Tongobriga e a Lei da Laicidade Cultural

 

 
BRUNO MIGUEL RESENDE
Investigação em Vivência Histórica
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Tongobriga é um monumento nacional igual a qualquer outro se tivermos em conta as etiquetas com que o centralismo político mais facilmente gere o Património reduzindo-o a meros retalhos no mapa de Portugal. Pensamos nós haver quem se dedique a supervisionar minimamente estas etiquetas e todas estarem corretas dentro do possível pois essa entidade é a mesma que ousa omitir o nome de quem fez o pedido de classificação do Monumento em Honra aos Heróis da Guerra Peninsular no Porto o qual para espanto de um curioso que fui eu ao gravar um filme sobre esse mesmo monumento o qual constava em base de dados como inexistente.

Nem o nome foi referido na classificação que foi feita por esquecimento de tudo e todos do próprio pilar axial no qual despontam as artérias da cidade invicta. Ninguém se lembrara de classificar o Monumento. Tal diz muito sobre muita coisa e o snobismo que se pavoneia no Património esconde os erros e estratagemas de máfia mais grosseiros que se possa ter ideia. Nessa notícia de jornal consequente do meu pedido que obviamente pedia a referência ao filme que lhe deu acontecimento aconteceu não financiarem o filme nem referência lhe fizeram para meu choque de quem usa a palavra Património segundo o significado que o dicionário lhe dá deixando com que as fotografias de carrinhos de choques e barracas de farturas sejam o apogeu do espaço sagrado convertido em parque de diversões por alturas do São João. Nessa ligação de contexto nulo o qual ninguém critica por amor à sobrevivência económica e ao status que se estatela ao mínimo livre pensamento advindo da mestria da bajulação a qual não usamos em vida própria no contexto da comunidade de Tongobriga ou na peça que apresentamos por pudor à Humanidade e à História a qual se entulha destes tiques déspotas e nazis sem que haja forma simplificada de lhe meter o bedelho para guiar e reconstruir o que mal está a algo de Humanamente e Culturalmente decente e assim levá-las em águas calmas a bom porto. Ou haja milagres que mais fácil o é.

O pedido que fiz veio em jornal em nome das entidades que não eu que fui o autor da situação. O filme pode-se dizer valer tanto como o Monumento pois se a pedra é feita para durar no tempo também a memória digital o é o que traz improbabilidades grandes à destruição de um e de outro visto que guerras podem ser mais destrutivas que ficheiros digitais presentes em vários locais. Do Monumento em causa consta esse filme e nada mais pois a zero não se consegue promover nada em lado algum e assim se derrapa. A pedra aparenta ter menos tempo de vida que ficheiros digitais veja-se os monumentos soviéticos que foram destruídos como se tivessem algo que ver com questões presentes. Veja-se a profanação de túmulos e memoriais de mesmo assunto erguidos pensando na eternidade. A destruição aparece por gestação espontânea e o contrário não é verdade.

O enclaustramento e isolamento forçado a que fui sujeito não iria impedir que a Arte não se fizesse sentir como todos os dias o sinto em mim e para algum lado tem de jorrar.

Assim mais produções cinematográficas e escritas fiz que na vida toda até ao momento dando à luz três livros e oito filmes dos quais se lucrou setecentos euros por ano e a eletricidade cortada entre outras catástrofes mais que faziam saber a Cultura estar encerrada à força. Nunca vi tantos prémios.

Quem corre por gosto não se cansa dizem uns e outros que nestas correrias não se metem e bem fazem que a saber o que sei não o saberia hoje que aqui digito o que outrora se passava a papel na certeza de alcançar a multidão pois em tempos Romanos a palavra era democrática.

Quem tem acesso à publicação literária são tão poucos com tanto por dizer por esse país fora pergunta-se. Muito poucos. Se o tenho é por muito escarafunchar por todo o lado onde lado seja. Ou em vértice onde coloco as edições debalde a batalharem com o nada pois chegar às livrarias não é tarefa de burocracia comum. A Arte envolve-se em tais burocracias que nem premiações nem convites a Festivais de grande gabarito de nada servem se não se tem o nome limpo no cadastro do Ministério da Cultura e entidades políticas dedicadas a explicar a nós parolos o que Cultura é.

Se em tribunal demonstro cientificamente que a Cultura é uma questão de democracia a qual tem por força da lei de corresponder à vontade da maioria ouve-se os grilos se os houvesse. Se evento de trinta e cinco mil tem vinte pessoas na assistência é sinal de fraude disse eu isolado que aqueles que trilham nas linhas tortas da moral dizem sempre lá estás tu a meteres-te em confusões outra vez. E outro de trezentos mil para todo o Norte com três fotografias de resultado de quinze crianças que fizeram um desenho. Digo aturdido do suor que me alaga as sinapses mas ando eu a trabalhar para justificar os ganhos destes larápios. Vão dezenas de processos arquivados e outros mais irão pois não pudemos ser cúmplices assim dita a lei. Ora tanta gente é cúmplice. Pois é verdade. Até lhes atingir os bolsos ou for tarde demais e a ditadura for imbatível. Aí talvez a liberdade de expressão regresse para fazer burburinho num sistema totalmente implementado.

Diálogo dos Mortos não era meramente uma edição mas toda uma nova orgânica do aparelho de Estado. Sabendo-se que a Lei da Laicidade Cultural nunca seria aprovada num Programa de Apoio aos Agentes Culturais se fez aprovar o projeto que a ela ia ter se o deixassem ou houvesse quem mais o quisesse fazer em conjunto coisa perdida com o Covid e hábitos de Cooperativas onde todos fazem mais que um a um apenas em grupo para as devidas junções sociais mecanizadas no emprego ou em ajuntamentos semelhantes.

A implementação da Vivência Histórica em outros locais com ruínas e História Romana foi aprovada pelo que o Ministério da Cultura acabara por fornecer as bases de aplicação de uma Lei de Laicidade Cultural.

A Associação de Amigos de Tongobriga passaria a deter irmãs como a Associação de Amigos de Panoyas e tantas outras que ficariam encarregues de organizar anualmente um Mercado Romano incluindo toda a sociedade civil nas Artes Comunitárias fazendo como em Tongobriga coisas tão brilhantes como colocar o grupo de Karaté incumbido de gerir a componente de defesa citadina Romana com os seus legionários.

Cada Arte e cada grupo com a sua Associação ou responsabilidade onde toda a comunidade faz o todo da Recriação História com guias artísticos e arqueológicos, historiadores e figurinistas para tal levarem a bom porto dirigindo os impulsos das individualidades e da identidade de grupo numa apresentação ou mais a ter no evento. Aquilo que se denomina mediadores culturais.

Caso de sucesso sempre pois se todos os grupos de uma povoação se envolvem também irão envolver familiares e amigos e trarão aqueles de outras terras para a festa quando esta acontecer. Amigos e aqueles que sem pertencer a grupos lhes pertence a curiosidade lá vão aterrar também sendo que agora se chora os tempos de gratuitidade para assistir a tão megalómano evento e tantos espetáculos seguidos de tudo e mais alguma coisa quando agora apenas para meter o nariz dentro de Tongobriga se paga dois euros. Pouco parece. Mas ao termos dez mil pessoas no Mercado Romano teríamos vinte mil euros o que seria mais que justo. Outros lugares em mesmos moldes teriam margem de manobra para alguma coisa.

O fenômeno logo sairia das ruínas romanas para abarcar todo e qualquer monumento juntando claro está os comes e bebes que muito ganham a serem atribuídos às associações também que veriam o dinheiro crescer e o prazer de Viver História também.

Claro que nem só de Monumentos viveria a Vivência Histórica mas do Património Imaterial também ou Móvel. Caretos e Barro de Bisalhães assim como Chocalhos e Falcoaria todos teriam um fim certo quanto ao projeto de apogeu que nunca se falou até podermos registar em livro. Patrimordial. Em outro artigo definiremos do que consta.

Claro está que a Lei da Laicidade Cultural não se implementaria da noite para o dia. Este fulgor que mais se vê nas estruturas das Cooperativas que nas das Associações iria por certo colocar em funcionamento muitos edifícios em ruínas parte do Património do seu povo que assim teria razões para o fazer viver.

As Câmaras e Juntas teriam de seguir a vontade da maioria que seria fácil de constatar quando todos fazemos parte da construção de algo que vale a pena construir. Eventos de moscas seriam alvo de crítica mordaz e desapareceriam definitivamente para deixar os dinheiros desviados por todo esse Portugal fluir para onde deveriam.

O poder da Cultura iria residir no povo que escolheria os seus guias como lhe aprouvesse cabendo à noção do bom senso saber que todos iriam defender o bem comum e que certamente muitos habilidosos iriam usar esta rede associativa para tentar ganhar mais que o devido ou usurpar a ideia alheia em coisas que teriam de ser as entidades estatais a discernir mantendo o Estado papel predominante quanto à regulação e fiscalização das atividades em causa assim como as atribuições de subsídios mas numa esfera de democracia e não numa esfera de escolha por outro motivo que não esse pois a Arte e a Cultura servem a População a atingir os seus objetivos existenciais um dos quais a eternidade. A Vivência Histórica está entre o Teatro e o Ritual pois os atores aqui vestem a pele dos antepassados como figurinos e deixam o legado aos seguintes que não romperão a tradição.

Uma coisa é certa. É necessário que o Estado não tenha poderes absolutos sobre a Cultura e ambos sejam poderes separados. Em vez de se descentralizar o Estado centralizou os poderes culturais que não refletem as necessidades populares. Como em qualquer outro tema a democracia impera e não a vontade de uns poucos iluminados por uma qualquer profecia. É necessário haver poderes culturais externos ao Estado no domínio da Cultura.

É necessário retirar do Estado o poder de ditar normas culturais de minorias sobre maiorias. Eventos de moscas não podem ser subsidiados quando existem eventos de milhares sem subsídios.

Grupos não podem trabalhar consecutivamente para milhares e nada receberem do Estado e outros que trabalham para dezenas receberem. Tal é indecente e completamente ausente de um Estado democrático que usa a Cultura para hierarquizar a população e a fazer trilhar nos percursos que servem os interesses dos poderosos e dos abastados.


Bruno Miguel Resende