ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA |
Cena IV |
(Entra Dona Clóris) |
Dona Clóris: Senhor, vossa mercê, que pretende com tantos excessos? A quem procura? Dom Gilvaz: Eu, Senhora Dona Clóris, sou Dom Gilvaz, aquele impaciente amante, que atropelando impossíveis vem, qual salamandra de amor, a abrasar-se nas chamas do seu Alecrim, como vítima da mesma chama. Dona Clóris: Senhor Dom Gilvaz, como entendo o seu amor só se encaminha ao licito fim de ser meu esposo, por isso lhe facilito os meus agrados, mas não tão francamente que primeiro não haja de experimentar no crisol da constância os raios do seu amor. Dom Gilvaz: Mui pouco conceito fazeis da vossa beleza; pois se antes de admirar essa formosura em ocultas simpatias soubestes atrair todos os meus afetos, como depois de admirar o maior portento de perfeição, poderia haver em mim outro cuidado mais, que o de adorar-vos com tão imóvel constância, que primeiro se moverão as estrelas fixas que sejam errantes as minhas adorações? Dona Clóris: Isto é de veras, Senhor Dom Gil? Dom Gilvaz: Se eu morro de veras, como hei de falar zombando?
Dona Clóris: Senhor D. Gil, as suas finezas por encarecidas perdem a estimação de verdadeiras; que quem a língua tão solta para os encarecimentos, terá presa a vontade para os extremos. Dom Gilvaz: Como há de haver experiências na minha constância, serão os sucessos de minhas finezas os cronistas de meu amor. Canta Dom Gilvaz a seguinte:
Dona Clóris: Cessa, me bem, de encarecer-me o teu amor, já sei são verdadeiras as tuas expressões. Oh, se eu tivera a fortuna, que essas vozes as não levasse o vento para aumentar com elas a força de sua inconstância! |