(Rua. Vera
interpela o menino que esconde qualquer coisa. Vera traz bagagens.
Chegou da cidade)
Vera:
Que tens tu na mão?
Menino:
Nada!
Vera:
Deixa ver.
Menino:
É meu.
Vera:
Que é isso? Vem cá. Deixa-me
ver.
Menino:
Não sei.
Vera:
Isso é o que eu penso que é?
Onde é que encontraste isso? Mostra! Onde é que tu foste buscar isso?
Menino:
Porquê?
Vera: (
Avançando) Ora, rapaz, ora,
dá cá isso.
Menino:
Vou-me embora. ( Tapando
os olhos). Agora já não me vês!
Vera:
Ah! Isso é que vejo. Dá cá
isso meu menino.
Menino:
Não posso.
Vera:
Porquê?
Menino:
Encontrei- o. É meu.
Vera: (
Olhando-o fixamente) Isso é o
que eu penso que é? Quem é que te deu isso?
Menino:
Foi no rio.
Vera:
Isso é sangue?
Menino:
Estava a dormir com a nuca
apoiada numa pedra. Terá caído?
Vera:
Mostra.
Menino:
Não.
Vera:
E porque não?
Menino:
Porque já sabes o que eu
tenho e...vais contar...vais dizer...ele roubou, ele roubou...
Vera:
Eu não faço isso. Eu não te
quero fazer mal. Porque és tão teimoso? Olha como estás cheio de sangue.
Menino:
Vem cá.
Menino:
Não. Tu bates-me.
Vera:
Eu não te quero fazer mal.
Porque és tão teimoso?
Menino:
Está bem, eu mostro-te. Mas
só se prometeres que não dizes nada.
Vera:
Está jurado.
Menino:
Vem cá. Tenho medo da luz.
Vera:
Espera, vou só pousar isto.
( Pousa as bagagens). Pronto. Mostra lá.
Menino:
Olha! É lindo! É meu!
Vera:
É um medalhão. É do Eduardo.
O que é que aconteceu?
Menino:
Ele não se mexe.
Vera:
O que é que tu sabes?
Menino:
Nada.
Vera:
Não viste ninguém?
Menino:
Só três homens que o levaram
para lá. Penso que está morto. Puseram-lhe uma faca na mão. Depois
cobriram-no de terra e musgo. Eu não fiz nada. Eu só quis ver de
perto...como era...e depois vi o medalhão. Tive de o descobrir para o
tirar. Tinha-o ao pescoço. Não se importou...penso...parece que sorria.
Vera:
Três homens. Como eram?
Menino:
Grandes.
Vera:
Vem comigo.
Menino:
O que é que me vão fazer?
Vera:
Nada. ( Saem).
|