A
Organização das Nações Unidas proclamou 2009 como o Ano da Astronomia,
para comemorar os 400 anos das primeiras descobertas astronómicas de
Galileu Galilei. «O ano da astronomia representa hoje para a Santa Sé
uma importante ocasião de aprofundamento e de diálogo», afirma a Santa
Sé em um comunicado emitido a 30 de Janeiro de 2009. O comunicado foi
divulgado por ocasião da apresentação do Congresso Internacional «O caso
de Galileu, uma releitura histórica, filosófica e teológica», que será
realizado em Florença de 26 a 30 de Maio próximos, e de cuja organização
faz parte o Conselho Pontifício para a Cultura. A nota de imprensa
ressalta que «existe um estreito vínculo entre a contemplação do céu
estrelado e as religiões», devido a que «em quase todas as culturas e
civilizações, a observação do céu está impregnada de um sentido
profundamente religioso». «Também a Bíblia conserva as pistas desta
sabedoria antiga, que sublinha a força criativa de Deus desde as
primeiras páginas do Génesis até à adoração dos Magos, passando pela
aventura pessoal de Abraão, que via nas estrelas do céu a garantia
segura da promessa divina», diz o comunicado.
Galileu foi
o primeiro homem em apontar o telescópio para o céu. Desta maneira,
ampliou «os limites do conhecimento humano, obrigando-nos a ler o livro
da natureza sob uma nova luz», diz a nota de imprensa. «No começo
pensava-se que a lua era uma estrela brilhante. Pensava-se que era um
dos planetas junto ao sol. Quando Galileu apontou o telescópio para a
lua, viu uma coisa inaudita, nunca antes vista. Ele percebeu que na lua
há alguns pontos luminosos e disse: ‘A lua não é este corpo perfeito:
tem montanhas, é outra terra’», assegurou durante a colectiva de
imprensa Paolo Rossi, professor emérito de História da Ciência da
Universidade de Florença, que será um dos palestrantes do congresso que
acontecerá em Maio. Por sua parte, Dom Gianfranco Ravasi, presidente do
Conselho Pontifício para a Cultura, falou do caminho de reflexão que a
Igreja fez com o caso específico de Galileu. Referiu-se ao Concílio
Vaticano II, em cuja constituição Gaudium et spes diz que «são,
a este respeito, de deplorar certas atitudes que, por não compreender
bem o sentido da legítima autonomia da ciência, ocorreram algumas vezes
entre os próprios cristãos; atitudes que, seguidas de fortes polémicas,
induziram muitos a estabelecer uma oposição entre a ciência e a fé». Em
1616, Galileu foi processado por sustentar a teoria heliocêntrica, que
desconcertava não só os crentes, mas a sociedade em geral, que durante
séculos havia crescido em um sistema de rotação solar e planetário
diferente. A sua teoria parecia contradizer os textos da Bíblia que
falam de maneira metafórica da rotação dos astros e da quietude da
terra. Contudo, são muitas as lendas negras que surgiram a partir deste
fato. Galileu não foi preso nem torturado e tampouco foi assassinado.
Morreu de morte natural em 1642, em sua casa, uma vila em Arcetri, nos
arredores de Florença. |
José Augusto Mourão, dominicano, escritor, é professor na Universidade Nova de Lisboa, co-director do CICTSUL - Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa, presidente do ISTA - Instituto S. Tomás de Aquino, e coordenador do TriploV. |