejas.
– E também pelas novas leis de recrutamento militar e de agravamento dos impostos decretadas pelo meu ministro Costa Cabral. Em resultado dessa revolta caiu o governo cabralista. Pouco tempo depois, ainda nesse ano, houve um golpe militar conhecido por Emboscada, o que fez reacender os motins e dar começo a uma nova guerra civil que se prolongou por mais de meio ano e que ficou na História com o nome de Patuleia.
– Diz a História que esse conflito fratricida foi travado entre uma coligação contra-natura de miguelistas e setembristas contra os cartistas.
– Cartistas que eu apoiei e que puderam contar com o apoio de forças militares estrangeiras ao abrigo da Quádrupla Aliança. E esse apoio pôs fim à guerra e deu-nos a vitória, reconhecida pouco depois pela assinatura da Convenção de Gramido, um pequeno lugar na região de Gondomar
– Já não me lembro do que foi essa Quádrupla Aliança.
– Foi um tratado assinado em Londres, em 1834 entre Guilherme IV de Inglaterra, Luís Filipe de França, a regente de Espanha D. Maria Cristina de Bourbon e meu pai enquanto regente de Portugal. Este tratado visou defender os regimes liberais nas monarquias ibéricas, mesmo que tal implicasse a entrada de tropas estrangeiras nos nossos territórios.
– Não obstante essa instabilidade, o país andou para a frente. Sei que são dessa altura os nossos velhos e saudosos Liceus e que, entre outras iniciativas, foram criados os Conservatórios de Artes e Ofícios de Lisboa e do Porto.
– Isso e muito mais. – anuiu a rainha. – Criámos a Faculdade de Direito de Coimbra, as Escolas Médico-Cirúrgicas de Lisboa e do Porto, o Conservatório Real de Lisboa e as Academias de Belas Artes de Lisboa e do Porto. Promulgámos o Código Comercial Português, documento essencial à vida económica do país, da autoria de Ferreira Borges. Procedemos à estruturação administrativa do território, dividindo-o em distritos e estes, por sua vez, em concelhos, uma medida de vanguarda que veio a ter futuro. Não menos importante foi toda a legislação de Mouzinho da Silveira, no propósito de construir um Portugal moderno, liberto das amarras políticas e religiosas do antigo regime.
– Sem esquecer a criação da Escola Politécnica de Lisboa e a da Academia Politécnica do Porto. Mas, entretanto, voltastes a casar.
– E uma vez mais em nome dos altos interesses do Estado. Os vários pretendentes surgiram das mais nobres famílias europeias e o escolhido foi o príncipe austríaco D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha que, pelo casamento e após o nascimento do nosso primeiro filho, o infante D. Pedro, foi aceite como rei-consorte, com o título de D. Fernando II de Portugal.
– Eram os dois muito jovens.
– Eu com 17 anos e ele com 20. D. Fernando foi um homem bom. Muito amado pelos portugueses, com excepção da nobreza e do clero mais conservadores. Fomos felizes. Essa felicidade não durou muito tempo. Queríamos ter muitos filhos e tivemos.
– Diz-se que, segundo a opinião de alguns entendidos, foi esse excesso a causa da vossa morte tão prematura, aos 34 anos.
– É possível. Com todas estas recordações ia-me esquecendo de vos falar de uma medida tomada no meu reinado, com o grande apoio de D. Fernando, e que tem a ver com a vossa área científica. Estou a referir-me à criação, em 1849, da Comissão Geológica do Reino, na dependência da Real Academia das Ciências.
– Eu conheço razoavelmente bem a história dessa prestigiada instituição.
– Se não estiverdes fatigado, gostava de a conhecer, pois não lhe acompanhei os passos nos anos que se seguiram à minha passagem para a eternidade.
– Com todo o gosto. Já a contei várias vezes e não me canso de contá-la, tal é a minha indignação pelo que ali se tem passado nos últimos tempos. Começo por dizer que, ao longo dos seus cento e sessenta anos, teve várias designações a que corresponderam, no geral, mudanças de orientação e de propósitos, mas sempre centrados em torno da Geologia. Comissão Geológica, Secção dos Trabalhos Geológicos, Direcção dos Serviços Geológicos, Comissão dos Serviços Geológicos, Serviços Geológicos de Portugal, já depois da República, entre 1917 e 1993, e Instituto Geológico e Mineiro, logo a seguir. Reparai, Senhora, que a adjectivação usada nos diversos nomes desta instituição sempre respeitaram o domínio da ciência que esteve na base da sua existência. Mas a chegada ao poder da jovem classe política que referi atrás, falha de sentido histórico e de cultura científica, entendeu sacrificar esta casa pioneira e dinamizadora de Geologia portuguesa em nome do saneamento das contas públicas, ao mesmo tempo que se encheu de assessores e de consultores a quem paga fortunas. Apagaram-lhe o nome e diluíram-na numa outra instituição cuja designação, Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação, se coaduna melhor com o pendor tecnocrático desta gente. Ultimamente, crio que em resultado das muitas vozes descontentes, mudaram-lhe o nome para Laboratório Nacional de Energia e Geologia.
– Pelos vistos, – comentou a rainha – estais bem informado sobre um assunto tão específico, desconhecido da maioria do público.
– Eu tenho vivido os últimos tempos desta evolução porque conheço muitos dos que ali trabalham. Pesando bem as minhas palavras, deixai que vos explicite o meu pensamento acerca deste caso. A extinção, pelo governo do Primeiro Ministro Durão Barroso, em 2003, do Instituto Geológico e Mineiro, com século e meio de volumoso, notável e valioso trabalho realizado, onde laboraram e laboram geólogos de grande prestígio nacional e internacional, reflecte o grave desinteresse por este domínio do conhecimento científico, por parte dos responsáveis por esta infeliz, triste e lamentável decisão. Por outro lado, a não reparação desta indignidade causada à geologia portuguesa e aos seus cultores, pelo governo do Primeiro Ministro José Sócrates, mantendo aquela decisão, mostra que a mesma nada tem a ver com a orientação política destes rapazes, antes sim com a sua falta de cultura neste domínio do saber e, daí, desconhecerem a sua verdadeira importância e o respeito que lhe é devido. Muito recentemente, penso eu que, em virtude da contestação da comunidade dos geólogos portugueses, o governo mudou o nome desta instituição para Laboratório Nacional de Energia e Geologia, com todas as despesas inerentes a este tipo de mudanças na administração do Estado. E é tudo o que me ocorre dizer. Vamos ficar por aqui.
– Tendes toda a razão. Vamos ficar por aqui. Estou a ver ali, ao fundo, o professor Fernando Catarino, e tenho uma quantidade de questões a colocar-lhe acerca de algumas das árvores que aqui plantámos.
– Ele foi meu professor, Um esplêndido professor!
– Gostei de falar convosco.
– O gosto foi todo meu, Senhora.