Tradição e fronteiras em Floriano Martins

 

MARIA ESTELA GUEDES
Dir. Triplov


É o apoio editorial que tem dado a autores de partes várias do mundo, sobretudo falantes de português e espanhol, o mais claro exemplo da inexistência de fronteiras para Floriano Martins. Porém aquilo de que me vou ocupar agora é da sua obra e ver como nela também o princípio da miscibilidade vigora quando se trabalha na indefinida faixa fronteiriça. Colhamos exemplos em duas obras, 12 Fantasmas de Lavínia Di Lúvia, de 2021, composto por dois livros: 12 Fantasmas e Diário de L. – ainda inéditos; e Antes que a árvore se feche, obra muito mais extensa, na verdade uma coletânea que abrange umas dezenas de textos-livros, publicados separadamente, entre 1991 e 2019. Se o primeiro livro é homogéneo no que diz respeito à protagonista, Lavínia, também autora, já a antologia é bem mais complexa e múltipla, no papel das personagens, teor e formas.

Antes que a árvore se feche termina com A outra voz do tempo, um curriculum vitae bastante extenso de Floriano Martins, a pressupor no “outra” um anterior texto com o mesmo caráter biográfico. E esta seria mais uma fronteira aberta, por tal se entendendo que a separação entre dois territórios não é total; a fronteira instaura um espaço de partilha, de convivialidade com os outros, os estrangeiros nossos vizinhos, “nuestros hermanos”, dizemos nós, portugueses, dos espanhóis, e vice-versa. O texto anterior, intitulado Os três tempos da árvore, é uma longa conversação de Floriano Martins com R. Leontino Filho, que nos permite penetrar na alma do poeta. Realmente, a poesia é a condição maior de Floriano Martins, quer responda a perguntas de um entrevistador, quer escreva prosa ou faça fotografia, atividade tão importante como a escrita, quer a perspetivemos no âmbito das artes plásticas quer no design gráfico, pois ele assina muitas capas dos livros que tem editado, dele e alheias.