Saramago e o rio da sua aldeia

 

Um programa de Maria Estela Guedes com realização de Sara Sousa
Na Rádio Transforma


EDIÇÂO ORIGINAL NA RÁDIO TRANSFORMA: radiotransforma.net

 

 

Pink Floyd – Wish you were here – 4:53’

https://youtu.be/IXdNnw99-Ic

Indicativo

SARA 01 Saramago e o rio da sua aldeia – um programa de Maria Estela Guedes com realização de Sara Sousa.

Carminho – O Tejo corre no Tejo – 2:40’

https://youtu.be/RIvHs_4wy1U

Sons da Natureza: Música para Relaxamento Profundo com Água Corrente e Pássaros – UM EXTRATO

https://youtu.be/BP9eV-QAsac

ESTELA, áudio – saramago_01 – Tenho ouvido queixas quanto à dificuldade de leitura de José Saramago. Em geral, nós compreendemos um texto de acordo com a quantidade de informação que detemos a propósito dele, quer como documento que apresenta dado assunto, quer como obra de arte. O texto trata de carpas e barbos, por exemplo. Quanto mais soubermos de carpas e barbos, mais fácil se tornará para nós compreender o texto. Se nada soubermos, enfim, aconselho o leitor a pesquisar no Google.

Isto para dizer que Saramago, nosso Prémio Nobel de Literatura, conquistado em 1998, escreveu livros e outros textos de estilo diverso, como se estivesse a pensar em diferentes tipos de leitores. Ou então como se escrevesse de acordo com diferentes personagens de autor: agora é o Saramago juvenil, depois o poeta, ou então o homem maduro, dedicado à causa social. Ele escreveu livros difíceis, como o Evangelho segundo Jesus Cristo, que exige cultura cristã e mais propriamente conhecimento da Bíblia, e outros muito simples e acessíveis aos leitores, como As pequenas memórias, memórias da juventude, escritas assim de um ponto de vista juvenil, adequado a um potencial núcleo de leitores jovens.

Zeca Afonso – Canção de embalar – 4:03’

https://youtu.be/h8TpRnMU09M

SARA 02 – Interessado na questão social, decerto José Saramago foi admirador e mesmo amigo de José Afonso. Se Saramago escreveu sobre a infância, Zeca Afonso cantou para as crianças, como na conhecida canção que acabámos de ouvir. “Não creio que exista no mundo um silêncio mais profundo que o silêncio da água”, escreve Saramago. Isso acontece porque o jovem pescador está muito concentrado e a água protege o peixe ameaçado silenciando o local onde ele se esconde. De resto, em todas as outras situações, a água fala, tagarela nos ribeiros, grita nos mares e cascatas, e até fala quando agitada pelas mãos das lavadeiras. A água não é silenciosa, a não ser em tempos de seca. Por isso vamos agora ouvir Dulce Pontes, na sua pessoal interpretação de Povo que lavas no rio, com música de Joaquim Campos e poemas de Pedro Homem de Mello. A canção foi celebrizada por Amália Rodrigues.

Dulce Pontes, Povo Que Lavas no Rio. – 4:46’

https://youtu.be/RA7Zp0S5Jm4

ESTELA – áudio – saramago_02

As pequenas memórias, relatos da sua vida em criança e adolescente, foram tão singelamente redigidas por Saramago que o nosso livro de hoje é para crianças. Com efeito, nem é tanto d’As pequenas memórias que vamos falar, sim de umas quantas linhas editadas como livro diferente.  As pequenas memórias que seguimos foram editadas em 2006 pela Caminho. As suas páginas 85 e 86, em formato para crianças, com belas ilustrações de Yolanda Mosquera, trazem por título O silêncio da água. Referimo-nos a uma edição de 2022 da Porto Editora e Fundação Saramago. Resumindo, O silêncio da água é um extrato de As pequenas memórias. Com duas páginas de um livro de memórias criou-se uma obra para crianças, O silêncio da água. Fantástico!

Adriano Correia de Oliveira – “Pescador do rio triste” (popular) do disco “Elegia” (EP 1968) – 2:18’

https://youtu.be/p2QsThK_aQM

SARA 03 – Muito perto do Almonda, o Tejo é outro rio das memórias de Saramago. Nem de outro modo podia ser, ele que viveu tantos anos em Lisboa. Ouviu de certeza com agrado Carlos do Carmo, admirou Adriano Correia de Oliveira, e, quem sabe?, talvez conhecesse os Jafumega.

Carlos do Carmo, Canoas no Tejo – 3:47’

https://youtu.be/cJstJUttbTs

Jafumega – Ribeira – 3:50

https://youtu.be/ljtw2TbhXzQ

ESTELA – áudio – saramago_03.

José Saramago nasceu na Azinhaga, uma aldeia junto da qual corre o rio Almonda. É um rio meio ouede, temporário, que desaparece nas secas. O Almonda fica perto do grande rio Tejo. Logo à entrada do livro O silêncio da água, o autor identifica o que afinal é a personagem central. Diz ele que tinha ido com os seus petrechos a pescar na foz do Almonda, que nessa época dava passagem para o Tejo atravessando-se uma estreita língua de areia.

O Almonda é um rio frágil, com crises de poluição devidas a vazamentos de produtos oriundos de fábricas. Em certa altura, nos anos quarenta do século passado, dada a mortandade dos peixes e decerto de outras espécies animais e vegetais que não pensamos serem necessárias, a Câmara de Torres Novas até solicitou à Estação Aquícola do Rio Ave o envio de carpas para repovoamento do Almonda. Saramago confessa, n’As Pequenas Memórias, nunca ter sido grande pescador. Na sua juventude, não abundavam no rio espécies que dessem grande satisfação aos pescadores. Apareciam apenas, vou citar, “uns poucos pampos, barbos uma raridade e pequenos”. Fiz uma pesquisa, a saber o que eram os pampos, e obtive a seguinte informação: “ICTIOLOGIA (Stromateus fiatola) peixe teleósteo, da família dos Estromateídeos, pouco frequente em Portugal, tem corpo oval e comprimido, cabeça e boca pequena e barbatana caudal bifurcada; pampo-godinho”.

Os barbos (Cyprinus barbus) e as carpas (Cyprinus carpio) são peixes de água doce. Como os nomes indicam, pertencem à mesma família, Cyprinidae. Detenho-me nestes pormenores porque Saramago presta informações com interesse científico, no caso que interessam à Ictiologia, que trata dos peixes: na sua adolescência, os pampos eram raros, os barbos, eram pequenos e raros também. Saramago não fala de carpas, hoje largamente distribuídas nos rios e albufeiras de Portugal e outros países. A introdução de carpas nem sempre obtém bons resultados.

AGIR – Manto de Água feat. Ana Moura – 4:14’

https://youtu.be/_lXAGnWI5iE

Zeca Afonso – Canto Moço (Filhos da Madrugada) – 2’

https://youtu.be/Kt4Kz1mLfRg

ESTELA – áudio – saramago_04 – “Não creio que exista no mundo um silêncio mais profundo que o silêncio da água” – escreve José Saramago. Que se passa no conto, já que em conto foi transformado o trecho d’As pequenas memórias? Bom, ele, que não era grande pescador, foi para o rio Almonda à procura de uns barbos pequenos e de uns pampas para o jantar e admiração da família, mas o que pescou foi uma lição de vida, na qual cabe essa declaração de poesia sobre o profundo silêncio da água. Silêncio que também conheceram Teresa Silva Carvalho e Fausto, a primeira a interpretar o lindo poema de Almeida Garrett, e o segundo a tão familiar canção Por esse rio acima que já estamos a ouvir.

“BARCA BELA” Teresa Silva Carvalho – 2:38’

https://youtu.be/2mGjVl70FvQ

Fausto, Por Este Rio Acima – 4:56’

https://youtu.be/vUms9ZWTWBg

 

Indicativo

SARA 04Saramago e o rio da sua aldeia – foi um programa de Maria Estela Guedes com realização de Sara Sousa.

Amália Rodrigues Povo Que Lavas No Rio – 5:05’

https://youtu.be/NMLUxxjSVMs


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8.setembro.2022