TEC - Teatro Experimental de Cascais
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ERRO E VERDADE N’ A BOBA |
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A Boba. Programa. Teatro Experimental de Cascais, Estoril, Março de 2008 |
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A Boba tem de momento três edições, todas diferentes, se bem que as variações sejam mínimas: a electrónica, no TriploV (www.triplov.org); a da Apenas Livros Editora (A Boba, Lisboa, 2006) e da Escrituras Editora (Tríptico a Solo, São Paulo, 2007). E existe ainda o guião da peça que está a ser montada pelo Teatro Experimental de Cascais. Qual a verdadeira Boba? – seria caso de perguntar. Algumas variantes podem implicar erros ou gralhas involuntários. O erro não deve ser interpelado quanto à sua verdade, pois não existe nele intenção de deturpar factos. Por exemplo, na edição da Escrituras escapou um erro: por duas vezes se diz qual dos conselheiros de Afonso IV avisou D. Pedro de que havia deliberação de matar D. Inês. De uma das vezes saiu o nome de outro dos nobres que mais tarde D. Pedro mandou executar. Ora nem eu nem a Boba sabemos se é verdade que alguém avisou repetidamente que D. Inês ia ser assassinada. O que sabemos é que a História declara que foi Diogo Lopes Pacheco quem o fez. Uma coisa é o que está escrito e outra o que aconteceu. Sem desprimor para Fernão Lopes, nada garante que tenham de facto acontecido os factos que ele regista na Crónica de D. Pedro I, minha principal fonte historiográfica. Ele nem sequer é contemporâneo do que narra. Eu acredito na probidade do velho cronista, porém quem garante que sejam fidedignas as suas fontes? Nesta questão da verdade, só posso garantir que A Boba é uma ficção construída a partir de informações da História e da Literatura no seu lado inesiano. No lado “A Bela e o Monstro”, conta a informação oriunda sobretudo dos teratologistas da primeira metade do século XX, como Pires de Lima, Themido, Lombroso e Barbosa Sueiro. Os anões como Maria Miguéis, a Boba, eram casos habitualmente estudados por estes cientistas. Vem este assunto a propósito dos ensaios, pois acontece às vezes fazerem-me perguntas às quais dou resposta fora do enquadramento dramático, e só mais tarde reparo nisso. - Então a cena do bispo do Porto está no Fernão Lopes?! Se está, é porque é verdade... - Ah, sim, é verdade! - assevero. Não, querida Maria Vieira, nenhuma de nós deve fazer confusões, é perigoso sacralizarmos a palavra, só por estar impressa. Agustina Bessa-Luís, que leu tudo ou quase sobre Pedro e Inês, declara que "A História é uma ficção controlada". Salvo as invenções da nossa imaginação criadora, que, no caso, a bem dizer se limitam à construção de uma personagem e seu discurso, todas as informações prestadas na peça têm origem na palavra impressa. Mas eu, pessoalmente, nem estabeleço grandes distinções de valor entre a informação histórica e a romanesca. Tanto vale Fernão Lopes como Agustina, António Cândido Franco, Herberto Helder ou Bocage. Aliás, predomina até na comédia uma visão agustiniana da tragédia. A Boba mostra que a história de Pedro e Inês não foi construída pelos historiadores, sim pelos escritores. A sua verdade é poética, e por isso sobrevive. Maria Estela Guedes |
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TEATRO MIRITA CASIMIRO / TEATRO EXPERIMENTAL DE CASCAIS Largo do Cruzeiro - Monte Estoril 2765-412 ESTORIL Telef. 214670320 E-mail: t.e.c@netcabo.pt www.tecascais.org |
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encenação Carlos Avilez MARIA VIEIRA em A Boba |
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