NELSON BOGGIO

Fábrica do Vidro

ÍNDICE GERAL

Primeiro acto      

Cena I

(Os dois camponeses. No local onde viram o corpo de Eduardo).

Primeiro: Não está.  

Segundo: Não chamámos os outros. Fizemos bem.            

Primeiro: Estava ali.  

Segundo:  Onde?  

Primeiro: Ali na curva. Tinha a cara voltada para cá de forma que a luz permitia ver.  

Segundo: Pois não foi ali que eu o vi.  

Primeiro: Não?  

Segundo: Não.  

Primeiro: O melhor é irmos embora.  

Segundo: Estava ali. 

Primeiro: Ali. Sim. É bem provável que tenha sido usado para atrair a atenção.  

Segundo: O quê?  

Primeiro: Que foi usado para atrair alguém. Assim que nos chegássemos perto... 

Segundo: Para apanhar alguém?  

Primeiro: Daqui a dois ou três dias vamos ter notícias de alguém desaparecido.  

Segundo: Penso que sim.  

Primeiro: Ou talvez não.  

Segundo: Não?

Primeiro: Eu não apostava tanto nisso.  

Segundo: Não se ouve nada. Tudo sossegado.  

Primeiro: São as sombras que percorrem os muros altos acolá, onde uma nesga de luz é estrangulada pelos ramos do sabugueiro. E mais nada.  

Segundo: Tudo morto.  

Primeiro: A pressão do ar começa a provocar-me arrepios.

Segundo: Já se ouve o gato bravo.  

Primeiro: Não sei se reparou naquele vulto abafado que começa agora a erguer-se ao nível da faixa de pedras para a casa velha.  

Segundo: Vamos embora. Vamos. ( Saem).

Nelson Boggio nasceu em Proença-a-Nova, no distrito de Castelo Branco. Aos 16 anos ingressa na escola profissional ACE no Porto onde teve as sua primeiras experiências teatrais com  o encenador Rogério de Carvalho, com os actores e professores João Paulo Costa e António Capelo, entre outros. Enquanto aluno da escola participou como figurante na peça de teatro O Coriolano, de Shakespeare, dirigida por Jorge Silva Melo. Entrou em peças encenadas pela escola. Desde Gil Vicente com direcção de António Capelo, a peças como Os sete pecados mortais dos pequenos burgueses, de Brecht com Kuniaki Ida com o qual desenvolve também a máscara neutra. Tem também ateliers à volta do Clown com Alan Richardson.  Aos dezanove anos entra para a Escola Superior de Teatro e Cinema, onde volta a reencontrar o professor e encenador Rogério de Carvalho, e onde começa pela primeira vez a trabalhar em cena os textos clássicos gregos. Tem também como professores o encenador José Peixoto, o Professor Luca Aprea em corpo, o professor Francisco Salgado, Álvaro Correia, João Mota, Carlos J. Pessoa, com o qual trabalhou três peças de teatro na sua companhia O teatro da garagem.  Participou na peça Os Anjos de Teolinda Gersão a convite do professor e encenador João Brites, em Palmela. Participou como actor na peça “Les Bonnes/ As Criadas” de Jean Genet com encenação de Paulo Alexandre Lage, em Julho de 2005 na Casa Conveniente em Lisboa.