Este teatro, esta escrita, visa ser esboço, forma, tempo e textura de uma “coisa”. E, sendo “forma aberta”, dá todo o espaço de acção aos encenadores. A influência de GS na posteridade teatral está, como tem sido amplamente afirmado, longe de ter terminado: influenciou a escrita de Ionesco, Beckett, Pinter, N. F. Simpson, de Heiner Müller a quem terá inspirado, através do conceito de “paisagem”, a criação de metáforas que têm a imagem e o corpo como suportes de leitura do mundo (metáforas do corpo brutalizado e desmembrado).
GS foi também seminal na linguagem cénica de Bob Wilson, no seu “teatro de visões”, que retira a linguagem do seu contexto temporal e discursivo, sublinhando, deste modo, o estatuto fenomenológico da linguagem na qual a palavra é um objecto, o presente é contínuo e a “dicção” se coloca acima da sintaxe.
Ao encenador Richard Foreman, também americano, GS influencia o seu conceito de “alienação” e, mais ainda, o seu conceito fenomenológico de linguagem e percepção. É neste particular que o criador do Ontológica-Hysteric Theater (em 1968) citou, em parte importante do seu trajecto experimental, Gertrude Stein e Ludwig Wittgenstein para propor o acto fenomenológico da experiência teatral, caracterizado por um MOMENTO-A-MOMENTO-DA-EXISTÊNCIA e pela “presence itself” e por um sublinhar do processo perpétuo da construção-reconstrução do “eu” ontológico.
Gertrude Stein, denominada “Mother of Modernism”, raramente vem incluída nos dicionários ou livros de teatro. Ainda assim, já foi “descoberta”, nos anos 90, pela jovem encenação portuguesa (Ana Tamen, António Pires). Os mais velhos, em Portugal, notoriamente, continuam a não lhe dão muita atenção, apesar de se pasmarem com Joyce, Beckett ou outros que, apesar de tudo, foram menos radicais.
Lisboa, 2 de Maio de 2006.
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