esperamos todos
o dealbar de um rosto
a aparição de outra coisa
entre o chão de limos e o rumor dos freixos
esperamos
às portas fechadas do mar
a onda favorável que nos leve ao outro lado
o sopro redentor
o expansivo meio em que a alegria nasce
à espera do fulgor estamos
colados ainda às sebes do negrume
às lívidas camas dos hospitais
que as bocas de sombra entredevoram
esperamos o impossível voo
a matéria dos anjos que não desertaram
e dão ao corpo o transporte
para além do peso e da cinzentez das horas
esperamos
o fim das prescrições sem nome
a cal em que o desenho dos seus pés se inscreva
e o seu calor nos toque
solte-se a garganta enfim
das foices de silêncio que a cercavam
e o teu Nome nos cubra da luz
que se faz carne
e traz no seu bojo nascimentos
do mais fundo da noite do mundo desejados
josé augusto mourão, op |