Ainda há poucos meses festejei os cinco anos como autor representado, neste rectângulo tão atavicamente hostil aos dramaturgos (os autos-de-fé são hoje ateados com o fogo mesquinho do silenciamento e da indiferença), e eis que é agora o TriploV a celebrar os seus cinco anos.
Tentei encontrar a prenda utopicamente certa, e ela aqui está, sob a forma de um texto dramático que decidi arrancar ao silêncio dos escritos esquecidos. A Ilusão Cósmica - Viagem ao Futuro no Palco foi uma peça de maturação longa, a terceira que escrevi, depois de Goiânia - Uma Nova Caixa de Pandora (um inédito com primeira versão de 1988) e do breve experimento semi-beckettiano Espera Apócrifa (primeira edição em 1990). A redacção original d' A Ilusão Cósmica, terminada há quase dez anos atrás (1997) antecedeu todas as outras que subiram à cena entretanto; mas foi em virtude de a ter lido que o João Mota me desafiou com entusiasmo a que escrevesse uma peça para todas as idades, que havia de ser a minha muito afortunada estreia cénica, em 17 Outubro de 2000: Lianor no País sem Pilhas. A Ilusão Cósmica é, deste modo, uma obra seminal, cenicamente ambiciosa, que me alimentou ilusões de a ver concretizada em palco no passado. Sete anos decorreram em demandas por este que eu chamo, em tom de auto-ironia, o meu elefante branco (1998-2005). Hoje descubro-me distante já da sua escrita, ainda que cúmplice do seu imaginário. Ao disponibilizá-la em edição electrónica neste 5º aniversário do TriploV, concedo-lhe a minha alforria. Que caminhe por seus próprios meios, se acaso os encontrar. Partilharmos as ilusões, mesmo as conscientemente teatrais, é um gesto de desprendimento e liberação.
Évora, 13 de Junho de 2006
ANR |