Silêncios ruidosos

HELDER COSTA

O célebre acordão de juízes sobre o também célebre trio do marido, ela e o amante, foi uma pedrada no lago pacífico da indiferença nacional. Um caso de adultério selvaticamente punido pelo marido e o amante com uma moca enfeitada com pregos! A indignação, a surpresa, a perplexidade, tomaram conta dos media nacionais e internacionais. Não me vou referir a questões pessoais, afectivas, éticas ou morais. Isso é com cada um, é gente maior e vacinada, devem saber o que fazem.

O que me interessa é o lado político e ideológico do caso. A Arábia Saudita entrou-nos pela porta dentro, Texas e Virgínia de Trump começam a fazer -nos companhia, o mundo retrogrado e reaccionário agita as suas bandeiras.

E que silêncios tão ruidosos que se ouvem! porque é que a cristianíssima Cristas não se indigna e diz que a culpa é do governo? e os seus parceiros de coligações e negócios? porque não podem! porque o juíz citou a sua Biblía e leis do nosso século monárquico, beato, analfabeto e servil. Referiu -se à sua família política e aos seus interesses pessoais. Porque essa jurisdição indigna só pode ser parida por uma ideologia contra o laicismo, a cidadania, a Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

O contrário dos que continuam a defender o feudalismo, o servo da gleba, a escravatura, a ocupação e a guerra e mil crimes em nome de qualquer discriminação.

Contra o ódio e o belicismo, só a luta pela concórdia e pela Paz.


Helder Costa (Portugal). Diretor do teatro  A Barraca (Lisboa).