TÒNIA PASSOLA
Trad. para português de Maria Estela Guedes, a partir do castelhano
Tònia Passola (Espanha, Barcelona). Licenciada em História da Arte e catedrática de Língua e Literatura Catalãs de secundária. Publicou Cel rebel, La sensualitat del silenci, Bressol, L’horitzó que no hi és y Nua, e a antologia biliingue: “Margelle d´étoiles”, catalán-francés (” Poètes des cinq Continents”, Éditions Harmattan, Paris 2013).
Tem participado em festivais internacionais e a sua poesia tem sido incluída em antologias e revistas , traduzida para francés, italiano, romeno, inglês, castelhano, neerlandês, grego, macedónio, albanês, árabe e chinês. Em 2014 foi honrada com o prémio “Nene Terese” na cidade de Gjakova da República de Kosovo, em 2015 com o de “Alejandro el Grande” , na ilha grega de Salamina e em 2017, na Macedónia, no International Poetry Festival “Ditët e Naimit” de Tetova foi agraciada com o prémio “For the special poètic creativity” .
LISBOA
Conhecem-se as cidades com as pessoas
que amaste e ficaram por saudar,
passeando de mãos dadas com aqueles
que a teu lado quiseram caminhar.
Sim, os perfumes vivem nos miradouros
de paredes vestidas de azulejos
quando a voz da noite derrama saudade
de uns lábios quentes e apaixonados.
Se os pés cansados se sentam num banco
enquanto o sol bate as pestanas no elétrico
que sobe com calma as ruas de Lisboa,
estalam rosas de amor no sangue.
Estalam rosas. Rosas até à cidade
até à sombra amiga, a do fado, o poema
agora com Amália Rodrígues,
agora com Fernando Pessoa.
LISBOA
Les ciutats es coneixen amb la gent
que admires i mai no has saludat,
al costat de la passa solidària
d´aquells amb qui has après a caminar.
Si des dels miradors les olors viuen
en les parets vestides de rajola
quan la veu de la nit brolla saudade
d´uns llavis càlids i apassionats.
Si els peus cruixits s´asseuen en un banc
mentre el sol parpalleja en el tramvia
que puja amb calma els carrers de Lisboa,
esclaten roses d´amor a la sang.
Roses vers la ciutat, vers l´ombra amiga,
la del fado, el poema, ara amb Amàlia
Rodrigues, ara amb Fernando Pessoa.
COIMBRA
O gótico
de uma pequena
igreja
hoje,
uma taberna,
e o canto
o fado,
a enchê-la.
O canto,
o fado,
lago
de melancolia,
linguagem
inflamada,
amizade,
despedida,
ferida.
Canto,
o canto
e as suas vogais:
Coimbra tem mais encanto
na hora da despedida.
E
repetir,
repetir,
o estribilho.
Repetir
e repetir
as vozes
vogais
da alma.
Coimbra tem mais encanto
na hora da despedida.
Uma e outra vez
o estribiho,
pronúncia
da lágrima,
do sorriso.
Un disparo
no coração
homenagem,
companhia.
Coimbra tem mais encanto
na hora da despedida.
Raio
de saudade,
vida
de
cada
sílaba.
Sim,
de cada palavra,
partilhada.
Agradecimento,
à língua.
Coimbra tem mais encanto
na hora da despedida.
Recíproco
agradecimento.
Sim,
também
a ela,
língua,
lanterna
que nos guiou,
e com a qual
desejámos
e pudémos.
Língua
que nos permitiu
conversar
sem
a conhecer.
COIMBRA
El gòtic
d´una petita
església,
avui,
una taverna,
i el cant,
el fado,
omplint-la.
El cant,
el fado,
llac
de malenconia,
llenguatge
encès,
l´amistat,
el comiat,
la ferida.
Cant,
el cant
i les seves
vocals:
Coimbra tem mais encanto
na hora da despedida.
I
repetir,
repetir,
la tornada.
Repetir
i repetir
les veus
vocals
de l´ànima.
Coimbra tem mais encanto
na hora da despedida.
Una i altra vegada.
La tornada.
Pronunciació
de la llàgrima,
del somriure.
Tret
al cor,
homenatge,
companyia.
Coimbra tem mais encanto
na hora da despedida.
Raig
d´enyorament.
Vida
de
cada
síl.laba.
Sí,
de cada paraula
compartida.
Agraïment,
a la llengua.
Coimbra tem mais encanto
na hora da despedida.
Recíproc
agraïment.
Sí,
també el
d´ella,
llengua,
llanterna
que ens ha guiat,
i amb qui
hem volgut,
pogut,
parlar.
Que ens ha permès,
conversar,
sense
saber-la.
POEMA
Os momentos regressam da mão dos dias
tal como o poema surge do bosque das palavras.
A sua seiva injeta uma verdura luminosa
raiz que prende e se faz eco, semente.
Bem dentro engendra-se o grito,
quer florir e, com a voz, floresce.
POEMA
Els moments tornen de la mà dels dies
com el poema surt del bosc de les paraules.
La seva saba injecta lluminosa verdor,
rel del deixar-se endur, eco de les llavors.
Ben endins es mou el crit,
que amb la veu vol florir.
PLENILÚNIO
Ardem os tições da infância,
calor que de repente renasce,
chispa franca da juventude.
A alma, lua na escuridão do céu,
cresce no meio-dia ermo dos pântanos.
Ocultou-se nova, foi quarto-crescente,
explodindo lua cheia, agora, resplandece
até que, infinita, a obscuridade da noite
a engula, lhe devolva a pureza.
PLENILUNI
Flamegen els tions de la infantesa,
escalf que no mor, tot d´una revifa,
guspira franca de la jovenesa.
L´ànima, lluna en les negrors del cel,
creix entre l´erm migdia dels pantans.
S´ha amagat nova, ha eixit quart creixent,
s´il.lumina amb el doll de lluna plena
fins que l´ombra infinita de l´obscur
l´engoleix, li retorna la puresa.
VESTIDOS
Desejo, hoje, voltas a propor-me
que ponha outro dos teus fantásticos vestidos.
Envergo as formas da tua ânsia, que é a minha.
Sabes que me atrais, e insistes:
concertos, exposições, livros
filmes, ir ao teatro…
Juntos, perdemo-nos no céu das tuas viagens.
Os teus vestidos jamais acabam
aproximam-se de mim com jogos provocantes;
sempre novos, sempre antigos
como os dos livros que abrem os olhos;
como a voz do beijo, da traição,
que me lêem e raptam com palavras.
Já nem os dispo, fundem-se-me
na pele, desenham-se
na minha cara.
Desejo que me crias e recrias,
hoje quero voltar cedo para casa.
Filha minha é, és, também tu:
rebelião gostosa, lascas de saudade…
As vossas exigências explosivas
Derramam paisagens vivas
e esmagam-me à vez.
Continua a tentar-me!
Injeta-me a tua paixão terna!
Faz com que se abram as minhas asas!
Sem amor, não poderia respirar! Sem ti,
Desejo, seria um cadáver
sem alma!
VESTITS
Desig, avui, tornes a proposar-me
que em posi un altre dels teus fantàstics vestits.
Em vesteixo amb les formes del teu desig, que és el meu.
Ho saps, m´atreus, i tu no pares:
concerts, exposicions, llibres,
pel.lícules, anades al teatre…
Junts ens perdem pels cels dels teus viatges.
Els teus vestits mai no s´acaben,
se m´apropen amb jocs provocadors;
sempre nous, sempre antics,
com els dels llibres que obren la mirada;
com la veu del petó, de la traïció,
que em llegeixen i rapten amb paraules.
Ja ni me´ls trec,
es fonen en la meva pell,
llambregen a la meva cara.
Desig, que em crees i recrees,
avui vull tornar d´hora a casa.
La meva filla es configura també en tu:
goig de rebel.lió, estelles d´enyorança…
Les vostres explossions plenes d´exigència
escampen vius paisatges
i a la vegada, m´esclafen.
¡Continua temptant-me, doncs.
Injecta´m tendra passió!
Fes que se´m disparin les ales!
Sense amor no podria respirar.
Sense tu, esdevindria un cadàver
sense ànima.
MITOS DERRUBADOS
A condição de poeta cessa,
Quando cai o mito do homem. P.P. Pasolini
Todos os meus mitos foram derrubados,
estatelaram-se contra o vazio torpe da lembrança
no buraco magnético do sombrio absurdo,
no barranco vertiginoso do sonho.
Astronauta na pátria de ninguém
movo-me sem tubos nem comidas artificiais.
Pastilhas e sacos de plástico, ar que devoro,
não me tenteis! Não vos dais conta da minha saúde
anacrónica?
Perdurará contudo em mim algum mito,
afogado entre as rochas do pensamento?
Acaso poderei sentir, tal como a grávida sente
os pontapés do filho,
alguém a quem adorar?
Eu sou o meu ontem, a minha manhã, claustro
onde introduzir o asfalto solitário
do coração, êxtase do gemido.
MITES CAIGUTS
(Cessa, la condizione di poeta, quando
il mito degli uomini dècade…)
P.P Pasolini
Tots els meus mites han caigut,
s´han estavellat dins el buit barroer del record,
dins el forat magnetitzat del fosc absurd,
dins el barranc vertiginós del somieig.
Astronauta a la pàtria de no ningú,
camino sense tubs ni menges artificials.
¡Pastilles i bosses de plàstic, aire que devoro,
no em tempteu! No veieu la meva salut
anacrònica?
¿Resta encara algun mite dintre meu
ofegat entre els roquissars del pensament?
¿Puc percebre, talment les guitzes d´un nadó,
alguna ànima viva a qui
adorar?
Sóc el meu ahir, el meu demà, claustre
on introduir l´asfalt solitari
del cor, l´èxtasi del gemec.
NASCIMENTO
Nascer, jogo que exige
a partida com o fogo,
o ar, a terra, a água.
A jogada com a morte.
NAIXENÇA
Nèixer, joc que exigeix
la partida amb el foc,
l´aire, la terra i l´aigua.
La jugada amb la mort.
QUARTO COM BOA VISTA
Abramos os postigos, homem de instantes eternos.
Que percorram faluas as vértebras do Nilo.
Sujemos o rosto com o pó das aldeias,
Com as paredes que elevam as cores da terra.
Que nos rodeiem crianças como as pedras no rio,
as danças convertidas en braceletes de pétalas.
Alimentemos o coração com olhares de selva,
com risos de coco desejosos de compreender.
Demoremos entre as caixas de fósforos flutuantes de um vigésimo andar
entre os cláxones quentes das cidades asiáticas.
Que brilhe o sal azul em templos e colunas
e levantem as cariátides a pedra do presente!
Que jorre a água indefesa nos palácios
e miem os gatos nos seus olhos de relva.
Reine sobre telhados o universo das cúpulas
e o piar dos pássaros rompa a noite suspensa.
Que nos mirem Van Goghs, Botticellis, Rembrandts;
nos aceitem as praças, avenidas dos séculos.
Cerremos os postigos, amor que acendes o tempo:
dentro de nós há tanta paisagem
por conhecer.
HABITACIÓ AMB BONA VISTA
Obrim els porticons, home d´instants fets sempre.
Que recorrin falues les vèrtebres del Nil.
Embrutem-nos el rostre amb la pols dels poblets,
amb les parets que eleven els colors de la terra.
Que ens encerclin els nens com els palets al riu,
les danses convertides en braçalets de pètals.
Alimentem el cor de mirades de selva,
de rialles de coco amb voluntat d´entendre.
Siguem entre els llumins flotants d´un vintè pis,
entre els clàxons calents de les urbs asiàtiques.
Que brilli la sal blava en temples i columnes
i alcin les cariàtides la pedra del present!
Que l´aigua clapotegi indefensa als palaus
i miolin els gats dins els seus ulls de gespa.
Regni sobre teulats l´univers de les cúpules
i els xiscles dels ocells trenquin la nit suspesa.
Que ens esguardin Van Goghs, Botticellis, Rembrandts;
ens acceptin les places, avingudes dels segles.
Cloguem els porticons, amor que encens el temps:
dins nostre, hi ha tants paisatges per conéixer!
RITUAIS
Os rituais são a vida e a morte
dos povos, o ar que lhes abre os pulmões,
e também o que lhes infunde a dureza da pedra.
Gosto dos povoados que aprenderam
a viver sob a sua frescura.
Porém, às vezes, alguns rituais
amarram cordas ao coração
escombros, inamovíveis pesos são.
Surgem, às vezes, novos rituais
contudo eu fundo-me, con-
fundo-me com alguns mais antigos.
Eles foram gozo, amor… séculos.
Gosto deles todos, com a sua profundidade,
com as suas amplas e únicas margens,
com os longos caminhos que deixaram
as suas pegadas,
com os mares que os rodeiam, os seus silêncios,
a chuva verde, os incêndios do vento…
a sua ancestral e aguda inocência.
Amo-os com os seus sentidos mais obscuros,
com as palavras da sua terra.
RITUALS
Els rituals són la vida i la mort
dels pobles, l´aire que els obre els pulmons,
també el que els dóna duresa de pedra.
M´agraden tots els pobles que han après
de viure sota la seva frescor.
Però a vegades, alguns rituals
entortolliguen el dogal al cor,
són enderroc, immòbil baluerna.
Apareixen sovint nous rituals,
però festejo i em fonc amb els vells.
Ells han estat el goig, l´amor, els segles.
Els estimo a tots ells, amb els seus pous,
les seves amples i úniques voreres,
els llargs camins que han dut
les seves petges.
Amb els mars que els han fet, els seus silencis,
la pluja verda, els incendis del vent…
la seva aguda i antiga innocència.
Els estimo amb els seus sentits obscurs,
amb les paraules de la seva terra.
EXCREMENTOS
Como a menina índia recolhe excrementos
cozidos entre os ramos do sol
e os coloca sobre a parede enferma,
como a mulher massai enche de esterco as mãos
e entre o zumbido azul
o amassa até cobrir a sua cabana,
assim os excrementos do espírito
podem ser aproveitados
para elevar o poema
com a palavra.
EXCREMENTS
Com la nena índia agafa excrements
que s´han cuit entre les branques del sol
i els va encastant a la paret malalta,
com la dona massai s´omple les mans
de fems i enmig de la blavor brunzent
els pasta fins a cobrir la cabana,
els excrements de l´esperit
poden ser també aprofitats
per enlairar el poema
amb la paraula.
TÒNIA PASSOLA