Sobre o momento político nacional

 

NICOLAU SAIÃO


   Ao darmos a lume, a seguir, um lúcido texto do nosso confrade António Justo, pedimos licença aos leitores para umas breves palavras a propósito da recente contenda eleitoral.

   Costa disse adequadamente, no discurso de vitória, que ter maioria absoluta não significa poder absoluto. Só o honra tal declaração, que é verdadeira. E, constituindo clara intenção de actuação verdadeiramente democrática, o que dele se espera, o que decerto os cidadãos esperam, é que aja como um leal e justo governante, não defraudando as expectativas populares que anseiam por uma efectiva melhoria de vida, num quotidiano de paz e de verdade. Se o não fizer, com certeza o Povo português, em acção quotidiana e nas próximas pugnas eleitorais, lhe irá pedir contas.

  E cremos que, para começar, deverá não epigrafar como ministros ou secretários de Estado cavalheiros ou cavalheiras como os cabritas, os galambas, as van dunems de desagradável memória, mas colocar nesses cadeirões gente de qualidade – em competência e em ética – que ajude a Nação, que a nefasta presença da “geringonça” agravou nas dificuldades, a sair da cauda da comunidade europeia em que actualmente se encontra. 

  No que diz parte ao PSD, da sua quebra só dele mesmo se poderá queixar: entregando-se nas mãos de um líder pessoalmente honesto mas titubeante e confuso, uma espécie de “almofadinha” em estilo marques mendes, traçou o seu destino ficando-se nas bermas de uma rota que só os crentes iludidos consideraram salutar. E quanto ao CDS, protaganizado desde sempre por barões reaccionários carolas, viu as suas propostas liminarmente recusadas de forma exemplar.

  Os extremistas totalitários, serve dizer o BE e o PCP, possuidores de uma retórica matraqueante embora, cada vez menos enganam o país por mor das incontornáveis realidades propiciadas pela sua adesão a um Estaline que prejudicou todo um povo eslavo, ou um Trotsky massacrador que ficou na História como o “carniceiro de Cronstadt”).

  A subida da Iniciativa Liberal e do Chega só espantará quem, por deficiência de análise ou por claro cinismo conceptual, não percebeu que os cidadãos,  na sua boa-fé e num desejo de progresso inegável, tendo dado acolhimento e apoio material a gente de fora, estão cada vez mais fartos de ser quotidianamente enxovalhados pelos mamadus bas desta vida, com o seu perfil de  violentos e propugnadores da “morte ao homem branco”, turiferários que são de um Gramsci e de um Frantz Fanon – duas das figuras contemporâneas mais lamentáveis e violentadoras que o universo intelectual forjou.

 Não nos debruçaremos sobre os perfis do PAN e do Livre – pois temos para nós que são epifenómenos fortuitos que o futuro irá remeter a seu tempo ao filosoficamente chamado “caixote de lixo da História”, à irrelevância que lhes é própria.

 E Marcelo? – perguntar-se-á. Continuará, cremos, a ser um simpático “verbo-de-encher”, na sombra do primeiro-ministro e cifrado pelas suas selfies, seus abracinhos habilmente distribuídos e a sua irrelevância protocolar. Quem o julgou passível de ser uma espécie de Ramalho Eanes intelectual, varonil e cheio de ponderoso carisma, (ou seja, um estadista e menos uma espécie de afável dirigente de sociedade de cultura e recreio) em breve teve de o certificar como o antigo rapazola que pregava partidas aos moradores tocando-lhes de supetão às campainhas das portas, ou – já mais adulto e alentado – o comentador-entertainer politico que distribuía caricaturais “notas classificativas” em estilo mestre-escola aos diversos sectores público/desportivos. Em suma, um caricioso e afável “tio de provincia” da circunstância nacional.

ns

 

ANTÓNIO COSTA (PS) O VENCEDOR DAS ELEIÇÕES 2022

PS agora mais perto da Social Democracia europeia?

 Uma direita não assumida e uma esquerda dividia possibilitou a victória do PS que agora recebe a oportunidade de se tornar mais centro! As sondagens falharam, mas certamente ajudaram no sentido do voto útil! A traição dos partidos à esquerda de Costa, com posições ideológicas que seriam mais de enquadrar em contexto chinês, receberam o fruto do que semearam!!!

 Resultados provisórios das eleições  de 30.12.2022(1):  PS 41,68% / 117 deputados; APPD-PSD  27,8% / 71 deputados; Chega 7,15%/ 12 ; Iniciativa Liberal 4,98%  / 8 ; BE 4,46% / 5 ; CDU 4,39% / 6 ; PAN 1,53% / 1 ; LIVRE, 1,28% / 1 ; PPD/PSD.CDS-PP 0,94% / 3; PPD/PSD.CDS-PP.PPM 0,53% / 2 ; RIR 0,42% / 0 ; CDS-PP, 1,61% /0 ; JPP 0,2% / 0 ; PCTP/MRPP 0,2% / 0 ; MPT 0,12% / 0 ; MAS; 0,11% / 0 ; PTP 0,06% / 0 ; Nós, Cidadãos 0,06% / 0 ; Aliança 0,04% / 0 ; PPM 0,0% / 0 ;  Brancos 1,15% , Nulos 0,92% , Abstenção 42,00% dos 9.298.390 de inscritos:

 António Costa, pediu a maioria absoluta para conseguir estabilidade e os eleitores, instintivamente, responderam que sim, apesar dos prognósticos eleitorais; Costa encontra-se agora livre de uma extrema esquerda que o obrigava a radicalizar-se, mas terá uma extrema direita (Chega) que o não deixará descansar nos Média e radicais de esquerda a pôr-lhe pedras no caminho. Costa venceu com a maioria absoluta 42% dos sufrágios eleitorais – foram tantos os votantes no PS como as abstenções nas eleições:42%. Rio foi castigado por querer um Portugal centrista.  Certamente deixará de conduzir o PSD para possibilitar ao partido mais manobra de jogo. António Costa está de parabéns porque poderá reinar até 2026; conseguiu castigar a extrema esquerda (BE e PCP) e acabar com os sonhos da Geringonça que se julgava tornar-se num modelo de governo: (Bloco de Esquerda – antes tinha 19 deputados e agora tem 5, a CDU (PCP+PEV) antes tinha 12 e agora 6));  com a vitória do PS, Costa consegue uma deslocação da esquerda mais no sentido do centro.

 A victória poderá explicar-se pelo facto de Costa na Pandemia ter respondido às espectativas de grande parte da população (70% ansiava por estabilidade política), ao indirecto apoio do PR e porque tínhamos uma direita constituída de partidos concorrentes e uma esquerda PS centrista atraiçoada pelos velhos parceiros da Geringonça.

O Chega com os seus 7% ocupa um bom lugar na discussão parlamentar se pensarmos que de um deputado passa a ter 12… A demasiada presença do BE na opinião pública assustou muita gente! A victória do Chega deve-se sobretudo ao descontentamento geral em questões de política de ensino e cultura (os preocupados com a cultura ameaçada), bem como à corrupção e ao nepotismo na distribuição de lugares na administração e em lugares de governação; geralmente os partidos mais relevantes acabam por integrar tais factores nos seus programas o que reduz a possibilidade de o partido se vir a afirmar.

Por trás das votações pode ver-se também um protesto contra o neoliberalismo e consequente desregulação do trabalho. A recordação da Troika revelou-se, pelo menos até agora, no desastre político de quem a tomou a sério (Isto não quer dizer que uma conta atrasada não venha a aparecer de surpresa, atendendo à política neoliberalista e globalista da União Europeia e ao BCE comprar dívidas; a inflação, e o mercado de trabalho terão uma grande palavra a dizer em questões de sucesso e insucesso futuro). O comportamento da EU em relação a Portugal também dependerá do maior ou menor compromisso deste com a China! Desta perspectiva poderia advir uma oportunidade para a extrema esquerda agora derrotada.

Uma observação: o que me causa pena na discussão pública não é tanto o ganhar ou perder de um ou outro partido, mas a arrogância com que muitos políticos da esquerda falam, como se fossem os pais da democracia e os senhores da moral. Talvez, esta mentalidade, filha do autoritarismo se corrija até às próximas eleições; isto para sermos ainda mais democráticos!

Em termos de sociedade portuguesa penso que o grande êxito de Costa foi ter domesticado a esquerda extremista (marxista-maoista) conseguindo pôr a Catarina em banho maria…

A Costa restará seguir as instruções do Eurogrupo e do BCE e agora, uma vez que tem as mãos livres, abandonar as medidas que têm facilitado a implantação da China na Europa. Enfim: um pau de dois bicos!!!

Os partidos de esquerda agora castigados pela população, uma vez afastados do poder, ver-se-ão obrigados a mostrar a sua verdadeira cara radical, apostando, mais declaradamente, na expansão de uma hegemonia chinesa “globalista”!

Costa, para se afirmar no futuro terá de tratar os precários do privado com a mesma generosidade com que tem tratado o funcionalismo público (o problema será onde ir buscar o dinheiro para tantos)!

Será de esperar que a victória de Costa se torne numa lição para o PS, no sentido de se orientar mais pela Social Democracia europeia, repelindo o radicalismo marxista e maoista, próprios de sociedades contra a cultura europeia!

A.C.D.J

https://www.youtube.com/watch?v=9fWzUgrYnqs&list=OLAK5uy_nCpOMqaKrro1JTnOQl_Txb4KWs8LgInzQ&index=2