Somos nós os teus cantores

 

 

 

 

 

 

 

 

ALFREDO SOARES-FERREIRA


Quando escreveu este tema, Somos nós os teus cantores*, no ano de 1971, Zeca não poderia vaticinar o que hoje se passa na Palestina.  A Primavera tem monstros e canalhas e o rei vai nu. Mas nós cantamos, porque é preciso lembrar que não podemos esquecer. Hoje cantámos pela Paz, amanhã estaremos na rua, todos os dias se necessário for, para manifestar repúdio pela ocupação israelita e contra o genocídio do povo palestiniano.

Diz o Poema do Zeca para te livrares do medo “…Que bem cedo/Há-de o Sol queimar” e avisa, “E tu camarada/Põe-te em guarda/Que te vão matar”, vaticinando os sinais de desgraça que correm num mundo sem vergonha, que apoia, ou no mínimo, consente o terrorismo da ocupação e do genocídio.

Nos últimos dias, soubemos que já são mais de 35 mil palestinianos assassinados por Israel em Gaza e na Cisjordânia, vítimas dos violentos e constantes ataques das forças de Israel, na maioria, mulheres e crianças. E que Israel matou 31 pessoas no campo de refugiados de Nuseirat, consequência da intensificação dos ataques aéreos e terrestres em Gaza. E ainda que a ocupação israelita cometeu 9 massacres contra famílias na Faixa de Gaza, causando 83 mortes e 105 feridos, entre 17 e 19 de Maio. E que, na semana passada, colonos israelitas armados atacaram um pastor palestiniano e roubaram várias das suas ovelhas na região de Masafer Yatta, localizada a sul de Hebron, na Cisjordânia ocupada. E também que um grupo de colonos armados atacou pastores na área de Hreiba Al-Nabi, em Masafer Yatta, pilhando e matando. E que dezenas de colonos cercaram uma casa na aldeia palestina de Bayt Sakarya, localizada ao sul de Belém, na Cisjordânia ocupada, segundo fontes locais e forçaram Abu Sawi a deixar a sua casa, mas acabaram por ser confrontados pelos habitantes locais e forçados a sair.

Tudo isto em apenas 2 dias.

Entretanto, a resistência intensifica-se. Em Bruxelas, estudantes da Universidade mudaram o nome de una sala para “Jabalia Hall“, em solidariedade com o campo de refugiados de Jabalia, perante os ataques constantes das forças israelitas. As notícias dos mais variados países dão conta de manifestações e outras realizações que denunciam a ocupação e o genocídio, enquanto os seus dirigentes, burocratas comprometidos com o imperialismo norte-americano, fingem não saber de nada e, nalguns casos, ainda aplaudem, como por exemplo, no Reino Unido, apesar dos 800 mil que desfilaram em Londres a 11 de Novembro de 2023, onde as manifestações a favor do cessar-fogo, são qualificadas como “marchas do ódio”. Ou o caso do governo de Portugal, onde o Ministro dos Negócios Estrangeiros e o próprio PM estão mais preocupados com os acordos que S. Tomé e Príncipe terá assinado com a Rússia…

A situação sanitária em Gaza agrava-se de dia para dia, perante a complacência internacional.  Existe uma enorme carência de medicamentos e material médico, para prestar serviços de emergência e cuidados primários em hospitais. A Agência de Obras Públicas e de Socorro das Nações Unidas para os refugiados de Palestina disse que mais de 630 mil pessoas foram obrigadas a fugir de Rafah desde que começou a ofensiva militar de Israel, nomeadamente desde 6 de Maio.

Se quem canta seu mal espanta e se a cantiga é uma arma, então que sirva, como no Concerto da Paz, para difundir o repúdio e a indignação. Não é possível admitir que hoje, em França, seja considerado perigoso exibir o lenço palestiniano, ou apenas apelar à Paz, sem ser visto como apoiante do Hamas. Mas, ao mesmo tempo, para promover uma sólida educação para a Paz. Divulgando e disseminando a canção do Zeca “Venha a maré cheia/Duma ideia/Pra nos empurrar/Só um pensamento/No momento/Pra nos despertar”.

Assim, poderemos gritar bem alto “Somos nós os teus cantores”: Ergue-te ó Sol de verão/Da matinal canção/Ouvem-se já os rumores/Ouvem-se já os clamores/Ouvem-se já os tambores

 

(*) Referências expressas ao tema de Zeca Afonso “Coro da Primavera”, do Álbum “Cantigas do Maio” (1971)


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