Um poema de Paul Celan dedicado a Friedrich Hölderlin

LUÍS COSTA
TRADUÇÃO


Tubinga, janeiro

Olhos destinados pelo verbo

a ser cegos.

Sua – um enigma é pura

nascente que se evade -, sua

lembrança de torres de Hölderlin, rodeadas

de gaivotas esvoaçantes.

 

Visitas de carpinteiros afogados

a estas

palavras que mergulham:

 

Se viesse,

se viesse um homem,

se viesse um homem ao mundo, hoje, com

a barba de luz dos

patriarcas: ele só poderia,

se falasse deste

tempo, só

poderia

balbuciar, balbuciar

sem parar, sem

nunca parar.

 

( ´”Pallaksch. Pallaksch”) *

Este poema é dedicado a Hölderlin. Celan escreveu-o em Paris,

A 29. I. 1961, um dia depois de ter estado em Tubinga na famosa Torre de Hölderlin.

 

*Termo usado por Hölderlin que tanto podia significar sim como não.


TÜBINGEN, JÄNNER

Zur Blindheit über-

redete Augen.

Ihre — “ein

Rätsel ist Rein-

entsprungenes” —, ihre

Erinnerung an

schwimmende Hölderlintürme, möwen-

umschwirrt.

 

Besuche ertrunkener Schreiner bei

diesen

tauchenden Worten:

 

Käme,

käme ein Mensch,

käme ein Mensch zur Welt, heute, mit

dem Lichtbart der

Patriarchen: er dürfte,

spräch er von dieser

Zeit, er

dürfte

nur lallen und lallen,

immer-, immer-

zuzu.

 

(“Pallaksch. Pallaksch.”)

Friedrich Hölderlin

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