alvoroço será a palavra que (con)vém
para dizer o nascimento?
fechando a porta
ouviremos a fonte de onde corre
o Verbo feito carne?
quem sacudirá a grande sintagmática
em que dorme o mundo
a comodidade
em que nos deitamos e acordamos
o “assim é” difuso
que justifica a inacção, o niilismo?
não o visível
mas a fragilidade da evidência
o drama do visível
os sapatos de guerra da economia
que reduziu a justiça
a uma geometria moral
o desejo mimético
que ignora a apocalíptica do desejo
o Anjo entrou no quarto entreaberto
e saudou a nudez que nos esconde
não é o sangue o arquitecto desta hora
o Anjo mostra a transgressão do visível
o invisto
o olho ventral
que controla mesmo a sombra
o apetite voraz
do sagrado vigiado
que vemos, vendo o outro
senão o abismo da origem
a revelação do que se não desvela?
o olhar não são os olhos
o visual nada tem de puramente óptico
a natalidade é o milagre
que salva o mundo do domínio do negócio humano
da ruína normal
deixai fora a cínica recomendação do Poder:
ficar em casa, não sair
a encarnação não é o mergulho na telepresença
nem o neotribalismo nos defende
dos fantasmas da identidade
mergulhemos no lodo do silêncio
a água vem do alto
inscreva-nos o Filho na carne do presente
a carne do verbo é vocativa
uma lâmpada tremeluz no escuro
o bafo da divina Presença nos aqueça |