S. Ricardo Pampuri, um médico consagrado

 

AIRES GAMEIRO


  1. Um de maio é dia cheio de festas e na Madeira, mais pelo seu padroeiro S. Tiago, escolhido há 500 anos. Que ele nos livre da atual “peste” do coronavírus para que não mate 25 pessoas por dia e a diocese e cidade cumpra o voto “em cada ano deste mundo” mesmo nos de 5 de outubro e 25 de abril. Mas hoje vou apresentar outro santo. Isso mesmo, um médico do tamanho de um santo que festejamos neste dia, 1 de maio, em tempo de pandemia. Nasceu em 1897, penúltimo de 10 filhos, e faleceu em 1930 com 33 anos. Quase não teve tempo para fazer tanta coisa boa que fez. E ainda por cima, órfão de pai e mãe, desde menino. O seu Pai do Céu desde do batismo logo desde o dia seguinte ao nascimento, a 2 de agosto de 1897 deu-lhe outros pais nos tios maternos.

Tomei contato com este santo, de vida curta e cheia de maravilhas, quando era jovem Irmão de S. S. João de Deus em 1949. Já circulava, entre outras, uma biografia a ser publicada em capítulos pela revista da Ordem Hospitaleira na França, Grenade. Já se preparava o processo de beatificação, realizado a 4 de outubro de 1981, seguida da canonização em 1 de novembro de 1989.

Natural de Trivolzio, o tio pagou-lhe os estudos de Liceu e de Medicina na Universidade de Pavia, norte da Itália. Muito inteligente, foi apóstolo dos colegas no liceu e na universidade durante o curso brilhante de médico cirurgião que terminou com nota máxima em 1921. Ainda mal tinha começado o curso e logo foi alistado no serviço de saúde militar durante a Primeira Grande Guerra  a cuidar dos feridos. Na paróquia foi um animador incansável dos jovens da Ação Católica e do circulo missionário , ecorrespondia-se assiduamente com uma Irmã missionária no Egipto irradiando grande espiritualidade cristã nas cartas que chegaram até hoje.

Foi nomeado médico municipal de Morimondo (Milão) em cujas funções percorria o território a visitar doentes, muitos deles pobres, a quem muitas vezes à receita juntava dinheiro para aviar a aviar na farmácia.

Fez uma peregrinação a Paray-le-Monial e a Lurdes para discernir a sua vocação tendo-se decidido entrar numa Ordem religiosa, mas a sua admissão foi recusada por ser adoentado dos pulmões. Recorreu então à Ordem Hospitaleira, foi recebido e consagrou-se a Jesus Cristo com o seu estatuto e profissão de médico tornando-se Irmão hospitaleiro da Ordem. Não são muitos os que entram nestes negócios de deixar um emprego como o dele… A leitura de Mc. 10, 17-30, talvez ajude a perceber porquê: só depois de deixar, deixar… se pode aceitar o “ vem e segue-me”. Ele ouviu, orou muito e seguiu o seu Senhor. E de santo santificou-se mais.

Há um episódio do seu tempo de noviço que exprime bem a profundidade da sua decisão e do sentido da sua vida. Como todos os noviços limpava um corredor do hospital e um colega, médico, ao vê-lo, exclama para outro: “Olha, aquele é doutor em Medicina e anda a varrer. Certamente está maluco”. Sim, louco do amor por Deus, comentou uma religiosa que passava. E o médico repetiu: “para mim ele está tonto. Não compreendo outra coisa”. O Doutor Irmão Ricardo Pampuri, ao ouvir a lamentação do colega, só disse: “tudo aquilo que se faz por Deus é grande, seja com a vassoura seja com o diploma de médico”. Depois do noviciado trabalhou como médico  cirurgião e dentista no hospital da Ordem em Bréscia até se declarar a pneumonite que que o levou ao Pai do Céu a 1 de março de 1930. 51 anos depois já era venerado como santo nas Casas da Ordem e na igreja da sua terra natal em Trivolzio.

Hoje, em tempos de pandemia os doentes precisam de cuidados diversificados e humanizados com tantas tarefas, mesmo modestas, o Doutor Ricardo poderia ser Patrono da Polivalência e Flexibilidade Hospitaleira. Sem essas virtudes a hospitalidade de S. João de Deus perde a qualidade do serviço de proximidade e da chamada competência do coração de que nos fala o Evangelho. Do Bom Samaritano.


Funchal, 1 de maio de 2021

 Aires Gameiro