(Entram dois camponeses pelas laterais
e estacam assustados com a presença um do outro.)
Primeiro Camponês: É um
espantalho? Não consigo ver.
Segundo camponês: É um homem?
Primeiro camponês: ( Para si)
Sinto sempre uma aflição quando passo por aqui.
Segundo camponês: Vai dar por mim.
Primeiro: ( Estranhando) É um
homem.
Segundo:
(Mesmo jogo) Foi o maior erro que cometi! Ter-me levantado mesmo
com a sensação de que algures uma estranha vibração ressoasse.
Primeiro: Tenho as mãos como as de
um cadáver. Estou morto só de estar à espera.
Segundo: Devia ter dado ouvidos à
minha mulher!
Primeiro
camponês: mas também se seguisse pela tapada, ao longo do bosque, o
mais certo é que tivesse de encarar um desses sujeitos da greve. Que a
vossa arte está ultrapassada, dizia eu, não é mentira nenhuma. Aí dava
um par de bofetadas. Que já não se fazem pratos como antigamente, é um
facto. Aì dava–me um murro no cachaço e um pontapé. Está a
aproximar-se. Vamos, vamos. Havemos de ter uma boa luta ao estilo de uma
boa rixa de taberna. Havemos de rolar tanto pelo chão que até a terra se
há-de queixar.
Segundo camponês: Ele está a
avançar. Vamos... Não mostrar medo (Avança).
Primeiro: ( Avançando)
Vamos! Está a avançar. ( Súbito, a lua que até aqui esteve escondida,
lança um raio). Mas então...vejam bem...
Segundo: É o senhor?
Primeiro: Sou. Nada de sustos. Como
está?
Segundo: Ontem estava bem até ter
conhecimento de uma dor que agora me persegue. Um batimento cardíaco nas
têmporas. Mas não sei ao certo.
Primeiro: Disseram-me que há uma
espécie de homem com cabeça de animal nas amoreiras.
Segundo: Para ser sincero, já nem
sei em que acredite.
Primeiro: Uns dias antes de iniciar
o trabalho fui dar com um som de um animal, uma espécie de ronco. Isto
no meio dos poços.
Segundo: Isso era um desses
vagabundos.
Primeiro: Era uma ovelha.
Segundo: Mas dizem que há um
monstro.
Primeiro: Sim, já houve quem o
visse a sair da mina.
Segundo: Sim. Por aqui, olhe...
Primeiro: Sim, isto é assim. Quem é
que terá deixado a porta dos animais aberta?
Segundo: ( Mergulhado nos seus
pensamentos) A partir de amanhã vou deixar de vender peixe.
Primeiro: Mas porquê?
Segundo: Não é para mim.
Primeiro: Compreendo. Eu já em
tempos estive para contratar alguém... para ir vender...
Segundo: Ora não faça isso...
Primeiro:
A última vez que o vi, estava o senhor
a regatear na vila.
Segundo: Ontem ainda as mulheres
regressavam em campanha da pesca no rio, quando me fui agachar...numa
dessas estradas com arame farpado...à espera que a dor no peito
passasse...
Primeiro: O senhor é que fez bem.
Segundo: Foi para me levantar que o
fiz.
Primeiro: Sabe que isto das greves
não é nada bom para nós. E depois há ainda a tal reputação de que lhe
falei no outro dia. Mancha a imagem.
Segundo: E há métodos...há modos de
se fazer as coisas...
Primeiro: Em Itália são muito
piores com as greves. Mas eu já estou farto. Não sei nada sobre
peixe...e depois são eles que acham que nós estamos contra...Só porque
não nos envolvemos. Contestar...contestar...sempre contestar.
Segundo: Por falar nisso... aquele
que esteve em Itália... correm boatos sobre uma nova forma de vidro...
Primeiro: Não se deve crer numa
coisa dessas. Os italianos cheiram um impostor à distância. Nunca o
deixariam fugir com a tal fórmula.
Segundo: Está agora a levantar um
vento sudoeste.
Primeiro: O senhor sabe aquilo que
eu lhe digo.
Segundo: Fazia-nos falta sem
dúvida. Vidro novo. Para acabar com esta miséria.
Primeiro: Vou-me embora.
Segundo: E eu vou continuar também.
Os meus cumprimentos. ( Saem cada um para seu lado).
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