JONAS PULIDO VALENTE
“ESTAÇÃO TERMINAL”, o autocarro ia vazio.
A entrada do cinema estava molhada e os rastos das pegadas denunciavam vultos.
Antes de as lanternas se apagarem,
não conseguia distinguir a fumarada da condensação do caril japonês.
No último autocarro não vinha ninguém para trocar a bobine.
A casa de banho estava cheia,
o veludo sujo.
Na assoalhada mais iluminada,
foi reescrita a ordem de despejo.
Esquecendo-se da função do espaço, os caracteres chineses começam uma nova mutação.
Nas paredes fazem companhia as contribuições dos visitantes.
Depois de décadas de paranóia apocalíptica,
quase tudo é o que parece.
Ninguém deixa nada quieto, nem esquecido.
Este é o ethos da assemblagem abaixo do cabaret pois, se não o for, os assobios asseguram movimento.
A irmandade do homem sente-se em casa, quando almas penadas reencarnam fora do ecrã.
Pobres diabos não se conseguem levantar no corredor,
Até a chuva tem piedade, pois
só os actores cantam este musical.
JONAS PULIDO VALENTE