pratiquemos o mundo da claridade,
a carne do mistério que um archote acenda
a aurora indica à sentinela o branco do dia
o júbilo de existir e responder à inclinação da luz
quem maltrata um corpo mais claramente o evidencia
o limite da dor é de uma evidência intensa
a realidade não é para ser vista
é o háptico da palavra que traz os magos não o som
a técnica suprimiu o humano temor da obscuridade
não a fonte do desejo que não seca
o texto é o lugar vivo onde pode haver
uma troca de um mundo humano
a inquietude inscreve-se em nós como um palimpsesto
um vidro espetado ao sunambulismo civil que nos infecta
abramos a porta da hospitalidade
o corpo é a soleira a que a divina surpresa chega
dai ao peregrino ferido que virá sem horas
a mirra do silêncio e a fé no nunca visto
o verbo essencial não vem à palavra
que desertou da voz e da vigília
pratiquemos a sensualidade da escuta
um deus vem a caminho da nossa humanidade |